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Galeguim do Zói Azu

* Vanílson Reis

Eu tenho percebido a presença de um homenzinho na Quadra Central em Sobradinho. É um senhor de aproximadamente 66 anos; ele usa sandálias havaianas, calça social, camisa manga comprida. Eu o apelidei de Galeguim do Zói Azu. Foi porque seus olhos azuis brilham como duas pérolas lá na ourivesaria de Deus. Ele é uma pessoa muito calada, exclamativa por demais; eu sinto que há uma pergunta no ar, mas ela também existe nos olhos desse Galeguim. É fácil encontrar essa figura no centro de Sobradinho, está ali mesmo, sentada naquelas pedras grandes que ficam bem na pracinha da Administração da cidade.

A primeira vez que vi o Galeguim do Zói Azu, eu estava exercendo uma atividade do nosso cotidiano: a minha caminhada de todos os dias. Eu não sou atleta, apenas um moço preocupado com a saúde. Ele me chamou a atenção com aquele jeitinho humilde, singelo, que tem a prova ocular do abandono. Na hora, eu parei bem pertinho dele e comecei a observá-lo, quem era aquela figura, de onde teria vindo, para onde iria depois, mais tarde, à procura de quem!?

Depois de um certo tempo, fui embora cuidar da minha vida, dos negócios. Fiquei pensando naquele episódio. Por que o Galeguim não tinha família, uma casa para morar, emprego? E outra coisa, ele era um homem idoso, fato suficiente para preocupar uma entidade filantrópica do Brasil. Passava na minha cabeça a falta de apoio por parte dos nossos governantes ao idoso. É deplorável a situação em que se encontram nossos idosos. Há muita gente que administra asilos, casa de repouso e outros abrigos por aí, mas também existem pessoas que estão na frente de tudo isso com a intenção voltada para o proveito próprio.

O Galeguim continua no mesmo lugar em que eu o encontrei um dia. Ele usa as mesmas vestimentas e ainda resguarda aquele semblante nostálgico, misterioso, do primeiro encontro. Muita gente transita por ali todos os dias, inclusive eu. Será que alguém já parou um minuto para cumprimentá-lo? Somos filhos do mesmo Pai, crias da mesma Mãe, segundo o Evangelho de Jesus Cristo. Mas existe um dilema que precisa ser desvendado naquela pessoa: O Galeguim do Zói Azu é filho de Brasília ou é recém-chegado de uma cidade livre? Mas o que importa isso agora, se o amor dispensado a esse homem é o mesmo que se dispensa a qualquer mendigo no Brasil. Porque mendigo as pessoas não chamam pelo nome, aqui. Pode até chamá-lo de Zé, Mané ou Chico Fedoba.

* Vanílson Reis é professor e escritor.
(*) Especial para o Jornal de Sobradinho

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