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Caio Bonfim faz prova incrível e leva 1ª medalha da história da marcha brasileira
Brasileiro vê rivais com ritmo muito forte no início, mas se recupera e é bronze no Mundial de Londres

Por Helena Rebello, Londres
 
Caio Bonfim conquista a medalha de bronze na Marcha Atlética em Londres

Ajoelhar, levar as mãos para o céu e agradecer. Era só isso que Caio Bonfim queria fazer após 20km marchando até cruzar a linha de chegada. A marca era histórica, a colocação também. Um bronze conquistado com 1h19s04, o melhor tempo da carreira, o bastante para levar a marcha atlética do Brasil pela primeira vez ao pódio em um grande evento. Atrás nos primeiros quilômetros, Caio fez uma incrível prova de recuperação até chegar ao bronze, primeira medalha do país no Mundial de Londres. Ficou atrás apenas do colombiano Eider Arévalo (1h18s53) e do russo Sergei Shirobokov (1h18s53), que competiu como atleta neutro. Os dois faturaram o ouro e a prata, respectivamente.

Caio não partiu tão bem. Nem considerou que teve um início ruim, mas o forte ritmo imposto pelos adversários o jogou para a 25ª posição ao final dos primeiros cinco quilômetros. Na metade do percurso, montado nos arredores do Palácio de Buckingham, era o 14º. Foi assim, galgando posições até assegurar seu lugar no inédito pódio.

- É difícil explicar qual o sentimento disso tudo. Trabalhamos muito para ter isso. Eu fiquei a cinco segundos no Rio. Meu sonho era tirar esses cinco segundos nos próximos Mundiais, e aqui aconteceu. Fiz uma prova contra mim mesmo o tempo todo, tentando manter esse ritmo absurdo, tentando manter esses quatro minutos por qulômetro. Fui administrando, sentindo força onde eu precisava ter, onde sei que são momentos chave. Isso foi essencial. É tempo de agradecer a Deus por tudo o que está acontecendo.

Caio Bonfim leva a bandeira do Brasil pela primeira vez ao pódio de um grande evento (Foto: Reuters)

O resultado de Caio confirma a grande fase da marcha atlética brasileira. Mais cedo, Erica Sena por pouco também não subiu ao pódio. Terminou os 20km feminino em quarto lugar, até então a melhor colocação de um marchador do país, homem ou mulher, em Mundiais. Em Pequim, há dois anos, os dois já haviam se tornados os melhores da modalidade no país em todos os tempos ao completarem o percurso no entorno do Ninho do Pássaro em sexto lugar em suas respectivas provas. Na Rio 2016, foi Caio quem bateu na trave com um quarto lugar. Erica foi sétima.

Caio chegou em Londres como uma das principais esperanças de medalha para o Brasil no Mundial. Na prova deste domingo, soube dosar suas forças e atacar no momento certo. Largando atrás, optou em fazer uma prova crescente, garimpando posições aos poucos. Na metade do percurso (10km), ainda era o 14º colocado. Nos 15km, já estava em 5º lugar e, no último quilômetro apertou o ritmo e alcançou a terceira colocação. Ao entrar na reta final, olhou para trás em busca do sul-africano que vinha em quarto. Percebeu que a distância era boa, que a medalha estava a seu alcance.

- Quando você marcha quatro minutos por quilômetro, dá 1h20 de prova. É aqui que separa o homem das crianças. Eu fiz 20s00 os primeiros cinco quilômetros. Podia ser o último colocado, mas eu sabia que estava num ritmo bom e que a galera ia quebrar e tal. Pensei que a galera estava forte, precisava fazer 3m57, 3m58 para chegar. Cheguei e mantive o que estava fazendo antes. Por isso que parece que dei uma arrancada, mas fiquei no pelotão na hora certa. Quando vi que sairam três, ataquei e encostei. Quando chegou o sul-africano, pensei "Caramba, quarto de novo". Mas fiquei administrando. Ele foi sentindo, eu fui mantendo, passei e fui abrindo.

Caio foi o único brasileiro até o momento a subir ao pódio em Londres - só Andressa de Morais, no lançamento de disco, ainda tem final a disputar neste domingo, último dia de competições. Mas fez questão de ressaltar outros colegas que conquistaram bons resultados expressivos. Citou Rosângela Santos, primeira mulher do país finalista dos 100m, e os dois representantes do salto em altura, eliminados por pouco na classificatória.

- Tenho certeza que, para a marcha atlética, foi um grande resultado. Mas para o atletismo só foi mais uma medalha. O que o brasileiro fez, o que a Rosângela fez, o Talles, o Fernando, todo mundo que chegou tão perto, dando o seu melhor.... Acho que sou só um símbolo, é só um metal. Todo mundo conseguiu essa medalha. Foi muito duro esse Mundial.

Por Helena Rebello, Londres/ Globo

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