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Ciência, moral, estética e metafísica


*Joel Pires

Não. Não empresto livros. Podem me chamar do que quiserem. Não empresto. Pediram-me uma vez, para nunca mais! Ainda guardo sua feição. Tinha marcas, aromas, sabores e imagens. De todas as palavras, o resumo delas também estava lá. A caligrafia inconfundível. Não gosto de escrever em obras, mas às vezes é preciso. As ideias vêm como folhas em redemoinho: se não as pegarmos logo, vão embora na tempestade. Há obras que são furacões, e árvores são arrancadas com raiz e tudo. O vento de Fernando Pessoa tem esse poder. Devassa a alma em meio ao temporal. Nada fica como antes. Certezas são sacudidas e o caos se instala. E agora, José?, diria outro vendaval, a inquietação drummondiana. Mas os ventos que derrubam também nos fazem
reerguer:
“Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
...
Se têm a verdade, guardem-na!
...
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
...
(Fernando Pessoa)

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