ESCOLAR: Compra de material escolar gera dúvidas
Todo início de ano a história se repete: pais e
mães de crianças em idade escolar iniciam a corrida às papelarias e lojas
especializadas para comprar os itens que fazem parte da lista preparada pelas
instituições de ensino. As dúvidas e os questionamentos sobre a necessidade e o
volume de determinados itens solicitados também são frequentes entre os pais,
mesmo aqueles que se consideram experientes no assunto.
A professora Polyanna Leite, de 30 anos, tem duas
filhas em idade escolar. Com o olho clínico de quem trabalha com educação e
“muita disposição” para conferir cada um dos itens pedidos, ela diz que, neste
ano, pediu a ajuda do Instituto de Defesa do Consumidor do Distrito Federal
(Procon-DF) para saber o que fazer no caso de artigos que considerou exagerados.
“Eles pediram uma cola de 500 gramas e mais uma de
90 gramas, que ficarão na escola e não no estojo das minhas filhas. Além disso,
pediram pincel atômico e pincel para quadro branco, que são para uso das
professoras, e não dos alunos. Fui ao Procon e me informei sobre como proceder
e me indicaram comprar só o que achar pertinente e, em caso de problemas na
entrega, acioná-los com uma reclamação formal”, disse Polyanna.
A pedagoga Caren Castelar, de 35 anos, também se
assustou quando viu que eram pedidos dez livros literários na lista escolar de
sua filha, Luanna, à época com 5 anos.
“Achei aquilo extremamente exagerado. Ela ainda
estava sendo alfabetizada, claro que não leria os dez livros ao longo do ano”,
lembrou. Segundo a pedagoga, os livros não foram devolvidos no fim do ano
letivo e, provavelmente, serviram para reforçar a biblioteca da escola, em
Brasília.
Ela disse que, após muita pressão dos pais, que
constantemente reclamam com a direção da escola, a instituição vem “enxugando”
a lista. “Este ano, ela já tem 7 anos e foram pedidos seis livros de leitura,
já diminuiu um pouco. Acho que os pais estão mais conscientes de seus direitos
e dos exageros das listas e pressionam as escolas, o que acaba dando
resultados”, ressaltou Caren, que chegou a enviar um e-mail para
parentes pedindo doações a quem já tinha em casa os títulos pedidos pela
escola.
A jornalista Ana Carolina Braz, de 31 anos,
recusa-se a comprar artigos que não considere de responsabilidade dos pais,
como pratos e copos descartáveis. Outro item que considera “abusivo” são as
resmas de papel, presentes na maioria das listas escolares. Neste caso, ela diz
que manda aos poucos, em pequenas quantidades.
“Pratos e copos descartáveis e balões [de encher]
nunca mando. Outra coisa com que não concordo é pedirem uma resma de papel para
cada criança. Minha experiência, até aqui, mostrou que não há o correto uso
desse material especificamente. Então, mando em pequenas quantidades, ao longo
do ano”, contou ela, que é mãe de Rafael, de 3 anos, aluno da pré-escola em uma
instituição da capital federal.
Insatisfeita com a longa lista de material da
escola de suas filhas, também no Distrito Federal, a professora Cisele de
Paiva, de 37 anos, pretende conversar com a direção antes de concluir as
compras.
Segundo ela, é comum, ao fim do ano letivo,
constatar que alguns itens pedidos acabaram não sendo usados. “No ano passado,
quando peguei os cadernos e livros das minhas filhas, percebi que algumas
coisas elas não usaram. O bolso sente, a gente sofre.”
Recém-chegada a Brasília, a bancária carioca
Cláudia Macedo, de 40 anos, ficou espantada com a quantidade de itens
classificados na lista como de uso coletivo. São 27 ao todo, enquanto os de uso
individual somam 19.
“Não entendi porque eles pedem um caixa de canetinhas
de 12 cores por criança para uso coletivo, além da caixa de 12 cores do mesmo
item para uso individual. Será mesmo que a turma, além da caixa que cada
criança terá no estojo, vai precisar de mais 20 conjuntos? Parece exagerado”,
disse ela, que é mãe de Tiago, de 8 anos, que este ano vai cursar o 2º ano do
ensino fundamental em uma escola de Brasília.
A presidenta do Sindicato dos Estabelecimentos
Particulares de Ensino do DF (Sinepe-DF), Fátima Mello, destaca que a lista
elaborada pelas escolas é reflexo do projeto pedagógico específico de cada
instituição, que deve estar de acordo com a formação de valores, intelectual e
cognitiva, que se pretende dar aos filhos. Em caso de dúvida sobre a
necessidade dos itens, ela orienta os pais a entrarem em contato com a direção
das instituições.
“Os pais não podem se recusar a comprar os itens da
lista porque assinam um contrato de prestação de serviço que prevê a entrega
dos artigos à instituição de ensino. Mas, se não estiverem de acordo ou tiverem
dúvidas, devem buscar sempre o diálogo com a escola”, enfatizou.
A presidenta do Sinepe-DF ressalta, no entanto, que
as escolas não podem pedir material de higiene, de limpeza e de expediente da
instituição, o que é proibido pela legislação. No caso de produtos de uso
coletivo, Fátima explicou que, geralmente, eles são usados em projetos
específicos, como feiras de ciências e atividades especiais para datas
comemorativas.
Segundo o Sinepe-DF, há no Distrito Federal 450
escolas particulares.
Por: Thais Leitão/Abr/doplenario
Post Comment
Nenhum comentário
Postar um comentário