ARTIGO : ESCRAVOS DA APARÊNCIAS
(*) Henrique Matthiesen
Contemporaneamente a
sociedade dita moderna impõe de forma imperiosa alguns padrões de existência
que deformam irreversivelmente as personalidades inermes de uma parte da
coletividade.
Nossa “liberdade” é privada de sua autenticidade pela força
da vontade de uma nova ordem, definida como única aceitável. Incontestemente as
redes sociais, espaço muitas vezes de embuste, revelam a escravidão das
aparências.
A autenticidade, que é um valor ético, revela uma pessoa
verdadeira, que transporta em si a possibilidade de não ser desviante, ou
refratária de modismos, é aquilo que coincide com ele mesmo em suas raízes,
aquele que prega o que vive.
Uma expressão em latim, que muitos a conceituam óbvia, “Nemo dat quod non habet”, que expressa que
“ninguém dá o que não tem” é mais densa do que sua simples interpretação
literal.
A densidade reflete paradoxalmente, uma pessoa desprovida de
lisura, que não fecunda o conceito de decência, que não tem hombridade como
convicção interna irrenunciável.
As aparências como existência escravagista são a convivência
das máscaras da representação ininterrupta de um personagem, e expressam a face
mais densa da frustação da aceitação de si mesmo.
Na era da velocidade, em alguns casos, por mera pressa,
temos formações frenéticas, reflexões abreviadas que trazem consequentemente um
nível de superficialidade muito grande.
Essa futilidade obriga algumas pessoas à existência
aparente, isso com sua própria imagem em relação aquilo que ostenta, que remete
a consumolatria do exibicionismo, de viver e demostrar aquilo que não se é.
A existência simulacra, daquilo que é mera imagem e superficialidade,
mera representação, nos leva a reflexão do filósofo do século V, Agostinho, que
preferiu: “Não sacia a fome quem lambe
pão pintado”, ou seja, para se matar a fome não basta lamber a figura de um
pão, é preciso ir até ele.
Perigosa e caluniosa a existência escravagista da aparência,
podemos ter a pérfida percepção de que é mais prática e óbvia a coexistência
supérflua, porém, mais prática e óbvia, não obrigatoriamente é o apropriado.
Mancken (1880-1956) jornalista Americano, “idealista é quem, notando que uma rosa
cheira melhor do que um repolho, conclui que ela é também mais nutritiva”.
Paradoxalmente algumas coisas que exalam não só perfume, mas
uma sensação de conforto, não obrigatoriamente representam o melhor que a gente
consegue e precisa.
Afinal, viver de aparência pode significar uma afronta
irremediável e completa do bom uso da essência.
Não coexistir de forma medíocre é optar pela veracidade
consigo mesmo e não de forma ilusionista da própria existência.
Um desafio para as gerações vindouras.
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