SAÚDE: AVC
Mulher sofre
AVC e é "adotada" por voluntárias de rede de combate ao câncer
Mulher que
viajava com o marido e a filha da Bahia para Minas Gerais tem um AVC próximo a
Brasília. Sem parentes ou conhecidos na cidade, família é adotada por
voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer, que atua no Hospital de Base
(*) Roberta
Pinheiro
Até o
socorro encontrar o local onde a família estava, passaram-se cerca de três
horas.
Uma família
de Irecê, interior da Bahia, faz as malas e, em busca de emprego, pega um
ônibus com destino a Patrocínio, em Minas Gerais. Expulsos da terra natal pela
crise que assola o país, Joscelino, Claudia e Maysa foram acolhidos, em
Brasília, pelo projeto Beija-Flor, da Rede Feminina de Combate ao Câncer. O
encontro aconteceu depois que Claudia sofreu um Acidente Vascular Cerebral
(AVC) no meio da viagem, passou por três unidades de saúde, que não tinham
condições de recebê-la, até chegar ao Hospital de Base do Distrito Federal
(HBDF), onde atuam as voluntárias da Rede.
Criada em
1996, a associação Rede Feminina presta assistência a pacientes com câncer, mas
também a outros que chegam ao hospital precisando de atenção. Caso de Claudia e
sua família. Há mais de um mês, a mulher está em tratamento na capital para
acompanhar as possíveis sequelas do AVC. Hoje, os laços que uniram baianos e
brasilienses ultrapassam o conceito de solidariedade e alcançam status de
parentesco. “Agora, fico com o coração apertado em seguir viagem para
Patrocínio”, comenta Joscelino.
Diante de um
cenário nada promissor na Bahia, o agricultor Joscelino Jesus da Cruz, 46 anos,
entrou em contato com um primo que mora em Patrocínio e decidiu se mudar para a
cidade mineira. Reuniu a mulher, Claudia Bastos da Cruz, 45, e a filha, Maysa
Bastos da Cruz, 5, e seguiu viagem. Ao todo, seriam percorridos mais de 1.400
quilômetros de ônibus. No entanto, um AVC interrompeu os planos da família.
“Acho que a gente estava a uns 200 quilômetros de Brasília, quando ela
(Claudia) teve a crise. Paramos o ônibus, chamamos os Bombeiros e fomos em
busca de atendimento”, relembra o agricultor.
Até o
socorro encontrar o local onde a família estava, passaram-se cerca de três
horas. Em seguida, um dia inteiro até a chegada ao HBDF. A equipe dos Bombeiros
tentou, sem sucesso, atendimento em Vila Boa (GO), município mais próximo
naquele momento, em Planaltina (DF) e em Sobradinho (DF). “Falavam que não
tinham condições de recebê-la. Não havia equipamento, recursos, leitos”,
relembra Joscelino. Claudia deu entrada no hospital de Brasília em 5 de
setembro. Ali, começaram os vários exames para descobrir a causa do AVC. “Até
então, só tinham visto que ela teve uma pequena alteração no coração, mas,
aqui, os médicos descobriram que minha mulher tem a doença de Chagas.”
Enquanto
isso, como nenhuma criança pode ficar em ambiente hospitalar e a família não
tinha conhecidos em Brasília, Maysa foi levada pelo Conselho Tutelar. “Deu
aquele aperto no coração. Estávamos eu e ela chorando muito. Será que vão tomar
a minha menina?”, questionou Joscelino, agarrado à filha. A criança não se
adaptou. Andava triste e não brincava. “Como não deu certo, tentei deixar a
Maysa com a família de um outro paciente, que estava no mesmo quarto que a
Claudia. Fizemos a documentação, tudo direito. Mas ela também não se adaptou”,
relembra. Foi naquele momento que Joscelino conheceu a Rede Feminina de Combate
ao Câncer. “Uma senhora me viu chorando e veio conversar comigo. Ela disse:
pode trazer sua menina para cá, que tomamos conta dela.”
Em busca de
amparo
Na cabeça do
agricultor, medo e desespero coexistiam. Enquanto a mulher estava em avaliação
médica, ainda sem falar nem abrir os olhos, ele precisava de ajuda para cuidar
da filha. No meio do turbilhão, uma das mulheres de camiseta rosa do HBDF levou
Joscelino para conhecer Vera Lúcia Bezerra da Silva, coordenadora das
voluntárias da Rede. “Estava na minha sala separando as fichas de pacientes
para escolher uma para participar do projeto Beija-Flor, quando ele chegou, e
eu perguntei: O senhor é minha missão? Ele respondeu que sim”, narra Vera.
Daquele momento em diante, um aperto de mão celou uma relação de amizade e
confiança.
Vera e as
outras voluntárias acolheram aquela família. Elas acompanham e ajudam em todos
os procedimentos. Seja dentro do hospital, seja fora dele. Maysa foi morar na
casa dos pais de Vera e voltou a brincar como qualquer criança da sua idade.
“Meu pai todos os dias liga para o Joscelino, mesmo sem conhecê-lo
pessoalmente”, conta Vera, ao descrever o laço que se criou entre eles. A criança
já saiu para conhecer Brasília, visitou a Catedral e descobriu um mundo
completamente novo: cinema e sanduíche. “A identificação com o pessoal da Rede
foi impressionante. Sou muito grato a tudo que estão fazendo pela minha
família. Já nos ajudaram com os exames, com os medicamentos”, comenta o
agricultor.
A pequena
Maysa é o sorriso da família. Enquanto o pai não sai do lado da esposa, ela
corre pelo quarto do hospital, come o doce da sobremesa e, claro, cuida de
Claudia. “Pai, minha mãe quer água”, interrompe a entrevista. Claudia ainda não
tem previsão de alta. Apesar de ter se recuperado bem do AVC, o cardiologista
pretende repetir alguns exames para garantir que está tudo bem. Até o momento,
ainda não se sabe exatamente quais foram as sequelas do acidente. A mulher está
com o lado direito do corpo paralisado, mas já balbucia algumas palavras,
interage e come normalmente. “Foi um momento trágico. Achei que ela fosse
morrer”, relembra Joscelino, com os olhos cheios de água. “Mas, hoje, ela está
bem, graças a Deus. Tivemos um bom tratamento das pessoas do hospital e fizemos
novas amizades. Assim que chegarmos a Patrocínio, depois da recuperação dela,
quero procurar um trabalho na cidade e oferecer uma estrutura melhor para as
duas.”
Acolhimento
O Projeto
Beija-Flor da Rede Feminina de Combate ao Câncer foi idealizado para realizar
sonhos e desejos de pacientes do Hospital de Base. São histórias como a de
Joscelino e sua família que são escolhidas a cada dois meses pelas voluntárias.
A proposta funciona desde 2008 e já realizou mais de 100 sonhos.
Quer doar?
Para ajudar
esse e outros projetos da Rede Feminina, que vive de doação e ajuda voluntária,
entre em contato pelos telefones (61) 3364-5467 ou (61) 3315-1221, ou acesse o
site www.redefemininadf.org.
(*) Fonte: Roberta Pinheiro /CB - Foto: Minervino Junior/CB/DA Press
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