COLUNA TEXTOS & TEXTOS por GERALDO LIMA
ÚLTIMA CRÔNICA DESTE ANO
(*) Geraldo Lima
I – EMBATE SEM FIM.
Tivemos uma das eleições presidenciais mais acirradas da
nossa história, – e parece não ter terminado ainda. A impressão que se tem é de
que o terceiro turno vai adentrar 2015 e não é preciso ser vidente ou Mãe Dináh
para saber que este não será um ano fácil. A tal elite paulistana, liderada
(pasmem!) pelo cantor Lobão, veio exibir seus colares de pérolas e roupas de
marca nas galerias do Congresso Nacional. Estava protestando, é o que dizem. Os
saudosistas da Ditadura Militar também andam aos brados pela Avenida Paulista,
num gesto retrógrado e inconsequente. Diante de imagem tão insana, diria Cristo
do alto da cruz: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
Ao final de todo esse imbróglio, esperamos que tudo se
resolva da melhor maneira possível, com o país andando nos trilhos sem pegar
nenhuma rota de colisão. O que todos nós queremos, como cidadãos que pagam
regularmente seus impostos, é que a corrupção, essa praga que aniquila nossas
esperanças de um dia nos tornamos um país desenvolvido, seja combatida com
firmeza e os envolvidos (doa a quem doer) sejam punidos exemplarmente.
II – VIDA QUE VAI, VIDA QUE CHEGA.
Este ano, a Dama da Foice não economizou na colheita e ceifou
a vida de muita gente boa, – gente que
faz falta ao nosso cenário cultural. Fez um estrago grande no time dos
artistas, escritores e intelectuais,
aqui e em terras estrangeiras. Vão dizer: isso é normal, que nesse time aí tem
muita gente, e a morte não descansa nunca, ceifando vidas a todo instante,
sejam elas famosas ou não.
No time dos escritores, por exemplo, ela levou, sem dó nem
piedade, três grandes da nossa literatura: João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna
e Rubem Alves. João Ubaldo escreveu um dos livros fundamentais da nossa
literatura: “Viva o povo brasileiro”. Um calhamaço, desses que param em pé na
estante. Ariano Suassuna, por sua vez, tornou-se um dos dramaturgos mais
populares do nosso tempo ao ter algumas de suas obras adaptadas para a TV e para
o cinema. É o caso da peça “Auto da Compadecida”, transformada em minissérie,
apresentada pela Globo, e depois em filme de grande sucesso em nossos cinemas.
Defensor radical da cultura popular brasileira, criou, juntamente com outros
artistas, o Movimento Armorial, com o objetivo de fundir cultura popular e
cultura erudita. Rubem Alves é outro
caso de popularidade. Em reuniões de professores ou em seminários sobre Educação
em terras brasileiras, quase sempre se faz a leitura de algum de seus textos.
Como diria Nelson Rodrigues: é batata! Educador e teólogo, ele fez, sem dúvida,
a cabeça de muita gente. A minha, propensa a nadar contra a corrente, criou
certa indisposição à leitura dos seus textos, – é que a onipresença tende a
provocar em mim uma atitude refratária. Para além das nossas fronteiras, a
morte silenciou Gabriel García Márquez, escritor colombiano ganhador do Nobel
de Literatura de 1982. Ele foi responsável, também, por criar o chamado
Realismo Mágico na literatura latino-americana. Seu maravilhoso romance “Cem
anos de solidão” é um exemplo genuíno desse gênero literário. No cinema
norte-americano, a vilã levou um ator de cujas interpretações eu gostava muito,
Philip Seymour Hoffman, e outro que sempre me provocou certa antipatia, Robin
Willians. Explico a causa dessa antipatia: ele, para mim, queria ser engraçado
em todas as ocasiões, e isso me pareceu sempre excessivo, chato até. Graça
demais cansa. Tolero-o em “Sociedade dos poetas mortos”, e só! Mas tenho
consciência da sua importância para o cinema de Hollywood e do quanto ele
arrancou risos de plateias pelo mundo afora. Seymour foi um ator denso, desses
capazes de nos fazer sentir a vida em sua força máxima. Ator com vida interior
intensa e força expressiva marcante. Um filme protagonizado por ele que
recomendo é “Dúvida”. De quebra, há ainda a presença arrebatadora da atriz
Meryl Streep. No Brasil, o estrago não
foi menor: a infeliz calou José Wilker, Paulo Goulart e Hugo Carvana, vozes e
expressões de relevo na televisão, no teatro e no cinema. Nossa mídia
televisiva, tão infestada de caras inexpressivas, ficou a partir de então mais
pobre e insossa.
Bom, a lista fatídica continua, daí o imenso estrago feito
pela “Indesejada das gentes”. O ano está findando, torçamos, então, para que
ela tenha já terminado seu triste e melancólico trabalho. A vida só não fica
sem sentido com tantas perdas porque, na contramão dessa atividade fúnebre, ela
se renova sempre. Daí eu saudar, neste texto, a chegada de duas novas
pessoinhas à nossa família, dois novos sobrinhos: Nícolas e Maria Flor. Vida
longa a vocês, pequeninos!
Feliz Natal a todos e a todas!
Um 2015 de superação e harmonia, se possível!
(*) Geraldo Lima é professor, escritor, dramaturgo,
roteirista e colabora com o Jornal de Sobradinho. Mantém o blog: www.baque-blogdogeraldolima.
blogspot.com.br
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