ARTIGO / COLABORAÇÃO por Henrique Matthiesen
A
EXISTÊNCIA NUMA CASCA DE NOZ
Dentre os seres vivos que habitam o terceiro planeta do sistema solar, o único que reúne condições para a existência humana, com presença da atmosfera e da água em estado líquido, é o homem - que se diferencia dos outros seres vivos por ser o único a obter consciência, inclusive de nossa finitude.
Contudo, muitos acreditam na eternidade aqui; fato objetivo é que
somos mortais e, portanto, a imortalidade é uma questão de fé; crença
inatingível no terceiro planeta do sistema solar.
A consciência está diretamente entrelaçada com o tempo que representa
uma medida, uma proporção ou uma mensuração. O conhecimento, fruto do
aprendizado que nos torna conscientes, leva sua maturação com o tempo.
No campo filosófico temos duas importantes abordagens: a consciência
intencional, que está direcionada a alguma coisa da qual há consciência; e a não
intencional, que consiste em um mero reflexo da realidade que lhe é
apresentada.
Ocorrência inerente da consciência nos torna mais cautelosos;
porquanto, quanto mais a medida se alarga, ou seja, quanto mais o tempo passa,
mais temos consciência dos perigos e dos desdobramentos dos eventos.
Vetustez do tempo nos faz olhar as coisas com objetividade. Origina-nos
a lucidez, muitas das vezes indesejável, de que é preciso nos desconectar das
imensas mentiras e engodos que a existência nos impõe.
Barulho alto, este som ensurdecedor, muitas das vezes é artimanha para
impedir que se expresse a miserabilidade que se faz da existência inconsciente.
A ação impulsiva da contemporaneidade, do registro incansável de se publicar
tudo, é o reflexo do vazio existencial da modernidade.
Imperativo e urgente que o mundo inteiro, sem reserva, curta a vida
que eu não curto, que o mundo inteiro inveje a minha mediocridade intolerável.
É insuportável representar esse papel tosco de uma felicidade falsa
imposta inconscientemente. O único e revolucionário sentido é termos a consciência
e o mínimo de lucidez de uma existência fecunda honrada.
A consciência, muitas das vezes, vocifera que é preciso ser
despadronizado para o exercício da consciência, e assim será o único momento de
racionalidade, de lucidez, de saúde intelectual e espiritual.
É preciso ser livre, autônomo e desafiar; ao invés de permanecer no
palco alheio para representar uma existência escrita pelos outros em um roteiro
terceirizado. Para no derradeiro momento ter uma passagem digna, virtuosa e sabedora
de que apenas envelheceu e não se deixou levar pela decadência ruinosa, pelo
vexame do ridículo, da desonra do infortúnio. Purgamos ao longo da obtenção da
consciência.
A existência da escolha entre sermos épicos ou vulgares, teatrais ou
indiferentes, retóricos ou simples é tudo uma questão de consciência para enfim
chegarmos à plenitude da existência, numa casca de noz, e constatarmos que ali está
contido todo o nosso universo, toda nossa inteireza, pois aquilo que importa,
aquilo que vale, aquilo que move é nossa consciência.
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