SAÚDE: Maioria dos atendimentos em pronto-socorro não é de emergência
Dados dos maiores hospitais do DF apontam que muitos dos pacientes
poderiam ser atendidos em consultas regulares
Dados de atendimento no pronto-socorro dos maiores hospitais públicos do
Distrito Federal apontam que a maioria dos pacientes está ali para tentar resolver
problemas que poderiam ser solucionados em centros de saúde. O resultado não é
diferente do restante do país. De acordo com a Associação Brasileira de
Medicina de Emergência (Abramede), 60% dos casos que chegam à emergência
poderiam ser resolvidos em consultas de rotina, considerando-se informações
tanto da rede pública quanto da privada.
Somente no Hospital Regional de Ceilândia, em 2014, 150 mil atendimentos
na emergência foram de pacientes classificados como verde, ou seja, sem
gravidade, contra 606 identificados com a pulseira vermelha, quando necessitam
de atendimento urgente. No Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), em
maio, o número de pacientes classificados como verde e azul ultrapassou o de
vermelho, amarelo e laranja juntos: 2.425 contra 2.304.
“Há anos as pessoas vão às unidades básicas de saúde e não conseguem
atendimento. Com isso, foram sendo incorretamente educadas a procurar
imediatamente a emergência por qualquer que seja o problema”, lembrou o
subsecretário de Atenção Primária à Saúde, Berardo Nunan.
O relato é compartilhado com o presidente da Associação Brasileira de
Medicina de Emergência, Frederico Arnaud. “O sistema primário e secundário
geralmente não funcionam. Assim, sobra uma alternativa onde na maioria das vezes,
de uma forma ou de outra, pode encontrar atendimento: a emergência”, observa.
SOLUÇÃO – Caso todos os pacientes classificados como verde, azul e até
mesmo alguns amarelo buscassem atendimento em postos e centros de saúde, as
emergências dos hospitais ficariam menos lotadas. Porém, para isso, é
necessário reforço na atenção primária para que todas as pessoas consigam
resolver seus problemas antes de ir ao pronto-socorro.
“Parte do problema se deve à uma baixa cobertura do serviço de atenção
primária, que não é suficiente para atender à demanda do DF e a que recebemos
da Região Integrada de Desenvolvimento Econômico, que são os municípios do
entorno”, explica Berardo Nunan. No ano passado, somente nas emergências
públicas do DF, cerca de 400 mil pacientes atendidos eram de outros estados, a
maioria de Goiás e Minas Gerais.
Algumas soluções estão sendo colocadas em pauta pela nova gestão da
Saúde no DF. A principal meta é aumentar a cobertura da atenção básica de 27%
para 80%. Antes que essa meta seja alcançada, outras medidas têm sido adotadas
pela secretaria. “Queremos implantar a agenda aberta. Para isso, os centros de
saúde precisam estar todos informatizados e já começamos a fazer isso. Estamos
distribuindo 2,5 mil computadores para os postos”, diz o secretário de Saúde,
Fábio Gondim. Além disso, segundo o secretário, há a intenção de estender o
horário de atendimento dos centros de saúde, para que funcionem após as 18h.
“Uma atenção primária bem equipada é totalmente capaz de fazer o
primeiro atendimento até mesmo de pacientes graves, antes de encaminhá-lo à uma
emergência”, destacou Berardo Nunan, completando que ampliar a cobertura é
aumentar a sensação das pessoas de que também é responsável pela saúde.
A proposta do governo de Brasília é que sejam construídas 138 unidades
básicas de saúde. Outras já existentes serão revitalizadas. Para isso, serão
contratados servidores para constituir equipes de saúde da família, compostas
por um médico da família, um enfermeiro, dois técnicos de enfermagem, cinco
agentes comunitários, um cirurgião dentista e um técnico em saúde bucal.
É EMERGÊNCIA? – O pronto-socorro deve ser um local para atender
pacientes que, de fato, estejam com risco eminente de morte. Geralmente,
acidentados, suspeitas de infarto, derrame, apendicite, pneumonia, fraturas,
entre outras coisas.
Se o que a pessoas estiver sentindo não se enquadrar em nenhum desses
casos, é possível agendar uma consulta ambulatorial em um centro de saúde
próximo de casa. O médico será capaz de identificar a necessidade de
encaminhamento para um atendimento mais especializado.
Nos postos de saúde são feitas consultas regulares, tratamento
odontológico, exames laboratoriais e aplicação de vacinas.
CLASSIFICAÇÃO DE RISCO – A Secretaria de Saúde do Distrito Federal usa o
Protocolo de Manchester de Classificação de Risco desde 2012. Esse sistema
prioriza o atendimento pela gravidade do caso e não pela idade ou ordem de
chegada. O objetivo é acolher o paciente, avaliar a sua necessidade clínica
para atender de acordo com a urgência.
Essa avaliação é sinalizada com as pulseiras nas cores vermelha
(emergência); laranja (muito urgente); amarela (urgente); verde (pouco urgente)
e azul (não urgente).
ATENDIMENTOS EM HOSPITAIS
JUNHO DE 2015
Hospital Regional da Asa Norte - HRAN
Vermelho: 27
Laranja: 1.061
Amarelo: 1.624
Verde: 872
Azul: 65
Hospital Materno Infantil de Brasília - HMIB
Vermelho: 16
Laranja: 321
Amarelo: 1.073
Verde: 2.085
Azul: 49
Hospital de Base do Distrito Federal - HBDF
Vermelho: 73
Laranja: 1.731
Amarelo: 3.550
Verde: 3.913
Azul: 171
Hospital Regional de Taguatinga - HRT
Vermelho: 15
Laranja: 753
Amarelo: 1.721
Verde: 3.459
Azul: 229
Maioria dos atendimentos em pronto-socorro não é de emergência
Fonte: Secretaria de Estado de Saúde do DF
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