ARTIGO
No
Simples, está o Belo!
(*) Olavo da Silva Aguiar. |
A simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais
alta riqueza de espírito. Dia desses convidei meu amigo Sena para pescar, e lá
se fomos. Seis horas de viagem. Em lá chegando, qual não foi nossa surpresa, no
dito ribeirão havia apenas alguns poços quase secando e os últimos lambaris
estavam sendo devorados por tuiuiús, garças, socós, mergulhões, Martinho
pescador e tantas outras aves que enriquecem o cardápio com peixe. Nota: (O
tuiuiú é considerado a ave símbolo do Pantanal, a maior ave voadora do Brasil,
mede até 1,60 metros de altura e até 3 metros de envergadura, de uma a outra
ponta da asa.) Já era final do dia e para que a viagem de volta não se tornasse
cansativa, resolvemos deixar para o dia seguinte. Do lado oposto do ribeirão
avistamos uma casa e para lá nos dirigimos. Uma casa bastante humilde bem
simples e o morador também. Coberta de sapé com apenas um quarto, as paredes de
taipa. Uma casa bem pequena e bastante deteriorada pela ação do tempo. O dono
da casa o Senhor Sebastião. (Tião Mandubé como é conhecido na região.) Nos
recebeu como se fossemos seus amigos, com uma alegria radiante e, imediatamente
nos franqueou para ali pousarmos. Entre uma e outra palavra, uma gargalhada
vinda da alma. Qual a razão do apelido? No tempo da cheia do ribeirão sempre
pesco alguns mandis mandubé. Mas eu não me importo não, pois mandubé é peixe
gostoso emendou. A essas alturas Dona Franquilina, a Lina para os íntimos, já
atiçava o fogo nas trempes providenciando o jantar, que mais parecia um
banquete, arroz, feijão, e mandioca frita. Um sabor completamente diferente,
perguntei a razão do sabor da comida: Nóis aqui não usa óleo cumprado, só banha
de porco, explicou Dona Lina. Atamos nossas redes e aí rolou a conversa, Tião
nos contava a coragem dos matadores de onça no passado, não usavam arma de fogo
e sim a zagaia. Ou seja, enfrentavam a bicha cara a cara. A noite era de lua
cheia, o brilho da lua mais parecia um presente de Deus. Abrimos um parêntese
para fazermos uma pergunta indiscreta ao Senhor Tião. Perguntei-lhe se sabia o
que era estresse e depressão. Sei não Sinhô, eu já vi dizê que essas doença e
dos povo da Cidade, ainda não chegô por aqui. Nem vai chegar é claro. A essa
altura bateu o sono e ali dormimos ao som do canto da cauã e da mãe da lua, que
se houve a quilômetros de distância. Os sapos regiam o grande coral. Às 5 horas
da manhã, estávamos de pé ouvindo o canto de uma infinidade de pássaros, como
que agradecendo pela noite de paz. Vidas pequeninas alentando nossas vidas. Uma
verdadeira magia, ver o amanhecer em plena natureza. Mais uma manhã na história
do mundo. O profeta Isaías orou assim: Obrigado Senhor, porque tu as fizestes
novas todas as manhãs. O importante é que ali não se falou de crise ou que a
vida tá difícil. Final da história: não trouxemos um só lambari, mas ali
tivemos uma lição de vida e plena certeza que, no simples está o belo.
(*) Por Olavo da Silva Aguiar – Pioneiro, Fundador da ACIS –
Associação Comercial e Industrial de Sobradinho e Colaborador do Jornal de
Sobradinho – Edição nº 310 referente a primeira quinzena de Novembro de 2016.
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