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CIDADE: MORADORES DE SOBRADINHO TROCAM LIXO POR MUDAS DE PLANTAS




Cansado de ver tanto entulho espalhado por Sobradinho, Ilton Correa começou uma ação solitária, que tem ganhado o apoio de outros brasilienses

Quando alguém decide fazer um pouquinho pelo lugar onde vive, o mundo começa a mudar. Pelo menos é assim que pensa o ambientalista Ilton Correa, 49 anos. Motivado pela vontade de fazer algo pela região de Sobradinho — onde nasceu, foi criado e vive até hoje —, ele deu início ao grupo Caridade Verde. A ideia de Ilton de limpar e preservar o meio ambiente em que vive conquistou a simpatia de oito moradores da redondeza. Passados alguns meses, a iniciativa tem surpreendido. Apesar disso, precisa de ajuda e mais colaboradores para seguir em frente.

Há cerca de quatro meses, em uma de suas andanças por Sobradinho, Ilton se surpreendeu ao encontrar uma paisagem que tirava a beleza natural da cidade. “Notei a existência de vários focos de lixo, acúmulo de pneus e sujeira. Resolvi fazer alguma coisa”, recorda-se. Daí em diante, o trabalho se concentrou na limpeza das ruas e na criação de uma área verde. Caixas de papelão, restos de móveis, pneus e sacos abarrotados de lixo deram lugar a mudas de ipê, dama da noite, mogno e tamarindo.

Com a ajuda dos demais integrantes do grupo, Ilton pega sementes e as cultiva até chegar a hora de plantá-las pela cidade. Um terreno público, localizado na Quadra 8 de Sobradinho I, era conhecido pelo acúmulo de sujeira. Por lá, passavam ratos e baratas e o mau cheiro era constante. O local foi limpo pelo grupo de moradores e deu lugar a uma variedade encantadora de árvores e flores.

“No caso dos pneus, eu os recolho pelas ruas da cidade. Guardo tudo na minha casa, corto, pinto e utilizo para proteger as mudas que plantamos”, explica Jamaica, como é conhecido. Funciona assim: os sacos de lixo e entulho são recolhidos e descartados nos locais corretos. Os pneus, que antes acumulavam água e significavam risco para a saúde da população, são retirados das ruas e dos becos da cidade e ganham novo destino. Ao fundo, são feitos pequenos cortes, que evitam a concentração da água das chuvas, sobretudo nesta época do ano.

Em cada pneu, Ilton faz questão de escrever palavras de conforto e frases motivacionais.

A finalidade, segundo ele, é contagiar a população e arrancar sorrisos de quem passar por ali. “Muita gente tem perdido a essência. É importante voltar aos bons sentimentos”, pontua. Paz, saúde, amor e união são algumas das palavras estampadas nos pneus que ganharam nova vida. Alguns deles, inclusive, são recortados e coloridos de modo a formar imagens que podem ser vistas de longe. Em um dos lugares, uma flor feita de pneus acolhe cinco mudas de árvore. No futuro, o objetivo é recheá-la ainda mais com mudas de roseiras.

Corrente solidária – Apesar dos custos, tudo isso ocorre sem nenhuma ajuda governamental. O grupo, composto por costureira, ambientalista, cozinheira, professora, diarista, operadora de telemarketing, entre outros profissionais, tira dinheiro do próprio bolso para colaborar com o meio ambiente. Os recursos, que já não são muitos, logo vão embora. Mas o que sobra, no fim das contas, é a boa vontade e a preocupação com o futuro. Alisson da Costa, 12 anos, acompanhou a ação da última segunda-feira e sentiu-se inspirado. Na ocasião, foram plantadas sete mudas de árvores. Atento, ele viu tudo de perto e quase não piscava. “Eu acho interessante, porque poucas pessoas fazem isso. Quando eu crescer, quero ser metade ambientalista, metade jogador de futebol”, vislumbra.

A professora Lisdaura Cavalcante, 43, também se sentiu motivada a fazer parte do grupo. Atualmente, ela ajuda na divulgação das ações comunitárias desenvolvidas e acompanha cada novo projeto. Antes mesmo de saber o nome de Ilton, ela o viu carregando um monte de pneus pelas ruas de Sobradinho. Curiosa, ela chegou a pensar que o ambientalista trabalhava em uma das borracharias da região. “Eu passava por aqui e via todas as plantas bem cuidadas, via a praça bonita, cheia de pneus coloridos e decorados. Um dia, eu falei com o Jamaica e decidi ajudar”, conta.

Para que o projeto siga em frente, entretanto, é preciso que mais gente abrace a causa. “Mais pessoas precisam colaborar conosco. Ajudar ao outro pensando no meio ambiente é muito bom”, valoriza a professora. Cada um com sua especialidade pode colaborar, a exemplo da cozinheira Ana Lúcia de Sousa, 55. Levando uma vida simples, ela também decidiu entrar na corrente de solidariedade. Na prática, Ana decidiu traduzir seu amor pelos bichos em ações efetivas.


Fonte e Foto: Correio Braziliense

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