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Reduzir número de vítimas é o maior desafio na Semana Nacional do Trânsito


Falta do cinto de segurança está entre os cinco fatores que mais causam mortes e lesões, conforme dados da OMS

Nas ruas do DF circulam quase 1,2 milhão de veículos (frota cadastrada no Detran até agosto último, com exatos 1.198.721). E com tantos carros, mesmo diante de uma legislação que visa harmonizar essa convivência, o trânsito do DF está longe de alcançar a tão sonhada “paz”. Campanhas nesse sentido sempre surgem, mas quem conhece a rotina de dirigir em Brasília sabe que o perigo ronda a todo instante. “Eu dirijo há pouco tempo, mas já percebi que tenho que dirigir por mim e pelos outros, pois se não for assim, se não ficarmos atentos a tantas besteiras que as pessoas fazem com os carros, corremos o risco freqüente de nos envolvermos em acidentes”, diz a estudante Paula Lorenzon.

Neste 18 de setembro começou a Semana Nacional do Trânsito, que vai até o dia 25, e tem como tema “Cinto de Segurança e Cadeirinha”. Conforme ressaltou o presidente do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e diretor do Departamento Nacional de Trânsito, Alfredo Peres da Silva, ao justificar a escolha do tema, a redução das lesões e mortes no trânsito é um desafio mundial, já que mais de um milhão de pessoas de todas as nações são vítimas fatais de acidentes envolvendo veículos automotores. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há cinco fatores que causam o maior número de mortes e lesões no trânsito entre os quais está a não utilização do cinto de segurança.

Mais uma vez a semana dedicada ao assunto trânsito reacende a esperança de que o cidadão possa vir a contar com dias mais tranqüilos quando estiver guiando o seu automóvel ou a sua motocicleta. Aliás, automóvel e motocicleta trazem à lembrança a eterna disputa entre esses dois veículos. Motoristas acusam os motociclistas de imprudentes, enquanto os motociclistas odeiam os motoristas. Ambos não entram em acordo com os ciclistas nem com os pedestres. Estes, por sua vez, reclamam da falta de “humanidade” daqueles, por tomarem conta das ruas sem dó nem piedade.

Mas estamos falando de seres humanos, cada qual com o seu temperamento, de apaziguar ou provocar, mas quase todos ávidos na disputa por espaço. Cortesia não é palavra corrente no dicionário da maioria. Prova disso é o relato da estudante Paula, de 19 anos, citada no início da matéria: “Tive uma estreia no trânsito meio pavorosa. Como era iniciante, às vezes o carro morria. Por isso eu ouvi muitos xingamentos, e um motorista até ameaçou, aos gritos, bater no meu carro de propósito, ao forçar uma passagem. Não sei se era só covardia, pelo fato de estarem lidando com uma mulher, ou se são agressivos assim com todo mundo, mas assustou”, conta ela. E relatos do tipo não são poucos.

Até junho deste ano foram registrados 209 acidentes, com 224 vítimas fatais
Da frota de 1.198.721 veículos cadastrada pelo Detran até agosto de 2010, 131.239 são motocicletas. No entanto, os acidentes com morte não fazem distinção entre um ou outro tipo de veículo. Neste ano, até junho último, foram registrados 209 acidentes de trânsito, com 224 vítimas fatais, 56 dos quais envolvendo motociclistas e 66 envolvendo pedestres. Em 2009, durante o ano todo, foram 383 acidentes com morte e 418 em 2008. Conforme as estatísticas do Detran, a maioria das mortes (53) envolveu o sexo masculino, com idade entre 20 e 29 anos, ou seja, em uma de suas fases mais produtivas.

Como a prevenção de mortes e lesões no trânsito a partir da utilização do cinto de segurança tem impacto direto nos custos hospitalares e demandas de reabilitação, a ideia, nesta Semana Nacional do Trânsito, é que os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito promovam ações de segurança voltadas para a população em geral, a partir de um aspecto pontual. “É uma oportunidade para suscitar reflexões, incentivar discussões e criar atividades que explorem com profundidade a real importância e necessidade do uso do cinto de segurança e dos dispositivos de retenção adequado às condições da criança”, ressaltou o presidente do Denatran.

Conforme dados do Denatran, os acidentes de trânsito representam a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos no Brasil. E é o uso do dispositivo de retenção, seja bebê conforto, cadeirinha ou assento de elevação, que pode diminuir drasticamente as chances de lesões graves – e de morte – no caso de uma colisão. O dispositivo, além de diminuir a taxa de mortalidade em acidentes, reduz a severidade das lesões sofridas pelos ocupantes do veículo em uma colisão. Acrescente-se, ainda, o fato de o cinto prevenir a ejeção de condutor e passageiros do veículo, comum em capotamentos.

