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CASO BRUNO: Notícia ou filme de terror?


Por Joel Pires

Como bem ressaltou Geraldo Lima, hoje assistimos ao espetáculo midiático que se montou em torno do personagem Bruno, não mais visto como jogador de futebol, mas um “monstro” capaz de atrocidades. Novamente, a mídia explora a tragédia, transformando o crime hediondo em trailer de terror sob o rótulo de notícia.

Um programa semanal, conhecido como “Revista Eletrônica”, cujo nome remete ao show que se arma em torno dos acontecimentos, submeteu os telespectadores a uma sessão de horrores. O fato foi explorado em detalhes macabros numa reconstituição que causaria inveja a Alfred Hitchcock, se estivesse vivo.

A encenação, baseada na versão do menor envolvido no crime, retratou o episódio fatídico com um realismo impressionante. A narração de uma jornalista renomada conduziu quem estava do lado de cá da tela. Crianças, adolescentes, adultos e idosos foram seduzidos pelo relato macabro e pelas cenas de terror.

O cenário e a equipe de atores competentes deram mais verossimilhança ao enredo forjado. Uma música aumentava o suspense da história, provavelmente composta para integrar a “obra cinematográfica”. A penumbra, a sequência das cenas e o ângulo conferiam à reconstituição um mistério eletrizante.

Comentários da internet sobre o “filme” produzido pela “Revista Eletrônica” semanal chamam a atenção. Um deles dizia “Perfeito!”, denotando grande satisfação; o outro, “Muito bom, assim podemos ver como foi que estes bandidos fizeram com a menina, cadeia neles!”. Este último mostra a influência de outro programa sensacionalista veiculado de segunda a sexta-feira, às 6h da tarde. Na rua, o comentário é que todos estão indignados com a barbárie cometida. Muito antes da conclusão das investigações pela polícia, o jogador já foi condenado pela mídia e pela opinião pública.

Percebe-se que grande parte dos telespectadores gosta desse “estilo jornalístico” e se emociona com a superexposição do fato. O noticiário segue a mesma linha das novelas, com capítulos diários. Será que os relatos, as matérias publicadas nos mais variados veículos e a versão apresentada na reconstituição correspondem à realidade?
Eugênio Bucci, no livro Sobre Ética e Imprensa traz a seguinte reflexão: “O noticiário da atualidade constrói pequenas novelas diárias ou semanais cujos protagonistas são tipos da vida real absorvidos por uma narrativa que funciona como se fosse ficção. Programas jornalísticos na televisão desenvolvem-se como se fossem filmes”.

Dessa forma, fica evidente que a tevê transforma a notícia em espetáculo, pelo alcance que ela tem e pelo aparato cinematográfico que possui, confeccionando a realidade para apresentá-la como um show, um entretenimento para as massas.

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