Idosos são acolhidos gratuitamente no DF
Governo tem
convênios com instituições sociais para amparar aqueles em situação de
vulnerabilidade
(*) Jade
Abreu
Eles chegam
à porta com a mala na mão e o olhar curioso. Muitos temem o abandono familiar e
o esquecimento social. Nesta quinta-feira, 1º de outubro, é comemorado o dia
deles. Mas já não ligam para presentes. Na verdade, ficaram presos no passado e
suspeitam de um futuro. "Sinto falta de sair e explorar as cidades",
diz Domingas Alves (foto), de 79 anos, uma das moradoras do Lar dos Velhinhos
Bezerra de Menezes, em Sobradinho. O espaço tem convênio com o governo de
Brasília, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, e abriga
64 idosos de forma gratuita.
A empregada
doméstica aposentada conta que gostava de se aventurar pelas regiões
administrativas para conhecer melhor a capital. "Acho que só não fui a
Samambaia." Maranhense, veio tentar uma vida melhor no Planalto Central.
Trabalhou 33 anos na casa de uma família. Não teve filhos, mas viu as filhas da
patroa crescerem e as tratou como parentes. "Quando cheguei, eram duas
meninas; hoje são quatro. Gosto muito delas. É comum me visitarem. Elas me
levam para almoçar aos domingos, e a gente conversa."
Ao contrário
de Domingas, a também moradora do lar Faraíldes Maria da Silva, de 78 anos,
teve filhos. E muitos: dez biológicos e quatro de criação. Segundo ela, no
entanto, as visitas são raras. A aposentada conta ainda que não queria ir para
o local, onde já está há uma década. Apesar disso, diz amar o espaço e se
orgulhar das amizades feitas. "Todos são meus amigos", afirma a
baiana, que chegou ao DF na década de 1960.
Lar dos
Velhinhos
A unidade
onde Domingas e Faraíldes vivem funciona desde 1988, tem capacidade para 70
pessoas e é mantida pela associação sem fins lucrativos Obras Assistenciais
Bezerra de Menezes. As despesas são pagas por meio de convênio com o governo de
Brasília, que investe R$ 144.080,30 mensais e R$ 1.728.963,30 por ano, e de
doações em dinheiro e em objetos para o bazar. Apesar de voltado principalmente
aos idosos, o lar também atende jovens em processo de ressocialização.
Há serviços de musicoterapia, terapia ocupacional, podologia, enfermagem, acompanhamento nutricional e psicológico, entre outros. "Em alguns casos, o idoso era morador de rua, sofria maus-tratos. A gente quer oferecer a eles uma vida confortável", explica a gerente de comunicação do Lar dos Velhinhos, Maíra Alves Miranda.
Também são realizadas oficinas de reciclagem, nas quais moradores do lar e voluntários confeccionam agendas, cadernos e outros objetos. O dinheiro da venda desses produtos é outra importante fonte de renda para o desenvolvimento do projeto. Uma quantia é entregue diretamente aos idosos, para que eles tenham liberdade para escolher o que comprar. "Outra parte ajuda a cobrir os gastos. É como uma casa, mas com um 'montão' de gente", compara Maíra.
Antes de um
idoso ser encaminhado a uma das unidades de acolhimento, equipes do Creas
verificam se a família não tem como cuidar do parente e se ele está em situação
de vulnerabilidade, sem a possibilidade de sustento próprio.
Mais parcerias
Além da Obras Assistenciais Bezerra de Menezes, outros três centros de acolhimento institucional para idosos têm convênio com o governo de Brasília. A Associação São Vicente de Paulo, em Taguatinga, atende 30 idosas e desenvolve trabalhos de terapia ocupacional. Ali, são investidos R$ 61.506,55 por mês, o equivalente a R$ 738.078,60 em um ano.
O Lar São
José da Casa do Candango, em Sobradinho, também tem convênio com a Secretaria
de Desenvolvimento Humano e Social. Para que a instituição acolha gratuitamente
45 pessoas, o Executivo arca com R$ 89.717,25 ao mês e R$ 1.076.607 por ano.
Outro
parceiro da pasta é o Instituto Integridade, que abriga 84 idosos no Park Way.
