Moradores de Sobradinho se unem contra abrigo para menor infrator
Muitos estão
revoltados, pois alegam que a instalação cessará a liberdade que possuem e não
poderão mais ficar na porta de casa para conversar nem as crianças não poderão
mais brincar
(*) Ingrid Soares
Moradores da
Quadra 2 de Sobradinho I têm reclamado sobre a possível mudança de uma casa de
passagem para menores infratores e adultos da Quadra 13 para a região. Muitos
estão revoltados, pois alegam que a instalação cessará a liberdade que possuem
e não poderão mais ficar na porta de casa para conversar nem as crianças não
poderão mais brincar.
A
preocupação maior dos moradores é a de que a mudança atraia desordem. Eles
protocolaram, ontem, junto à administração, um pedido de reunião e levaram um
abaixo-assinado com 300 assinaturas. A maioria defende que o abrigo deveria ser
implementado em áreas rurais, mais afastadas da cidade.
O aposentado
Hermes Ferreira de Sousa, 66 anos, afirma não confiar no trabalho oferecido
pela instituição: “Nos sentimos inseguros porque não temos boas referências.
Conversamos com os moradores da outra quadra e eles relataram experiências
ruins. Não queremos que venha para cá”, disse.
O morador
Daniel Belota Pinheiro, 37 anos, tem três filhos e conta que a casa que será
utilizada pelo abrigo passa por reforma. Para ele, a quadra é um local
tranquilo e de boa vizinhança: “Todo mundo se conhece e cuidamos uns dos outros
como uma família. Não queremos mandar na rua, mas ao menos eles têm que ter um
controle de quem entra e ver se são pessoas de bem”.
Desconfiança
Gisleine
Lira de Oliveira, 47 anos, cuida do pai idoso, com Alzheimer. Ela conta que se
preocupa porque ele tem crises de esquecimento, entra na casa dos vizinhos achando
que é a sua, oferece café para desconhecidos e os convida para entrar. “Não é
discriminação. Achamos importante ajudar o próximo. Mas ficamos com o pé atrás,
pois não sabemos a procedência dessas pessoas”, argumenta.
Fundada há
dez anos, em 2013, a Casa Santo André foi convidada a executar o programa
Cidade Acolhedora, em convênio com o GDF. Por meio do serviço, a instituição
orienta e acompanha famílias e indivíduos em situação de rua, oferece
reinserção familiar e trabalhista e retorno ao estado de origem. A entidade tem
várias unidades no DF, como em Sobradinho, Ceilândia e Gama.
Abordagem e
triagem
Auxiliar
administrativo da Casa Santo André, Reginaldo dos Reis explica que a
instituição aborda as pessoas em Kombis e oferece moradia, alimentação,
atendimento médico e odontológico. Ele diz que, ao aceitar, a pessoa passa por
uma triagem feita por psicólogos e assistentes sociais e é encaminhada a uma
das unidades.
Reginaldo
revela que muitos acolhidos demonstram desejo de mudança e permanecem por até
90 dias até poderem se rearranjar. A casa também ajuda na obtenção de novos
documentos.
A equipe
também conta com psicólogo, assistente social, cozinheira, auxiliar de cozinha
e dez orientadores sociais. Apesar de não ter uma data definida para a mudança,
o local não atende a demanda. Com a fusão das duas casas, o serviço será
agilizado e, ao todo, serão 50 acolhidos com acompanhamento 24 horas por dia.
Reginaldo
conta que, em momentos de mudança como esse, sempre há um choque inicial.
“Contamos com a colaboração de todos para realocarmos essas pessoas na
sociedade. A área alugada é maior e o conforto também. Deixem de pensar que
trabalhamos com ladrões e drogados. Temos muitas histórias de sucesso. Venham e
procurem conhecer o nosso trabalho”, pede.
Para ele,
por se tratar de uma casa de passagem, ela deve estar inserida na sociedade,
pois necessita de serviços básicos, como transporte, saúde e educação.
Secretaria
Segundo a
assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social
(Sedhs), a mudança de local se deve ao novo endereço ser mais adequado para o
serviço. “O objetivo é promover, de forma qualificada e personalizada, a
construção conjunta com o usuário do seu processo de saída das ruas, com
dignidade e respeito.”
(*) Fonte: Ingrid Soares / Jornal de
Brasília
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