Jovem de Sobradinho supera cicatrizes de tumor no nariz e vira mister DF: 'Sofri bullying'
Ecktor Lopes
operou duas vezes e fez radioterapia após ter doença rara.
Ele virou
modelo para dar volta por cima e relata 'vergonha' na infância.
(*) Jéssica Nascimento
Modelo de
Brasília Ecktor Lopes,de 26 anos, descobriu um tumor no nariz aos 9 anos (Foto:
Ecktor Lopes)
Quem observa
o modelo Ecktor Lopes, de 26 anos, em passarelas e capas de revistas não
imagina o preconceito que ele sofreu na infância e adolescência. Atual Mister
Distrito Federal, ele desenvolveu um tumor raro na região do nariz aos 9 anos e
precisou ser operado duas vezes. O tumor tinha o tamanho de uma bola de tênis.
Com o tratamento vieram as cicatrizes. O rapaz foi alvo de "bullying"
no colégio. "Foi duro, sentia vergonha do meu rosto deformado", diz o
jovem.
Morador de
Sobradinho, Lopes conta que os sintomas do tumor surgiram de repente, com
sangramentos inesperados e em grande quantidade. "Meu nariz sangrava bastante
na escola e em qualquer atividade física que eu fazia. Para mim, era normal,
né, devido ao clima de Brasília ser sempre seco e quente."
Com o passar
do tempo, os sangramentos também ocorriam enquanto ele dormia. As dores e o
desconforto também aumentaram consideravelmente. "Deixei de fazer muitas
das coisas que eu gostava para evitar maiores problemas. Não corria e não
brincava de bola para não bater no nariz."
Após os
diversos sintomas, a família de Lopes o levou para fazer alguns exames no
Hospital Regional de Sobradinho. O jovem conta que tomou diversos medicamentos
e foi encaminhado para o Base.
"Hoje, evito
reclamar dos problemas. Vejo que a vida nos treina para sermos cada vez mais
fortes. Se hoje tenho minhas conquistas foi graças a todas as vezes que
levantei diante de todos os problemas. Sou eternamente grato a todos os anjos,
médicos e enfermeiros, que me ajudaram. Devo minha vida a eles. Se não fossem
os especialistas, talvez não estivesse aqui"
Ecktor
Lopes, mister DF
"Em
janeiro de 1999, o médico nos deu a notícia que eu tinha um tumor raro na
região do nariz internamente. A palavra ‘tumor’ assustou toda a família e
amigos. Eu tinha apenas 9 anos e achava que ia morrer. Vi todo mundo chorando e
com muito medo."
Os médicos
aconselharam que o modelo fosse levado para São Paulo, já que Brasília não
tinha os equipamentos necessários na época. O tumor desenvolvido por Lopes, um
angiofibroma juvenil, é benigno e atinge apenas meninos com idades entre 7 e 13
anos. Em março, Lopes fez a cirurgia de remoção, que durou sete horas.
"A
cirurgia foi muito complicada devido ao tamanho do tumor, que já atingia um
tamanho de uma bola de tênis. Na UTI passei muito mal, perdi muito sangue,
tiveram que chamar novamente a equipe de cirurgia para conter a hemorragia. Aos
poucos fui melhorando, saí do quarto e minha recuperação na enfermaria
começava."
O jovem
relata que não conseguia se olhar no espelho já que o rosto estava inchado e bem diferente do comum.
"Ficava feliz pelo fim do problema, mas me perguntando como seria minha
vida dali para frente, com o rosto daquele jeito e aquela cicatriz contornando
todo meu nariz."
Os episódios
de bullying duraram quase toda a infância e adolescência do brasiliense. Apesar
da cura, ele diz ter sentido vergonha do “rosto deformado". Segundo ele, a
baixa autoestima e as "brincadeiras" eram levadas a sério pelos
familiares.
Morador de
Sobradinho, Erick Lopes, após fazer cirurgia de retirada de tumor no nariz
(Foto: Erick Lopes/Arq Pessoal)
Lopes
continuou viajando para São Paulo durante dois anos. Diversos exames e
procedimentos foram realizados para evitar que o câncer voltasse. Entretanto,
após alguns meses, o nariz do modelo começou a sangrar novamente. Com os
sintomas, a notícia: o tumor tinha retornado.
"Diante da
minha transformação na adolescência, fui melhorando e a cicatriz foi ficando
cada vez menos visível. No começo, não modelava porque gostava, mas pelo peso
que carreguei durante a infância, dos meus momentos difíceis e para aumentar a
minha autoestima"
Ecktor
Lopes, mister DF
A mudança
não atrapalhou a visão, mas fez com que os olhos dele ficassem com cores
diferentes – um azul e o outro verde. "Um ano após a minha segunda
cirurgia, em uma das minha ressonâncias, novamente o tumor retornou, mas dessa
vez em uma área muito próxima ao olho. Se eu fizesse a cirurgia poderia perder
a visão. Tive que fazer um tratamento de radioterapia."
"Diante
da minha transformação na adolescência, fui melhorando e a cicatriz foi ficando
cada vez menos visível. No começo, não modelava porque gostava, mas pelo peso
que carreguei durante a infância, dos meus momentos difíceis e para aumentar a
minha autoestima", conta.
Jovem faz
selfie para registar faixa conquistada de Mister Distrito Federal 2015 (Foto:
Erick Lopes/Arquivo Pessoal)
Após o
convite, o modelo começou a participar de inúmeros trabalhos. Foram fotos,
propagandas e comerciais. No ano passado, Lopes concorreu ao concurso de beleza
Mister Distrito Federal e conseguiu o primeiro lugar. O modelo descreve a
emoção com o título como surpreendente e inesquecível.
"Hoje,
evito reclamar dos problemas. Vejo que a vida nos treina para sermos cada vez
mais fortes. Se hoje tenho minhas conquistas foi graças a todas as vezes que
levantei diante de todos os problemas. Sou eternamente grato a todos os anjos,
médicos e enfermeiros, que me ajudaram. Devo minha vida a eles. Se não fossem
os especialistas, talvez não estivesse aqui", diz.
Tumor raro
O
angiofibroma nasofaríngeo juvenil é um tumor benigno raro. Segundo a
otorrinolaringologista do Hospital Anchieta Larissa Vilela, a doença representa
até 0,5% dos tumores de cabeça e pescoço, e corresponde, na infância, a 60,7%
dos tumores benignos no nariz.
Outros
sintomas dependem do grau de extensão do tumor no momento do diagnóstico, como
respiração pela boca, dor no rosto, secreção recorrente, alterações no olfato e
na visão, mau hálito, rouquidão, surdez e anemia.
De acordo
com a chefe da oncologia do Hospital Santa Lúcia, Patrícia Werlang Schorn, as
opções de tratamento incluem cirurgia , radioterapia, embolização,
quimioterapia e hormonioterapia. Ela também afirmou que 1 a cada 150 mil jovens
no país têm o tumor. "A cirurgia é [...] o tratamento mais
importante", diz.
Ao lado
esquerdo, Ecktor Lopes, aos 9 anos se recuperando de câncer no nariz. No lado
direito, o jovem comemora a faixa de Mister Distrito Federal (Foto: Ecktor
Lopes/Arquivo Pessoal)
(*) Por Jéssica
Nascimento – G1/DF
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