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PANGEIA


* Joel Pires

Nas últimas semanas, passei por situações extremas. Alguns aborrecimentos com serviços de provedores “combo”, por exemplo, que transferem sua ligação ad infinitum e ludibriam o consumidor num imbróglio pior que roubo à luz do dia, como se nós estivéssemos cegos. Esperei uma manhã inteira pela visita técnica; e, até agora, nada. Meu telefone não funciona! Mas nossa voz possui outros canais. O que não podemos é nos calar, embora a sórdida tentativa da imperiosa dominação tecnológica e capitalista seja anestesiar consciências, impedindo a ação, ou reação necessária ao crime camuflado. E ninguém faz nada. Mas o que é absurdo, limite ou excesso para alguns pode não ser para outros. Tudo é relativo. Ou quase! Vejo a curvatura. A relatividade depende do referencial.

À parte esse contratempo, a mesma operadora proporcionou um belo documentário. Pangeia. O mundo em transformação. A verdade pode estar na beleza do movimento. Fósseis são encontrados em lugares inesperados, como vestígios de vida no deserto, ou no gelo. O que hoje parece incólume desabará inevitavelmente. Nada dura para sempre neste planeta. Ditadores são depostos pelo povo. A beleza da Grande Muralha da China ruirá. Cidades se transformarão em pedras, cascalhos, poeira. O homem retornará ao pó. O tempo é relativo, e o que se considera eterno pode ter a fragilidade de um cisco, um átimo. O continente está se desintegrando, dizem os especialistas. Vulcões podem surgir e ressurgir. Grandes colisões são possíveis. Dinossauros foram dizimados fulminantemente. Vivemos sobre escombros.

O sol se expande lentamente antes de começar a apagar; ao passo que a lua, aos poucos, se afasta. A Terra muda neste instante. Cinzas se convertem em rochas. E rochas desaparecem. No espaço, as constelações não serão as mesmas. Estrelas morrem todos os dias. Nosso planeta é uma bola de fogo fraturada. O magma vem à tona constantemente, emergindo inclusive da água. Vivemos sobre o inferno. Fissuras, grandes transformações, erupções, lavas, devastações: a crosta expande-se e a força plástica é extrapolada. O Jardim do Édem foi construído sobre o fogo.

Tudo se move, ainda que algumas pessoas congelem seus pensamentos. Experimentei a esperança e a decepção, frustração; acreditei, confiei debalde. Que palavra estranha! No vão do mundo, posiciono-me como observador no alto de uma colina, região disputada. As Colinas de Golã pertencem a quem? Somente quem está fora da confusão consegue entendê-la melhor. Como é difícil manter-se à distância. As coisas nos atraem. A vida é pegajosa. Vontade de livrar-se de tudo isso!, alguém pode pensar. No entanto, abro a geladeira e ela está lá. A bebida de cor preta, gelada: essa coisa que tem gosto de coisa. Esse império do nada! Que parece matar a sede e que mata aos poucos.

No campo semântico do fogo, a indignação é combustível e a indiferença incendeia. Todavia, a sabedoria é perceber a contradição; e a ação posterior, liberdade.
P.S.: Enquanto a hecatombe não acontece, CELEBREMOS A VIDA! Afinal:
“Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata”.

(*)Joel Pires é graduado em Letras e pós-graduado em Psicopedagogia. Estuda Psicanálise e, atualmente, cursa bacharelado em Comunicação Social, nas habilidades de Jornalismo e Publicidade. Colabora em sites especializados; é colunista do Blog e Jornal de Sobradinho - foto google images

Um comentário

Alex Ferreira disse...

Texto de espantosa perspicácia. O Joel tem evoluido muito rapidamente na arte de escrever. Cotidiano e metafísica mesclados!
Ass: Alex Ferreira.