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SOCIAL: Idosos do Lar dos Velhinhos aproveitam calor para relaxar na Água Mineral

*Leilane Menezes



Agripina Rodrigues, 83 anos, comemora o momento com os amigos. Há quatro anos no Lar dos Velhinhos, ela foi uma das que ganharam companhia de familiares durante o passeio

Eles chegaram ao Parque Nacional de Brasília, a Água Mineral, de mansinho, como se não fizessem parte daquele lugar. Alguns deram passos miúdos, sem pressa de ver a vida passar. Outros estavam em cadeiras de rodas. Os visitantes moram no Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho. Ontem, durante toda a manhã, eles se divertiram no parque. Aos poucos, tomaram conta do espaço.

Logo, a animação dos idosos tornou-se contagiante. Poucos frequentadores ficaram alheios à presença dos simpáticos senhores e senhoras. A turma transmitia empolgação inocente, comum para quem conhece algo novo. Em certos momentos, os mais debilitados demonstraram insegurança, mas esta durou pouco tempo. Com a ajuda de voluntários e funcionários da instituição, logo perderam o medo e se entregaram ao lazer.

O grupo era composto por 31 homens e mulheres, todos acima dos 60 anos, e 20 voluntários e cuidadores do Lar dos Velhinhos. Os hóspedes da casa saem pouco. A logística dos passeios é complicada. Ontem, a direção do asilo contou com a ajuda de dois bombeiros. “Esse acompanhamento especial é uma exigência de muitos locais, como o Parque Nacional. É questão de segurança. Por essa e outras razões, é complicado levá-los a espaços externos”, explicou a diretora voluntária do Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, Inês Miranda. Outro problema é a acessibilidade precária. Faltam rampas em espaços públicos, como a Água Mineral, para pessoas com deficiência física ou dificuldade de locomoção. Entrar e sair da piscina não foi tarefa fácil.

Saída da rotina
A quarta-feira, porém, foi dia de aproveitar a tranquilidade. Os idosos deitaram-se na grama, amarraram redes entre as árvores, mergulharam na piscina (sempre com ajuda de alguém) e cantaram. José Rodrigues, 67 anos, também conhecido como José das Moças devido a seus galanteios, tocou pandeiro. Cantou músicas românticas de Roberto Carlos, canções sertanejas e forrós.

Há muito tempo ele não se expressava dessa maneira. Andava calado, segundo seus cuidadores. Ontem, soltou a voz, transbordando alegria e saudade. “Nessa longa estrada da vida, vou correndo e não posso parar”, recitou, lembrando a música de Milionário e José Rico. José das Moças sentiu falta da mulher, Edna Rodrigues, já falecida. Os dois filhos do casal, um advogado e uma professora, vivem em Fortaleza (CE), terra natal de José. Visitam pouco o pai, ele conta.

José das Moças já foi cantor de boate. Dançava bolero e tango. Hoje, diz gostar de viver no Lar dos Velhinhos, onde está há 11 anos. “Eles me dão banho, cuidam de mim. Dão cama limpa e arrumadinha. Quando não tem ninguém perto, ligo meu rádio e escuto minhas fitas de música.” José ficou cego trabalhando como marceneiro, em Brasília, cidade onde vive desde os 16 anos. Um prego feriu um de seus olhos e lhe tirou a visão, mas não a alegria de viver. Ontem, ele vestiu a melhor roupa: calças pretas, camisa xadrez e mocassins marrons com meias brancas. Quis ir elegante à Água Mineral. Abriu mão da roupa de banho.

Voluntários ajudam
O Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes funciona desde 21 de março de 1981. É uma entidade filantrópica. Atende 59 idosos em esquema de longa permanência. Alguns não têm fonte de renda. O sustento da instituição vem de doações de pessoas físicas e empresas — como os Diários Associados, que colaboram por meio do programa Correio Solidário.


Leonardo de Jesus era um dos mais alegres ao brincar na água...



Festa na piscina

Alguns familiares dos idosos acompanharam o passeio. A auxiliar de serviços gerais Lucilene Pereira Cândido, 37 anos, fez questão de ir com a avó, Agripina Rodrigues, 83. Há quatro anos, a idosa vive no Lar. Antes disso, morava sozinha. “Quando eu soube do passeio, quis estar com ela, para dividir um bom momento, guardar boas recordações. Quando olho para eles, penso: é o destino de todos nós”, refletiu Lucilene.

Um dos mais animados com a natação era Leonardo Ferreira de Jesus, 66 anos. Mesmo sem conseguir falar ou andar, ele não precisou de palavras para transmitir sua satisfação. Auxiliado por dois bombeiros, o idoso se refrescou e brincou. Enquanto era carregado nos braços pela dupla de militares, sorria feito criança. Vários colegas de Leonardo fizeram fila para se banhar nas piscinas de água corrente. Para evitar problemas, eles usaram filtro solar e beberam muita água.

Contato humano

Mesmo os que não podiam entrar na piscina, como Leopoldino da Trindade, 80 anos, marcaram presença. “Estou com a perna fraturada. Mas eu queria muito passear. Fico me divertindo só de
olhar essa gente toda”, disse, enquanto distribuía balinhas. A ida à Água Mineral era uma forma de proporcionar contato humano. “Eles ficam sempre dentro de casa, muitos não recebem visitas. Estar aqui é um jeito de se relacionar”, justificou Inês Miranda.

O prazer de estar ali era evidente. “Dá para ver claramente a alegria no rosto deles, especialmente aqueles que a família acompanha”, destacou a cuidadora Maria José dos Santos, 36 anos. Para completar o dia, os idosos almoçaram no parque. Em seguida, pouco depois das 14h, seguiram de volta para Sobradinho. De lembrança, levaram fotos e a sensação de bem-estar.


Fonte Leilane Menezes/CB

Um comentário

Anônimo disse...

Nossa, muito legal para outras instituições terem como ideias, para os familiares verem a falta que fazem e até mesmo para os que hoje são jovens ou nem tão jovens assim... "fazer o bem , sem escolher à quem..." parabéns àqueles que tiveram a iniciativa e para àqueles que colaboraram para proporcionar alegria aos idosos e a si mesmo...