Analista de trânsito cobra exemplo dos pais e ações do governo
Quase todo mundo tem uma história para contar, algumas envolvendo motoristas que conduzem crianças mas, em vez de dar o exemplo, desrespeitam as leis e fazem até gestos obscenos na presença daqueles que serão os futuros responsáveis pela paz ou pelos caos no trânsito. É claro que as crianças vão assimilar esse mau exemplo e achar que está atitude é normal. Nisso concorda o analista de trânsito Miúra Riogi, que foi diretor do Detran, de onde era funcionário efetivo, até se aposentar. Para ele, esse tipo de comportamento lamentável que têm alguns motoristas refletem sim na formação de seus filhos. Por isso, ele considera que em alguns casos os pais são os culpados pelo comportamento irresponsável que alguns jovens apresentam no trânsito.

Na avaliação de Miúra, se estes motoristas não tiveram o exemplo na família, vão repetir o que apreenderam de ruim durante a vida, pois o comportamento na rua é a extensão do que se aprende em casa. E essa imprudência costuma persistir caso não ocorra nenhum fator que ajude a reverter a situação. Infelizmente, geralmente só uma tragédia pode fazer as pessoas caírem numa reflexão. Conforme avalia o ex-diretor do Detran, quem costuma agir assim pensa que coisas ruins só acontecem com os outros. Eles se julgam onipotentes. E como ninguém quer perder um filho ou um ente querido para a violência no trânsito, o seu conselho é que todos procurem respeitar uns aos outros. E acrescenta: “O poder público tem a obrigação de fazer o controle efetivo do trânsito e colocar em práticas as armas que tem para “enquadrar” os maus motoristas.

Miura vê um quadro caótico no trânsito atualmente e lamenta: “o poder público, a administração de trânsito, em especial, não soube dar continuidade à filosofia de educação no trânsito, aplicando as regras de forma objetiva e imparcial”. O Detran e a Polícia Militar, conforme ressalta, não conseguiram contabilizar um efeito multiplicador de suas ações. “Falta credibilidade no que se refere à competência dos órgãos de trânsito”, observa, lembrando que na Campanha Paz no Trânsito, desenvolvida na sua gestão à frente do Detran, de 95 a 98, recebeu o apoio de todos os segmentos.

Segundo o ex-diretor do Detran, isso ocorreu porque o povo acreditou na proposta. Na sua opinião, qualquer chefe de Executivo, se quiser, consegue melhorar determinada área, mas tem, para isso, que passar credibilidade em suas ações. “Na minha época, o governador deu total apoio e autonomia para adotarmos determinadas medidas, como a implementação do controle eletrônico de velocidade (pardais). Foi assim também que conquistamos o respeito público pelas faixas de pedestres e conseguimos sinalizar toda a cidade, aplicando, em um ano, recursos que equivaleriam a 10 anos de investimentos em outros governos”, destacou, acrescentando que a saída é “reforçar e instrumentalizar a fiscalização.”

Álcool continua sendo um dos grandes vilões
Não só na Semana Nacional do Trânsito, mas durante todo o ano, são importantes as ações que visem conscientizar motoristas e pedestres para um trânsito mais seguro. “Se cada um fizer a sua parte, não veremos mais atos bárbaros no trânsito”, observa o chefe de Fiscalização do Departamento de Trânsito (Detran), Silvain Fonseca. Na sua avaliação, essa tão almejada paz no trânsito depende do comportamento de todos os agentes envolvidos, mas também de políticas de trânsito definidas pelo Estado e não só pelo órgão de trânsito que, por sua vez, precisa de mais autonomia para atuar. Quanto às políticas sociais que recomendou, Silvain as justifica com o número de pedestres embriagados atropelados todos os dias, especialmente moradores de ruas. Isto, na sua opinião, é porque o pedestre tem menos acesso à informação do que os motoristas. E o mais grave apontado por Silvain: a quantidade de motoristas autuados por dirigirem sob o efeito do álcool continua crescendo, mesmo com a Lei Seca. “Este ano, o número de autuações até agosto já superava os 6.800, maior do que o registrado durante todo o ano de 2009, que foi de 6.759”, observou. Portanto, na opinião de Silvain, a paz no trânsito depende do comportamento de motoristas, motociclistas, pedestres e ciclistas, já que as reações de cada um é que vão determinar a ocorrência ou não de acidentes ou a gravidade de cada um.

Fonte: O Distrital

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