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UM 8 DE MARÇO PARA FICAR NA MEMÓRIA

(*) Geraldo Lima

Durante a semana que antecedeu o 8 de Março, li em jornais impressos, em sites de notícias e em postagens nas redes sociais que este ano as mulheres não iriam querer saber de flores nem dos habituais parabéns no Dia Internacional da Mulher. O objetivo seria outro, bem menos festivo: lutar para que seus direitos sejam garantidos, para que sejam respeitadas na sua integridade física e psicológica, para que possam decidir sobre suas vidas seja em que situação for. Li também que, para tanto, estavam se organizando em nível internacional sob o lema “Nem uma a menos”. E assim foram de fato às ruas, aos milhares. Contra o retrocesso que ameaça suas conquistas, já manifesto no governo Trump, por exemplo, é que elas estão dispostas a lutar – e já fizeram isso lá, nos Estados Unidos, assim que o novo presidente tomou posse.

Achei tudo isso de uma grandeza e de uma novidade fantásticas. De modo que não preciso aqui levantar bandeira nenhuma em nome das mulheres. Elas já estão de pé e dispostas a lutar. Aliás, já fazem isso desde o início do século passado. Paulatinamente, entre uma repressão e outra, foram conquistando, principalmente no Ocidente, uma participação efetiva na sociedade. Mas, segundo a voz que fazem ecoar nos quatro cantos do mundo, muito ainda há para se conquistar.

No Brasil, embora estejam presentes em vários postos de trabalho e de comando, as mulheres pouco têm a comemorar, e é por isso que estão pondo a boca no trombone. Só aqui no Distrito Federal, segundo dados de pesquisa feita pelo DIEESE, elas recebem 20% a menos que os homens, agora imaginem no resto do país. Além disso, a reforma da Previdência proposta pelo governo Temer ameaça prejudicá-las mais que aos homens. Quando se trata de violência doméstica, então, é que a coisa fica feia: os dados mostram que “mais de 500 mulheres são vítimas de agressão física a cada hora”. Isso sem falar no assédio sexual que sofrem constantemente no trabalho, na rua ou em vagões de metrôs. Ainda que a Lei Maria da Penha tenha inibido bastante a violência contra elas, os dados apontam para uma persistência desse mal entre nós. A cultura machista, que ainda impera em nossa sociedade, não pode suportar, em muitos casos, a ascensão feminina: o resultado, muitas vezes, é trágico para algumas mulheres.

Tudo isso nos faz pensar na urgência de uma revolução profunda na nossa cultura para mudar esse cenário. Nós, homens, teremos que ser reprogramados para conviver com mais harmonia e respeito nessa nova realidade que está aí, em que as mulheres, contrariando a expectativa dos que pregam o retrocesso, vão em busca de mais conquistas e igualdade entre os sexos. Para os que sonham com um retorno aos padrões culturais da Idade Média, o recado veio das ruas neste 8 de Março histórico com a marcha de milhares de mulheres mundo afora.

(*) Geraldo Lima (foto) é escritor, dramaturgo, roteirista e colabora com o Jornal de Sobradinho.

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