ARTIGO por Olavo da Silva Aguiar
O Espelho Da Vida
Dia desses
João acordou cedo como de costume, foi ao jardim irrigou as plantas,
providenciou comida para o seu melhor amigo, o Bob que ficando de pé lambeu-lhe
o rosto como prova de agradecimento. João foi ao saguão apanhar alguma coisa.
Ao passar de relance frente a um grande espelho que havia comprado ainda quando
solteiro. João ficou surpreso, viu algo diferente pois aquele espelho não lhe
mostrou a imagem de quando ele se casou há 60 anos. Voltou atrás, fitou bem sua
face, as orelhas caÃdas, as pálpebras também. Permaneceu inerte diante daquele
espelho, o espelho da vida. Ali resolveu parar todos afazeres do dia e refazer
os passos de sua vida. Foi à empresa onde trabalhou até se aposentar, não viu
mais seus colegas de trabalho, estava tudo diferente. Voltou, subiu ao terraço
onde costumava tomar banho de sol, pois a muito tempo não ia por lá. Fitou o
horizonte, onde o céu parece unir-se à Terra, avistou as últimas composições de
um trem sumindo ao longo da estrada. Posicionou-se para o futuro pensando em
realizar algo novo, um recomeçar. Teve uma ideia: Vou consultar aos meus
amigos, mais logo se lembrou, muitos foram embora, outros já haviam falecido.
Empreender algo novo? DifÃcil. Pois o cérebro ordena mais o fÃsico não
responde. Suas pernas estão cansadas, doem as articulações, seus braços não têm
mais a força de antes, o coração não suporta mais fortes emoções nem esforço
além do habitual. Foi aà que João reconheceu que havia cumprido sua missão. Há
pouco sua esposa Dona Vivi, falecera vÃtima de uma cardiopatia. Ela, a única
pessoa que esteve ao seu lado como companheira fiel. João voltou ao passado e
viu o quanto realizou em sua vida ativa, e também o quanto deixou por fazer.
Mas o grande espelho da vida nos mostra exatamente isso. Quando os verbos são preteridos
e os hormônios vão embora, tudo muda em nossa vida.
Realidade
Duas ou três
pessoas nos ajudam quando chegamos ao mundo, aà temos um universo a conquistar.
Quando envelhecemos esse universo fica do tamanho de quatro paredes e em torno
de nós duas ou três pessoas ou nenhuma.
Foi ali que João dirigiu-se ao Bob e disse: Agora somos dois, eu e você.
Bob com os olhos fitos em seu companheiro parecia entender tudo que lhe era
dito. Agora só as lembranças ajudam a viver. E o tempo inexoravelmente, apagou
histórias, alterou rotas, fez remendos e deixou marcas e cicatrizes profundas.
Esse é o espelho da vida, não há outro caminho. Portanto, viva enquanto viver.
(*) Por Olavo da Silva
Aguiar ( foto) , escritor, compositor, poeta e colabora com o Jornal de Sobradinho - Julho
de 2017.
Nenhum comentário
Postar um comentário