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Lei Maria da Penha pelas lentes de alunos de Sobradinho

Cerca de cem estudantes de escola pública produziram vídeos sobre o tema para o projeto Curta Maria. Vencedores receberão prêmios em 7 de novembro

(*) MARIANA DAMACENO

A participação não era obrigatória, mas o tema e a forma de abordá-lo sensibilizaram um grupo de alunos de uma turma do terceiro ano do Centro Educacional 2 de Sobradinho. Caroline Gondin, de 18 anos, e cinco colegas foram os primeiros colocados do projeto Curta Maria, que consiste em visitas a unidades de ensino do Distrito Federal para produzir vídeos sobre a Lei Maria da Penha.


O projeto Curta Maria consiste em visitas a unidades de ensino do Distrito Federal para produzir vídeos sobre a Lei Maria da Penha. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

A iniciativa no colégio de Sobradinho foi piloto, e há intenção de levá-la para outros. A equipe de Caroline e as outras quatro mais bem colocadas receberão prêmios em 7 de novembro, às 9 horas, no Teatro de Sobradinho (Quadra 12).

O projeto é uma parceria entre a organização não governamental (ONG) Casa de Educação Anísio Teixeira e diversos órgãos do governo de Brasília, como a Secretaria de Educação e a Administração Regional de Sobradinho. Segundo a presidente da ONG, Maria José Rocha Lima, a ideia é usar formas atrativas para os jovens de abordar o combate à violência contra a mulher. “Entendi que essa estratégia era inovadora por essa geração ter muita intimidade com as novas tecnologias. Temos a necessidade de mudar a linguagem de diálogo com essa juventude.”

"Sei o que é passar por isso (violência contra a mulher), tenho casos próximos, e as consequências afetam todos os que vivem ao redor da vítima"
*Mateus Valadares, um dos alunos que editaram o vídeo vencedor

Almerinda Rodrigues de Lima, assessora da Coordenação Regional de Ensino de Sobradinho, foi a responsável por articular o projeto com a escola e acompanhou a iniciativa desde o início. A seu ver, a experiência é vantajosa para todos. “Nós [a coordenação] decidimos abraçar a ideia por achar que ela é muito válida para que os alunos conheçam ainda mais sobre a lei e sejam contra qualquer tipo de violência.” Segundo ela, há interesse que o Curta Maria ocorra em outras escolas da região administrativa.

O objetivo deu certo. Orgulhosa de ser feminista, Caroline sonha em cursar faculdade de cinema quando terminar o ensino médio. Os dois fatores lhe trouxeram inspiração necessária para, com o grupo de colegas, roteirizar, gravar e editar o vídeo, tudo no mesmo dia. A visita durou oito horas, com bate-papo sobre o tema e tempo para produção do material, que precisou ser entregue na mesma data.

Com pouco mais de 3 minutos, a obra, intitulada Foi só uma vez, traz dados de violência contra a mulher e cenas gravadas pelos próprios alunos para ilustrar os casos representados nas estatísticas. Em um dos momentos, eles simulam, por exemplo, uma mulher sendo agredida pelo companheiro por usar determinada roupa.

Para Mateus Valadares, de 17 anos, que editou o vídeo vencedor com o colega Lucas da Silva, de 18 anos, o projeto foi essencial para discutir aquilo que muitas vezes parece distante da realidade, mas pode ocorrer com qualquer um. “Sei o que é passar por isso, tenho casos próximos, e as consequências afetam todos os que vivem ao redor da vítima. Por isso é tão importante trabalhar esse tema com jovens, pois estamos em fase de formação e precisamos ter consciência e agir diferente.”


A superação da violência, seja ela física ou psicológica, foi retratada em todos os nove vídeos inscritos. “Os meninos abordaram a violência como algo intolerável”, resume a presidente da Casa de Educação Anísio Teixeira. “Os alunos trataram da questão histórica de submissão da mulher, sempre propondo o fim disso e da discriminação de gênero”, conta Maria José. Cerca de cem estudantes participaram do projeto.
Projeto Curta Maria trouxe aprendizados importantes

"Aprendemos mais sobre a lei (Maria da Penha), sobre como denunciar. Isso é importante para explicar para os homens que eles não podem agredir ninguém, em especial as mulheres, e elas não podem aceitar a violência"
*Matheus dos Santos Silva, membro da equipe ganhadora do segundo lugar

O trio do qual fazem parte Kaio Augusto Ferreira e Matheus dos Santos Silva, ambos de 17 anos, investiu tempo e muita dedicação ao vídeo que enviaram. Com roteiro pensado com antecedência, câmera de filmagem e até figurino, os meninos gravaram a história de uma mulher submissa, que era agredida por um marido machista, mas consegue fugir e denunciar os maus-tratos. O homem acaba preso. “O final foi feliz”, comemora Kaio.

Ele e Matheus estão acostumados a gravar vídeos, seja para trabalho escolar ou para registrar momentos importantes da escola, como gincanas. No entanto, eles garantem ter tido aprendizados importantes com o projeto. “Nós aprendemos mais sobre a lei, sobre como denunciar. Isso é importante para explicar para os homens que eles não podem agredir ninguém, em especial as mulheres, e elas não podem aceitar a violência”, conclui Matheus. O título da obra é Não fique calado. Com cinco minutos de duração, ficou em segundo lugar.

Os vídeos passaram por mais de uma comissão julgadora, uma delas formada por cem mulheres vítimas de violência doméstica atendidas pela Casa da Mulher Brasileira. Os vencedores receberão computadores, tablets, bicicletas e celulares.
Rede de proteção do DF à mulher vítima de violência doméstica


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(*) fONTE: MARIANA DAMACENO,   EDIÇÃO: RAQUEL FLORES - FotoS: Tony Winston/Agência Brasília

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