SINAIS
Por
Geraldo Lima
Douglas levantou cedo,
ignorou o café da manhã e se pôs a esperar. Estava convicto: logo, logo
aconteceria. Seria como estava profetizado. Assim como lera no livro sagrado.
Tudo o que tinha a fazer era esperar. Crer e esperar.
Cerrou os olhos para que
os ruÃdos mais inaudÃveis pudessem penetrar-lhe os ouvidos. Era pela audição
que toda a verdade lhe seria revelada. Acreditava que, anulando um dos
sentidos, no caso a visão, aguçaria o outro.
Não lhe vinha à cabeça a necessidade de um tempo maior para que a
ausência de um sentido fizesse o outro aflorar com uma eficácia quase divina.
Os sons que lhe chegavam
da rua ou mesmo do interior da casa ou ainda do seu próprio corpo eram bastante
comuns. Por mais que tentasse ouvir neles notas dissonantes, carregadas de sentidos
mÃsticos ou de sinais não revelados, nada, absolutamente nada, ultrapassava o
banal e o cotidiano. A vida, para seu desespero, transcorria opaca e sem
mistério.
Geraldo
Lima é professor, escritor, dramaturgo e roteirista.
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