O investimento é de R$ 171.201,31 mensais e R$ 2.054.415,72 por ano.
Há ainda
colaboração com dois centros de convivência particulares — a Associação dos
Idosos de Taguatinga e a Obra Social Santa Isabel na Asa Sul —, que dão
estrutura gratuita para o idoso passar as tardes, mas não funcionam como
acolhimento. A instituição de Taguatinga atende 100 pessoas, com o custo de R$
32.657 por mês e R$ 391.884 ao ano. A Obra Social Santa Isabel cuida de 240
idosos por R$ 78.376,80 por mês e R$ 940.521,60 anuais.
O governo
também oferece o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos para a
população idosa em 17 Centros de Convivência e nos Centros de Referência de
Assistência Social (Cras).
Os custos
são determinados de acordo com a Portaria nº 38, de 2014, que estabelece o
valor fixo de RS 1.767,71 e R$ 2.106,72 por idoso independente e dependente
(que precisa de assistência constante), respectivamente. Somente após o
cálculo, os recursos são repassados às entidades.
De acordo
com a secretaria, os idosos são direcionados para as unidades, na maioria das
vezes, após indicação do Centro de Referência Especializado de Assistência
Social (Creas). Eles também podem ser encaminhados pela Justiça após
constatação de maus-tratos.
A gerente de
Acolhimento para Adultos e Famílias, da Secretaria de Desenvolvimento Humano,
Renata Baeta, informa que a recomendação para que um idoso seja encaminhado ao
local de acolhimento é a última medida. Antes, equipes do Creas verificam se a
família não tem como cuidar do parente e se ele está em situação de
vulnerabilidade, sem a possibilidade de sustento próprio. Para ser considerada
um idoso nessa condição, a pessoa passa por exames psicológicos e
acompanhamento técnico. De acordo com a pasta, há 98 na fila de espera. "A
gente tem consciência de que são poucas vagas, mas uma das prioridades é
aumentar o número de instituições conveniadas", afirma Renata.
Maus-tratos
A cada
quatro horas, uma denúncia de maus-tratos a idosos ocorre em Brasília. Segundo
dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, pelo menos
1.764 reclamações desse tipo foram feitas no primeiro semestre deste ano. A
Central Judicial do Idoso, do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios
(TJDFT), registrou 761 denúncias até a terça-feira (29) desta semana. Entre
elas, 332 correspondem a maus-tratos — em média, uma por dia. Segundo a
central, em pelo menos 59,34% dos casos, o agressor é o filho.
O principal
tipo de crime registrado é o de violência financeira, quando existe a
apropriação indevida do dinheiro da vítima: 124 denúncias (26,67%). Em seguida
vêm a violência psicológica, com 122 denúncias (26,24%); a física, com 91
(19,57%); e a institucional — quando o idoso é tratado com rispidez, falta de
atenção e maus-tratos em instituições públicas ou privadas —, com 58 (12,47%).
Na sequência, as denúncias mais registradas são de negligência (quando os
cuidados são negados), com 39 casos (8,39%), de abandono (quando o idoso já não
tem quem cuide dele), com 29 (6,24%), e de violência sexual, com dois casos
(0,43%).
A ouvidora
Nacional dos Direitos Humanos, Irina Bacci, diz que os números preocupam, mas
que o aumento na quantidade de denúncias não quer dizer necessariamente
intensificação da violência. "Isso significa que as pessoas denunciam
mais, que elas apontam as violações", explica.
Onde
denunciar
Ouvidoria da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: pelo telefone
Disque 100. Disponível 24 horas por dia. Ligação gratuita.
Central
Judicial do Idoso (TJDFT): presencialmente, das 12 às 18 horas, no Fórum de
Brasília (Bloco B, 4º andar). Não recebe denúncias anônimas.
Polícia
Civil do DF: as delegacias registram boletins de ocorrência, inclusive
anônimos.
Contatos
para doação e trabalho voluntário
Associação
São Vicente de Paulo: 3352-6202
Casa do
Candango: 3591-1051
Instituto
Integridade: 3552-0504/3552-0872
Lar dos
Velhinhos Bezerra Menezes: 3591-3039
(*) Jade
Abreu, da Agência Brasília
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