PIONEIROS DE BRASILIA FAZEM HISTÓRIA EM SOBRADINHO
Cidade
cativa seus moradores que de forma inusitada contam a trajetória da região
Única cidade
do DF a ser criada sobre uma serra, a 22km do centro da capital, Sobradinho
dispõe de grande diversidade natural e é o local onde muitos dos pioneiros de
Brasília escolheram para morar. Fundada em 13 de maio de 1960, dia da padroeira
da cidade, Nossa Senhora de Fátima, a região conta com o comércio aquecido e
com moradores apaixonados por onde vivem.
"Sobradinho
representa toda a minha vida, tudo o que conquistei até hoje. Foi aqui onde
consegui crescer e daqui só me mudo para o cemitério, e tem que ser o de
Sobradinho", brincou o comerciante mais antigo da cidade, Aristides de
Almeida, 85 anos.
Baiano da
cidade de Santa Luz, distante 258 km de Salvador, Almeida veio para o Distrito
Federal ainda em 1959 para ajudar a dar forma ao sonho de Juscelino
Kubitscheck, de construir a capital da República.
Após 12 dias
de viagem, de trem e de automóvel, ele desembarcou no DF, onde iniciou sua
carreira trabalhando, por dez dias, como servente de pedreiro. No ato da
assinatura da Carteira de Trabalho, no entanto, o formalizaram como
carpinteiro, ofício que foi obrigado a aprender com urgência.
Por ter
trabalhado na construção de Brasília, muitos dos pioneiros tiveram a
oportunidade de viver em barracos de madeira onde hoje é Sobradinho. Em meio ao
mato alto e a terra batida, foi ali que o baiano passou a morar com a esposa,
Maria Miranda Barreto, hoje com 70 anos.
"Depois
da construção de Brasília, vim morar em Sobradinho, em 1961. Aqui, só tinha
mato e terra, e na época eu morava sozinho. Tive de voltar à Bahia para buscar
a minha esposa, de pau-de-arara. De volta a Sobradinho, começamos a passar
dificuldades e foi aí que virei vendedor ambulante", contou Almeida.
Para
comercializar seus produtos, que eram confecções, o pioneiro saía de casa ainda
de madrugada para pegar um ônibus rumo ao Plano Piloto, onde ainda estavam os
operários da capital. No entanto, os 22km que separam as duas regiões
administrativas eram de estradas de terra percorridas vagarosamente por um
coletivo.
Enquanto o
esposo vendia suas mercadorias, Maria Barreto cuidava de uma banca de 2m² em
uma antiga feira que existia em Sobradinho. Nos curtos espaços de tempo livre,
ela lavava trouxas de roupa para aumentar a renda.
Assim, o
casal conquistou toda a comunidade e hoje é dono de vários automóveis e imóveis
na região, inclusive de uma loja de variedades que funciona há 51 anos na
cidade, tem seis funcionários e está sempre cheia de clientes que os chamam
pelo nome, como velhos conhecidos.
"Já
passamos por muitas dificuldades, já lavei muita roupa para os outros e mesmo
assim não desistimos. Sobradinho nos acolheu e aqui fizemos nossa vida. Não
pretendo sair daqui nunca, pois amo este lugar", frisou Maria.
PASSADO – Cidade que cativa seus
moradores, Sobradinho tem em sua história muitas lendas, a começar pelo nome,
que possui várias explicações.
Uma das
origens, segundo moradores mais antigos, é que antes de 1850 existia um
cruzeiro feito em madeira rústica e erguido às margens de um ribeirão na
fazenda que foi desapropriada para que a cidade tomasse forma.
Contam os
pioneiros, que, nesse mesmo cruzeiro, foram construídas duas casinhas do
pássaro João-de-Barro, uma sobre a outra, no braço direito do símbolo
religioso, fato que chamou a atenção de quem passava pelo local e que usou o
pequeno "sobradinho" das aves como referência geográfica.
A história
atrelada ao João-de-Barro é confirmada pelo juiz de paz mais antigo da cidade,
Alberto Gomes da Silva, 77 anos, que oficializou cerca de 16 mil uniões –entre
elas homoafetivas- em 33 anos de carreira.
De forma
inusitada, Silva é conhecido em toda a cidade por prestar dois serviços
essenciais à população: o primeiro, unir pessoas perante a Justiça. O segundo,
realizar cerimônias fúnebres, já que ele é dono de uma famosa funerária da
cidade.
"Tenho
uma relação de amizade muito grande com Sobradinho, me preocupo em lutar por
melhorias e adoro viver aqui. Fui nomeado juiz de paz pelo presidente João
Figueiredo e decidi por criar a funerária depois que minha filha morreu, em
1987, para ajudar os outros e também ganhar dinheiro", lembrou Silva.
Nascido no
município de Xique Xique, na Bahia, o dono da funerária chegou a Sobradinho em
1962, após ter passado 25 dias viajando de pau-de-arara com a esposa e três
filhos. Na cidade que o acolheu, ele optou por comercializar confecções e
posteriormente mudou para o ramo em que atua hoje.
Em uma sala
simples, onde funciona a funerária, na Quadra Central da cidade, Silva passa
boa parte do dia atendendo a seus clientes, seja os que procuram o cerimonial
fúnebre ou noivos à procura de um juiz para marcar a data do casamento, que,
como ele mesmo diz, "com direito a aconselhamentos, porque a vida de
casado não é fácil".
"Gosto
muito da minha profissão e foi aqui em Sobradinho que pude me estabelecer.
Nunca me mudaria daqui", declarou.
Para
melhorar a qualidade de vida dos moradores e estar mais próximo da comunidade,
a partir de amanhã (22), até o próximo domingo (24), Sobradinho sediará a
segunda etapa do programa "GDF Junto de Você".
Durante os
três, a população poderá utilizar os serviços do Na Hora, Procon, além de
atendimento oftalmológico, atividades culturais e esportivas, e participar de
visitas guiadas ao Estádio Mané Garrincha, em ônibus que farão duas viagens
diárias, sempre às 10h30 e às 14h30.
Fonte: Fábio
Magalhães, da Agência Brasília/Foto: Mariana Raphael
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