ELEIÇÕES 2014: Jovens mudam forma de participação política
Gerações
mais novas são frequentemente criticadas por manterem distância da participação
política. Mas, às vésperas de mais uma eleição para escolher presidente,
governadores, deputados e senadores, jovens ouvidos contestam o rótulo de
despolitizados. Eles definem sua relação com as questões públicas como um
envolvimento que se afastou das vias tradicionais. Na visão deles, há uma
desilusão com partidos e estruturas formais de poder, mas a juventude não está
desengajada.
A estudante
Marina Serra dos Santos, 17 anos, diz que o ativismo desvinculado de partidos
políticos é válido. A jovem, que na internet utiliza o pseudônimo Marina
Saint-Hills, marca presença nas redes sociais e mantém um blog onde compartilha
conteúdos sobre sua visão de mundo e suas experiências. Marina é favorável a
pequenas mudanças de atitude no cotidiano e destaca as ações apartidárias como
uma tendência mundial.
“Na minha
opinião, muitas pessoas não encontram representação [entre os partidos]. A
juventude acordou, quer mudanças, mas não sabe identificar o que quer que mude.
A política vai muito além do que está acontecendo na Esplanada [dos
Ministérios]. Tem a corrupção em pequena escala, o ‘jeitinho’ brasileiro. [O
apartidarismo] não é só característico das manifestações no Brasil. O Occupy
[movimento Occupy Wall Street, iniciado nos Estados Unidos, contrário às
distorções sociais, ganância e corrupção] era assim. A gente viu em junho
[durante as manifestações] que não era só política [tradicional]. Tinha
movimento LGBT [lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros e
transexuais] e muitos outros”, comenta.
O estudante
João Felipe Amaral Bobroff, 17 anos, presidente do grêmio estudantil da escola
em que estuda, também acredita que a participação política ultrapassa os
partidos e o comparecimento às urnas. “A juventude é politizada, mas
apartidária. Política não é só partido. Temos um sistema eleitoral que só dá
espaço para quem entra com muito dinheiro. Não é doação, é financiamento [de
campanha]”, critica. Para João Felipe, as manifestações de junho reuniram
“pessoas defendendo ideais”. “É isso que está faltando, e também viver esses
ideais no dia a dia”, defende.
A estudante
Isabela Albuquerque, 16 anos, acredita que há um fosso entre as gerações atuais
e os partidos políticos brasileiros, muitos dos quais perderam suas
características originais. Entre elas, por exemplo, a polarização para esquerda
ou direita do espectro político. “A gente não viu esses partidos nascerem e
hoje são tantos que a gente tem dificuldade de saber de que lado eles estão.
Muitos da nossa geração acreditam pouco justamente por causa disso, do número
de partidos, das alianças feitas”, avalia.
Apesar do
desencanto com a política institucional e de o voto ser facultativo para eles,
Marina, João Felipe e Isabela não abrirão mão de participar dessas eleições.
“Quero ter voz, me manifestar”, diz Marina, que é contra a obrigatoriedade do
voto. “A pessoa é obrigada a votar sem estar preparada”, acredita. Segundo João
Felipe, o título de eleitor foi seu presente de aniversário. “Sempre falei para
minha mãe que queria. Falar contra o governo, se você não faz a diferença nas
urnas, não faz sentido”, comenta. Isabela também fez questão de garantir o
documento. “Sempre me interessei por política e vinha prestando atenção,
pesquisando os políticos em quem poderia votar”, conta.
Na visão do
cientista político Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), a
dinâmica do envolvimento de jovens como Marina, Isabela e João Felipe com as
causas públicas é um fenômeno recente, que precisa ser acompanhado. “[Nos
movimentos de junho] a maioria [dos manifestantes] era jovem, mas desvinculada
de interesses partidários. O jovem [dos dias atuais] é muito crítico, mas não
está se envolvendo partidariamente. [Esse movimento] Precisa ser mais bem
analisado”, avalia Testa.
Para ele, os
jovens ainda precisam encontrar um foco. “[A atitude deles] não é propositiva,
é só critica. Querem mudança, mas não sabem como buscar, pois não querem usar a
estrutura partidária. Mas, a não ser que haja uma reforma estrutural no sistema
político, não há outra forma [de implementar mudanças] a não ser estar
vinculado aos partidos”, pondera.
Segundo
dados divulgados no fim de julho pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 1,638
milhão de eleitores tem 16 e 17 anos, o equivalente a 23,8% da população nessa
faixa etária. A proporção é a menor dos três últimos pleitos federais. Em 2002,
esse percentual alcançava 28,7%. Nas eleições de 2006, foi 36,9%. No pleito de
2010, ficou em 34,8%.
Segundo o
tribunal, a queda é parcialmente atribuída a uma mudança na metodologia de
contagem. Em 2014, foi computada a idade que os jovens terão em outubro. Em
anos anteriores, o número era consolidado levando-se em conta as informações
até 30 de junho.
O TSE também
associa a redução do eleitorado jovem à tendência de queda dessa faixa da
população de maneira geral. Segundo cálculos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o número de jovens de 16 e 17 anos tem
diminuído desde o pleito federal de 2002.
De acordo
com Luciano Gonçalves, pesquisador do IBGE, o fenômeno tende a se aprofundar à
medida que os nascidos depois dos anos 2000 atinjam idade para exercer o voto.
“A taxa de fecundidade vem caindo no Brasil. Em 1990, era 3,1 filhos por
mulher. Em 2000, era 2,39. Em 2010, chegou a 1,87, abaixo do índice de
reposição da população, que é 2,1 filhos por mulher”, destaca.
Fonte: Mariana Branco/Agência Brasil
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