COLUNA: TEXTOS & TEXTOS
DONA DE SI
(*) Por Geraldo lima
Era uma mulher livre – no sentido pleno da palavra.
Ele a conheceu assim, um horizonte amplo e indefinido. Ainda
que o amasse, não conhecia fronteiras nem amarras. Era uma dessas capazes de
nos fazer sofrer mesmo em pleno gozo, tal a sensação de fluidez do seu espÃrito
e o estado sempre movediço do seu corpo. Um corpo que, estando em nossos
braços, já escorregava para outro plano, outros desvãos de desejos e sonhos.
– Morri no dia em que ela me deixou – ele me revela com a voz
ainda doente, cravada de pus e dor. Essa sua voz sem cura reverbera em minha
pele e atravessa minha mente de ponta a ponta.
Dela, ele se recorda principalmente do cheiro de carne e de
alma em brasa. Isso que, para ele, é uma incisão profunda na memória, como
essas que o vento, ao longo de séculos, milênios, inscreve nas rochas.
(*) Geraldo Lima é escritor, dramaturgo, roteirista e colabora
com o Jornal de Sobradinho.
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