ARTIGO/ COLABORAÇÃO
A EXISTÊNCIA FAKE
Nada mais
sublime, transcendente, excepcional, divino e magistral do que a existência
humana. Este milagre da vida inexplicável e insuperável nos coloca como
privilegiados.
Distintos
das outras espécies nos caracterizamos pela atitude consciente, pela capacidade
de analisar e executar nossos atos, pela ação não-instintiva; desta forma,
temos o livre-arbítrio.
Em meio à
existência há uma correlação visceral com o tempo, ou seja, a partir da nossa
concepção até nossa extinção, o tempo é determinante.
Valor de
medida, o tempo age como um relógio inquietante e biológico de nossa
existência. Como uma reta, que por meio de uma linha imaginária estabelece a
menor distância entre duas posições, temos nestes caracteres o nascimento - que
é o ponto de partida -, e a morte - o ponto de chegada -; dentre esses dois
pontos temos a travessia.
Justamente a
travessia que determina qual a sua obra, qual o seu legado, quais as decisões
que o livre-arbítrio nos permitiu tomar. Somos seres históricos responsáveis e
intransferíveis de nossas biografias e protagonistas insubstituíveis de nossa
existência.
Bifurcados
entre decisões determinantes em quais alamedas caminharemos em nossa travessia,
muitas vezes, abrimos mão do conhecimento, tornamo-nos escravos nas obviedades
da mediocridade, renunciamos a essência, e coexistimos como fakes recheados de
vulgaridades e frivolidades.
Planejamos
um roteiro imaginário, olvidando-nos do elenco que compõe nossas vidas, afinal,
a contemporaneidade impõe um padrão de “felicidade” baseado no consumismo e na
banalidade.
Para
alcançarmos a plenitude do protótipo ditado, corrompemo-nos a demonstrar
através das redes sociais o que não somos, mas sim o que desejaríamos ser,
segundo o ditame estabelecido pela propaganda enganosa do ter e não do ser.
A felicidade
marqueteira carrega em si a mais nefasta vulgaridade atendendo, simplesmente, a
carência de valores altruístas com o objetivo de abastecer o consumismo, e
embute na existência humana o sentimento torpe da inveja de ter raiva da
“felicidade” alheia, uma vez que você não possui o que o outro tem, além de
impingir a coexistência indigna, pequena, banal, ignorante e vazia.
Coexistir na
sua inteireza é compreender a travessia como uma medida do tempo. É ponderar
que a singularidade da existência se baseia na fecundidade da essência e não da
escravidão da aparência.
Existir
abundantemente está muitas vezes na simplicidade e na honestidade valorativa.
Diz o
ditado: “Não importa o que a vida fez de você, mas o que você fez com o que a
vida fez de você”.
Afinal, a
existência humana não pode ser fake.
(*) Por Henrique Matthiesen (foto) Advogado , Escritor e Jornalista
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