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Centro de Iniciação Desportiva de Sobradinho é palco de talentos



Atletas de sucesso que já passaram pelo projeto da SEDF servem como inspiração para alunos da rede pública


(*) Elton Pacheco


Todos os dias, o Estádio Augustinho Lima, em Sobradinho, é o destino de dezenas de jovens estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal. Lá, funciona um dos centros de iniciação desportiva do DF, os chamados CIDs, criados pelo governo local para incentivar a prática do esporte e a formação de futuros atletas. Na pista de atletismo do estádio já correram nomes hoje famosos, como o recordista sulamericano no atletistmo, Hudson de Souza, e a ex-maratonista, também recordista brasileira, Carmem de Oliveira e, mais recentemente, Caio Sena, medalha de bronze na marcha atlética no Pan de Toronto. Mas o desafio diário é identificar novos destaques. E essa tarefa passa primeiro pela sala de aula.


“O professor tem ferramentas para identificar talentos, a partir da afinidade e resultados de determinado aluno. Como parte do currículo escolar, ele pode motivar esse aluno a participar de umas das atividades dos CIDs”, diz Venus Aragão, coordenadora de Educação Física e Desporto Escolar, da Secretaria de Educação, acrescentando que esses centros funcionam em 14 cidades do DF e, em alguns casos, utilizam estrutura de ginásios e estádios locais, como acontece em Sobradinho. Hoje, aproximadamente 9 mil alunos estão matriculados em 17 modalidades esportivas, que vão do atletismo ao handebol, passando pela ginástica rítmica à capoeira.


Segundo a coordenadora, o aluno envolvido em atividades esportivas desenvolve valores e atitudes que são bastante positivas como a disciplina, o cuidado com o corpo, o respeito aos colegas, a ética, entre outros. “Nossa experiência demonstra que tudo isso acaba contribuindo para o seu desempenho não apenas em quadra, mas também em sala de aula”, acredita. Quem atesta diariamente esses benefícios são os próprios professores, como Sílvia Maria Gomes que, mesmo aposentada da sala de aula, ainda, atua como voluntária no projeto que viu nascer. Como ela, 113 professores acompanham esses jovens em todo o Distrito Federal.

  
Ao longo dos anos, Sílvia viu passar por suas aulas estudantes talentosos, como o próprio Hudson de Souza. “Quando o vi indo longe, meus olhos brilharam. Fiz a minha obrigação, apenas o que eu deveria fazer, que foi encaminhá-lo para quem devia. Ainda hoje esse é o meu lema, poder contribuir com a formação e o futuro desses meninos. O educador precisa estar atento a tudo isso”, diz. Para ela, a escola é um celeiro de talentos. “Eles estão aqui. Se o esporte, como instrumento da educação funcionar como deveria, teremos mais exemplos como o de Caio e Hudson identificados”, diz, apontando para um grupo de jovens que treinava no local.
  

Caso da aluna do 1° ano do Centro de Ensino Médio 1, Larissa do Livramento, que ainda recuperava o fôlego para contar que pratica atletismo no estádio há três anos – atualmente ela tem 16. Foi levada por uma professora que identificou sua aptidão para o esporte. “No primeiro dia, eu dei um tiro de 200 metros em 30 segundos. Acho que isso pode ter chamado atenção”, lembra a jovem, que quer ser atleta e se inspira em que já passou por ali. Hoje universitário, Diego Pereira, de 28 anos, trabalha como monitor do CID Sobradinho, mas já esteve do lado de lá. Há dez anos, ainda aluno da rede pública, foi desafiado por um antigo professor do Centro de Ensino Médio 6 da cidade. Ele ganharia um tênis caso corresse 1000 metros em 2 minutos e 50 segundos. Não deu. Diego não levou o calçado para casa, mas também nunca mais saiu do estádio. “Todo mundo é capaz e pode conquistar o que quiser, caso tenha foco e dedicação”, diz ele.


Para a professora Sílvia, o CID é um ponto de referência para esses meninos. A voz calma esconde uma postura técnica forte. “Eu dizia assim, 'você não é obrigado a fazer esporte, mas vale nota do bimestre' e o que tem de ex-aluno hoje que se tornou professor de educação física não é brincadeira”, diverte-se. Outros viraram atletas. Quando Sílvia levou Hudson ao CID foi para treinar salto olímpico. Mas logo depois o rapaz franzino, de pernas longas, foi descoberto por João Sena, outro professor da rede aposentado, que hoje também atua como voluntário no CID Sobradinho. Sena é pai de Caio, talento que reconheceu em casa. Mas  também pode ser considerado pai de vários outros meninos e meninas que ali passaram, como Hudson e Carmem de Oliveira.


“Antes mesmo de acreditar que eu era capaz de correr e fazer uma carreira, o Sena foi quem acreditou em mim. Ele é como um pai desses meninos. Tem tudo para continuar saindo daqui novos talentos”, diz Hudson, pouco antes de entrar no Agustinho Lima, estádio onde começou. Hoje, fora das pistas e formado em educação física, o ex-atleta pesquisa justamente qual a influência das escolas em jovens estudantes que praticam o atletismo.


Hudson quer que haja mais incentivo. Para o ex-atleta, só assim a lista com nomes de atletas de Brasília vai aumentar. “Heroneides, Valdenor, Clodoaldo, Marilson, Lucelia, Carmem, Hudson são apenas alguns nomes, mas há vários outros em sala de aula, e as vezes fora delas, que precisamos identificar e acreditar, como um dia fizeram comigo”.


As atividades no CID são gratuitas e exclusivas para os alunos da rede pública de ensino e realizadas em turno contrário aos das aulas regulares.



(*) Fonte: Elton Pacheco -  Fotos: Tiago Oliveira - Ascom/SEDF

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