COLUNA TEXTOS & TEXTOS POR GERALDO LIMA
DO CAMINHAR
ALHEIO AO MUNDO EM VOLTA
(*) Geraldo Lima
O celular facilitou, sem dúvida, a comunicação entre as pessoas. Longe vai o tempo em que tÃnhamos que enfrentar a fila do orelhão quando, fora de casa, precisávamos dar um telefonema. E eram grandes a ansiedade e a angústia quando, tomados de urgência, vÃamos alguém enfiando uma dezena de fichas telefônicas no aparelho e demorando uma eternidade num bate-papo descontraÃdo. Hoje a realidade é outra: estando na rua, cada um saca o celular e fala durante o tempo que quiser, – ou que durarem os créditos e a bateria.
Só que muitas
pessoas, de modo obsessivo, praticamente não largam o telefone celular. O
exemplo mais visÃvel dessa nova doença é percebido no hábito de muitas pessoas
falarem ao celular enquanto andam. E como falam! Penso que, Ã s vezes, nem
falam: fingem falar com alguém. Seria,
em boa parte dos casos, uma maneira de a pessoa evitar o contato com os
semelhantes. Uma tática para evitar que alguém se aproxime dela e puxe
conversa. Nesse caso, o celular serviria não para estabelecer e facilitar a
comunicação entre os indivÃduos, mas sim para evitá-la.
Falamos, aqui,
de um hábito que já se enraÃza na nossa cultura urbana. Um hábito que se
origina no surgimento de uma nova tecnologia que alterou, de forma
significativa, nossa relação com o espaço e o tempo. Que fez com que o futuro
(visto em parte só nos filmes de ficção cientÃfica) chegasse mais rápido ao
presente. E essa nova cultura funda, indubitavelmente, um novo modo de se estar
no mundo: um ficar alheio, durante horas a fio, ao que acontece ao redor.
(*) Geraldo Lima é escritor, dramaturgo,
roteirista e colabora com o Jornal de Sobradinho - edição Nº 298 referente a primeira quinzena de Maio de 2016.
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