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COLUNA TEXTOS & TEXTOS: SECA ETERNA




Por Geraldo Lima

No momento em que escrevo esta crônica (e, ao lê-la, talvez já não esteja assim, caro leitor e cara leitora), a sensação é de que estou me derretendo  – um picolé humano em franco processo de decomposição. Já tomei uma ducha fria, mas nem assim o calor arrefece. Lá fora, o mundo virou um forno solar, e, andar por aí, a esta hora do dia, é passar pela mesma experiência trágica do frango ao ser assado. Sensação térmica de quarenta graus. Ou mais! O calor parece vir de dentro, através dos poros. Estou tentando raciocinar direito, de maneira linear, mas essa temperatura acima do tolerável faz minhas ideias ziguezaguearem no papel. Vai assim mesmo, aos atropelos. Meus neurônios já devem estar calcinados, e não me parece sensato tentar extrair algo consistente deles agora. Mas teimo em escrever, movido pelo espírito de que ao artista cabe dar testemunho da vida, seja no paraíso ou no inferno.

Tenho a impressão de que nunca vivemos uma época do ano tão quente como esta. E olhem que é ainda primavera – sem chuva, o que é de se estranhar e temer. Segundo a NASA, este é o ano mais quente da história. Se houver quebra de recorde, podemos dar adeus a este mundo: a Terra vai virar, literalmente, uma bola de fogo. Digo isso porque, segundo as profecias bíblicas, a Terra será destruída pelo fogo. Procuro passar longe da superstição e da religiosidade extrema, mas, do jeito que as coisas estão acontecendo, começo a rever meus conceitos.

Pagamos um alto preço, nesta época, por vivermos no Distrito Federal: além do calor, enfrentamos a secura provocada pela baixa umidade. Somos seres talhados para os extremos, preparados para viver no deserto, beduínos-candangos – talvez isso nos console. Ou não. Para os que sofrem de alguma das “ites” da vida, isso não soa nem um pouco engraçado. Eu mesmo enfrento um perrengue com uma sinusite há anos e passo maus bocados neste período. Se a chuva não chegar logo, trazendo umidade e leveza para nossas vidas, não sei o que será de nós. Heroísmo tem limite. Voltemos aos rios, aos lagos, aos oceanos. A vida surgiu aí, foi o que disse o filósofo grego Anaximandro de Mileto (610-546 a.C). Sei que as ideias dele podem estar ultrapassadas, mas é o que de mais atraente e refrescante me vem à mente agora sob esse calor infernal.


(*) Geraldo Lima é professor, escritor, dramaturgo, roteirista e colabora com o Jornal de Sobradinho. Blog: www.baque-blogdogeraldolima.blogspot.com.br

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