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O ócio da greve: 53 dias sem aulas na UnB


Estudantes entediados, sem pique de estudar e caindo na balada. Essa é a rotina de grande parte dos alunos desde março

Há 53 dias estudantes da Universidade de Brasília (UnB) estão sem aulas. Não ter de estudar para provas, aguentar professores chatos, fazer trabalhos nem se dividir entre a sala de aula e projetos de pesquisa ou estágios poderia até ser motivo de comemoração. Mas, entre os universitários, a avaliação da greve não é nada boa.

Luís Felipe do Prado, 17 anos, calouro de engenharia mecânica, é um dos inúmeros estudantes que não têm nada para fazer. Ele fica em casa o dia inteiro, serve de suporte para a família – resolve problemas burocráticos, paga contas, espera o instalador de qualquer coisa – e cai na balada com os amigos quase todo dia.

Para ele, que ainda não havia tido tempo de se envolver com as possibilidades de extensão e pesquisa da universidade, os espaços da academia não fazem muito sentido na greve. Além de tudo, Luís teme demorar a se focar novamente nos estudos quando as aulas recomeçarem – sabe-se lá quando.

“Eu não acreditava que passaria no vestibular. Já estava tendo aulas no cursinho quando fui aprovado na segunda chamada. Estava estudando demais. Agora, perdi o ritmo”, diz. Luís admite que, por um lado, a folga é boa depois de tanto tempo de preparação para o vestibular. Mas a aguardada atribulação do semestre pós-greve o desanima.

Os amigos Rodrigo Maestrali, 20, João Augusto Martins de Santana, 23, Gustavo Nunes, 20, e Rafael Queiroz, 18, alunos do curso de física, já estão cansados da greve. Rodrigo vive uma situação considerada pelos universitários das piores em dias de greve: dois professores não pararam as aulas.

A rotina de Rodrigo inclui aulas todos os dias na UnB. Sem nenhum pique para estudar depois dos encontros, ele assiste as aulas desanimado. Não pode deixar a universidade agora, nem quando a greve acabar. “Não fiquei de férias, como todo mundo, e ainda terei de continuar estudando depois. É horrível”, opina.

João Augusto também está chateado porque as férias ficarão comprometidas após a greve. Segundo a decana de Graduação da UnB, Márcia Abrahão, se a paralisação acabasse hoje, as aulas precisariam ser dadas até fevereiro para dar conta de cumprir o calendário letivo integral dos dois semestres previstos para 2010.

A previsão, por enquanto, é de haja um intervalo de apenas três semanas entre um semestre e outro. No fim do ano, na suposição elaborada pelo decanato, os estudantes teriam folga entre os recessos de Natal e Ano Novo e na primeira semana de janeiro. Mas, definitivamente, só dá para ajustar o calendário após o fim da greve.

Formatura Atrasada

Tainá Batista de Assis, 23 anos e Wanne Kelly Souza Silva, 22, estão no último semestre de biblioteconomia. Elas admitem que até deveriam comemorar o fato de, sem aulas, terem mais tempo para elaborar a monografia de conclusão do curso. A realidade, no entanto, é que elas estão mais preocupadas com possíveis atrasos na formatura.

Sem o diploma, as futuras bibliotecárias não podem obter o registro do Conselho Regional de Biblioteconomia e procurar um emprego. Além disso, elas se preocupam com as datas já definidas para a colação de grau e a festa de formatura. “A greve é péssima, especialmente porque a biblioteca está fechada”, lamenta Tainá.

A greve da UnB não está restrita aos professores. Os servidores da instituição também decidiram cruzar os braços em protesto contra a ameaça de cortes salariais. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão defende que o pagamento URP (índice que reajustava os salários na época da inflação e foi incorporado à remuneração dos servidores na década de 1990) é ilegal.

A briga está na Justiça. Os professores e os funcionários já ganharam em algumas instâncias. Mas, na última quarta-feira, os técnicos perderam parte da batalha no Tribunal Regional Federal (TRF), que considerou o pagamento ilegal para 204 servidores aposentados que haviam entrado na Justiça para garantir o pagamento. O caso dos professores será julgado pelo Supremo Tribunal Federal, em data ainda não definida.

Nessa sexta-feira, os professores farão uma assembleia para decidir o futuro da greve. Marcelo Aparecido de Brito, 28, aluno do segundo semestre de história não vê a hora de as aulas recomeçarem. Por enquanto, ele só tem as aulas de inglês para se ocupar.

Aiessa Balest, 20, universitária de farmácia, aproveitou esse tempo de paralisação para adiantar as tarefas do projeto de pesquisa que participa. Apesar disso, não vê a hora de recomeçar o semestre. De verdade.

(*) fonte: Priscilla Borges/ foto ilustração

Um comentário

Anônimo disse...

Tudo bem, concordo que uma greve prejudica, sempre. Mais pergunto a esses jovens, que são tão jovens, começando agora. Se tirassem 26% do salários de seus pais, o que vocês achariam?