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Quase metade dos homens com câncer avançado de próstata desconhecem ter a doença



Campanha Novembro Azul serve para conscientizar sobre a necessidade de diagnóstico precoce


(*) Eugenio Goussinsky

Diagnóstico precoce possibilita a cura na maioria dos casos

Um dos perigos do câncer de próstata é o fato dele ser assintomático. Muitos homens, enquanto envelhecem, prosseguem em sua rotina diária, sem se darem conta de que cuidados que a idade exige precisam ser tomados. Na maioria das vezes, essa doença imperceptível, que pede apenas um pouco de atenção, pode ser contida quando está no início. Antes de ser tornar de alto risco.

Se o diagnóstico acontecer a tempo, por meio de exames, a chance de cura é grande. Mas pesquisa divulgada em 2015 pela IPCC (Coalizão Internacional para o Câncer de Próstata) revela que 47% dos homens com câncer de próstata em estágio avançado desconhecem que tenham a doença.

Por causa da necessidade de conscientização, a ONG Lado a Lado pela Vida e a Sociedade Brasileira de Urologia organizam, há quatro anos, o Novembro Azul, um mês de atividades que têm por objetivo mostrar os perigos de um diagnóstico tardio da doença. No dia 17 do mês é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata.

De acordo com o presidente da sociedade, em São Paulo, Roni Fernandes, as possibilidades já chegam a 96% de cura se a doença, exclusivamente dos homens, for detectada em seu início.

—Trata-se de um tumor muito curável quando o diagnóstico é precoce. Quando não é precoce, existe uma série de tratamentos para controle, mas não se cura mais, o câncer sai do grupo de cura para o de controle.


Em 2012, no Brasil, o câncer de próstata matou cerca de 13 mil pessoas, segundo o Instituto Nacional do Câncer. É o segundo tipo de câncer que mais atinge os homens: a cada ano, cerca de 69 mil brasileiros passam a ter a doença, uma enfermidade típica do envelhecimento, por ser causada em grande parte pelo desequilíbrio de hormônios como a testosterona, tão atuantes na juventude. E é bem diferente da hiperplasia da próstata, doença que não é considerada câncer.

O diretor de Urologia do Hospital AC Camargo, em São Paulo, Gustavo Cardoso Guimarães, afirma que, dos pacientes que tiverem o câncer de próstata, considerados jovens, em cerca de dois terços ela será de risco intermediário a alto risco de morte.

A recomendação, portanto, é que os homens com histórico familiar façam os exames com uma idade entre 45 e 50 anos. O mesmo período é recomendado para os homens negros, também mais propensos a terem essa doença. Já os que não estiverem nesses grupos de risco, podem fazer com uma idade entre 50 e 55 anos. São dois os testes mais comuns: o toque retal, feito pelas mãos do urologista, e o PSA, enzima da próstata que pode apontar alguma alteração, por meio de exame de sangue.

Exame simples

Há ainda, de acordo com o urologista, diagnóstico que também pode ser obtido com um exame de ressonância nuclear magnética, propício para alguns casos. Muitos evitam o teste por causa do preconceito de se verem em uma situação de intimidade diante do urologista. Mas isso pode ser muito prejudicial. Guimarães explica que o temor dos homens de realizar o exame de toque precisa ser superado. E pode ser feito sem dificuldades.

—É um exame muito simples, que leva segundos para ser feito. Do mesmo jeito que a tireoide é facilmente palpável no pescoço, a próstata é palpável por via transretal. Os dois testes (PSA e toque), sozinhos, têm chance de acerto de apenas 30% a 40%. Já com a realização dos dois testes a chance de acerto aumenta para entre 70% e 80%.

Caso a doença já não esteja em estado inicial, o urologista irá avaliar o grau de agressividade do tumor, para iniciar um tratamento, conforme afirma Guimarães. Em um paciente com expectativa de vida mais longa, a partir de 10 anos, o mais indicado é a cirurgia. Mas, segundo ele, também há a opção por radioterapia, também no caso de o paciente correr riscos com a cirurgia.

— Atualmente há métodos minimamente invasivos de tratamento. Além da cirurgia convencional, há a laparoscopia, a laparoscopia 3D e a cirurgia robótica.

A laparoscopia baseia-se em pequenas incisões na região do abdome para encontrar o tumor e retirá-lo. A imagem é transmitida por fibra ótica para um monitor de TV.

O médico ainda diz que outras possibilidades são o ultrassom focalizado de alta frequência (Hifu) e a crioterapia (com baixas temperaturas) em casos de menor risco.

Função da próstata

A próstata é uma glândula auxiliar do sistema reprodutor masculino, que fica na frente do reto e embaixo da bexiga. Seu tamanho tem variação de acordo com a idade. Quando o indivíduo é jovem, tem aproximadamente o tamanho de uma noz, mas pode crescer muito mais em homens mais velhos.

A grande maioria dos pacientes com câncer de próstata tem a partir de 65 anos, idade em que os tecidos da glândula já estão envelhecidos. Uma alimentação bem equilibrada, segundo Guimarães, com redução de carne vermelha e hábitos saudáveis ajuda na prevenção e no tratamento da doença. Por conter licopeno, um antioxidante, o tomate também é uma alimento que contribui com a prevenção, segundo pesquisas.

Quanto mais a população envelhece, mais diagnósticos de câncer de próstata surgem. Conforme conta Fernandes, pode-se dizer que cerca de 80% de homens com mais de 90 anos têm esse câncer, mas, devido ao seu crescimento lento, não irão morrer por causa dele.

— O que nós médicos queremos atualmente é descobrir os casos mais agressivos e mais precoces para tratar com precisão e com isso contribuir para que o indivíduo chegue aos 100 anos.

A função da próstata mostra a sabedoria da natureza humana. Ela serve para produzir parte do líquido do sêmen (cerca de 40%), alimentar e proteger os espermatozoides que saem do pênis e chegam ao útero da mulher.

Lá, se mantivessem a condição pastosa, os espermatozoides não conseguiriam dar sequência ao processo reprodutivo. Isso só acontece porque, já fora do organismo do homem, conforme conta Fernandes, o PSA da próstata transforma a substância pastosa em líquida, soltando os espermatozoides e possibilitando a reprodução.


(*) Eugenio Goussinsky

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