A LUA DE SANGUE
Por Geraldo Lima
Quem acordou de
madrugada neste quinze de abril, aà por volta das quatro horas, pôde ver no céu
um espetáculo belÃssimo: o eclipse lunar total, o primeiro de uma série de
quatro, que ocorrerão num perÃodo de dois anos, segundo informações dos
astrônomos. Mas, o mais espetacular mesmo é o que resulta desse eclipse: o
fenômeno da Lua de Sangue. Isso mesmo – a Lua fica simplesmente avermelhada,
sangrando no seu percurso celeste.
Pude registrar
algumas imagens desse espetáculo raro. Digo com sinceridade: a visão que se
projetava no alto era dessas de não se esquecer jamais. Poesia de pura beleza. Algo que realimenta
nosso espÃrito tão massacrado pelas imagens brutais que assolam nosso
cotidiano. Vez ou outra, nós precisamos nos deparar com momentos como esse,
pois só assim conseguimos atravessar a correnteza dos dias com força e
esperança.
E fico
imaginando que, em tempos remotos, o homem primitivo, diante de uma mudança tão
impactante na tela celestial, como esta da Lua de Sangue, devia se pôr em
pânico ou em completo estado de adoração. Os deuses, naquele momento, estavam
exercendo seu poder, para o bem ou para o mal. A visão apocalÃptica devia
atirar esse homem tomado pelo sobrenatural em absoluto desespero. Quiçá até oferecesse
sacrifÃcios a esses deuses furiosos, na tentativa de aplacar o sangramento da
Lua.
Hoje, tomados
de ciência e descrença, encaramos esses fenômenos com soberba tranquilidade.
Podemos explicar quase tudo. O que ainda consegue nos assombrar? Ou talvez eu
deva perguntar: o que ainda consegue nos encantar? Sei que não estamos de todo
corrompidos pela urgência cotidiana, que nos afasta da contemplação. Há uma
fresta ainda aberta para a magia e o encanto.
E, através de um olhar desarmado de todo o aparato racional, nós podemos
nos entregar à fruição de algo tão belo assim, como este da Lua de Sangue. E sem medo, minha gente, de parecermos um
bando de lunáticos.
Geraldo Lima é professor, escritor, dramaturgo, roteirista e colabora com o Jornal de Sobradinho
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