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Textos & Textos - BEATAS por Geraldo Lima


Velhinhas, com cabeça de algodão, marchando rumo à igreja bem de manhãzinha. Vão alegres, tomadas pela fé — talvez tudo o que ainda lhes resta. Não por vaidade, mas por respeito, apresentam-se bem produzidas diante de Deus. Não se trata do batom, da sombra, do ruge exagerado para disfarçar certa palidez ou flacidez da pele. Nada disso, tudo muito discreto: apenas uma roupa limpa e bem passada, um enfeitezinho aqui, um manto ali, e é tudo. Abolida também aqui aquela imagem sombria da beata, mais para bruxa que para uma serva do Senhor. Discreta elegância, isso sim. Vistas desse modo, bem poderiam despertar ainda a maravilhosa sensação do amor, da paixão, se não estou exagerando.
Esta que segue diante de mim vale a pena ser descrita: meias grossas de lã indo até os joelhos, ou melhor, sumindo por baixo da barra da saia de popelina. Parece bem aquecida no casaquinho de crochê, e se vai meio curvada não é pelo frio: apoia-se na bengalinha, sua terceira perna e esteio quando estaca para tomar fôlego. Fosse, no entanto, uma pintura, ficaria por conta do buquê, firme na mão esquerda, a função de atrair os olhos para a perfeita harmonia entre rosas, margaridas e cravos.

Geraldo Lima é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária), Baque (contos, LGE Editora?FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). Será feita, no dia 08/12, na sala Cássia Eller, a leitura dramática da sua peça Trinta gatos e um cão envenenado. Mantém o blog: baque-blogdogeraldolima.blogspot.com

Um comentário

Geraldo Lima disse...

Valeu, Junior. Essa foto aí ficou ótima. Vou querer uma cópia, pode ser?

Geraldo Lima