GDF / 2019
(*) Ana Dubeux , Ana Maria Campos e Ana
Viriato
“O DF, há muito tempo, vive um
problema de segurança muito grande. Temos duas corporações que não se entendem
de forma alguma. Vou empoderar meu secretário de Segurança”
Considerado uma incógnita pela
população, o advogado Ibaneis Rocha começa a revelar seu estilo. O próximo
governador da capital promete trabalhar muito, tomar decisões duras, se
necessárias, enfrentar o corporativismo encastelado nos sindicatos, e priorizar
a qualidade dos serviços públicos. Escolheu um secretariado com nomes de
projeção nacional, porque aposta em soluções criativas. Mas garante que não
terá pudor de mudar a equipe se os programas não avançarem.
Político neófito, Ibaneis assume o
poder com compromissos gigantescos, como o pagamento de reajustes a servidores
públicos e investimentos em infraestrutura, ainda com a redução de impostos.
Ele toma posse, em primeiro de janeiro, já com um nó aparentemente desatado: o
destino do Centro Administrativo de Brasília, localizado em Taguatinga,
construído por meio de uma PPP, que é o centro de um dos mais recentes
escândalos do país.
Em entrevista concedida na Redação do
Correio, na última sexta-feira, quatro dias antes de assumir o poder, Ibaneis
contou que procurou órgãos de controle, negociou com as empresas que integram o
consórcio responsável pela obra e com a Caixa Econômica Federal, que financiou
o empreendimento. Ousadia é seu lema, coisa que, para Ibaneis, faltou na gestão
do antecessor, Rodrigo Rollemberg (PSB).
Logo nos primeiros dias, pretende se
dedicar à saúde, sem se desligar do combate à criminalidade e da educação. Na
segurança, aliás, pretende mudar um paradigma. Quer “empoderar” seu secretário
da pasta, o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que não será uma
“rainha da Inglaterra”.
Outra medida será mudar a equipe, por
meio de um “decretão”, com a exoneração de todos os cargos comissionados. Aos
poucos, vai nomeando seu próprio staff. Entre os gestores a serem definidos,
estão os administradores regionais, que serão indicados apenas depois da
eleição da Mesa Diretora da Câmara Legislativa.
Sobre os números em caixa, Ibaneis
prefere, por ora, não contestar as declarações de Rollemberg. Ele disse que deixa
para o sucessor R$ 600 milhões nos cofres públicos. Mas Ibaneis promete uma
avaliação criteriosa das cifras para apresentar à população nos primeiros dias
de sua gestão. “Se for verdade, vou receber e agradecer. Agora, se forem R$ 600
milhões com R$ 1 bi em dívidas…”, disse Ibaneis.
Falta
pouco tempo para a posse. O que ainda precisa ser definido até dia 1º?
Está pendente a questão das
administrações regionais. Recebi uma lista de nomes, algumas indicações de
políticos… Vou sentar com o pessoal da Casa Civil e fazer uma avaliação das
opções para publicar as escolhas no dia 2 ou 3 de janeiro. Vou esperar passar a
eleição da Câmara para, depois, fazer as indicações. Quero saber se todos vão
cumprir com o seu papel.
Como
funcionará a escolha dos administradores?
Ainda existe um questionamento muito
grande sobre a lei das administrações regionais, publicada após a Câmara
derrubar o veto do governador Rodrigo Rollemberg à matéria de autoria do Chico
Vigilante. O Ministério Público, em contato comigo, disse que está com a ação
[direta de inconstitucionalidade] pronta para o ingresso contra a proposta.
Então, farei a nomeação por um período inicial de três ou quatro meses,
enquanto isso se resolve. Talvez eu faça uma negociação com a Câmara e com
próprio Chico Vigilante para que encaminhemos à Casa projeto do governo
parecido com o dele, a fim de tornar a legislação constitucional e resolver
isso definitivamente.
Mas
os administradores terão mais autonomia?
A ideia é dar mais autonomia para as
administrações. Mandei fazer o dimensionamento de cada uma delas e o
levantamento das cidades que estão mais prejudicadas, pois as cidades que estão
mais novas e organizadas podem ter uma estrutura de administração reduzida. Com
o tempo, implementaremos mais infraestrutura nas administrações, levando
serviços como o Na Hora, e as tornando um grande centro de atendimento à
população.
O
senhor pretende fazer um decretão para exonerar todos os titulares de cargos
comissionados?
A ideia é fazer um decretão, mas, em
seguida, ir nomeando outros. Em alguns locais, que são muito sensíveis e têm
poucos funcionários, pedi que eles encaminhassem uma lista. É um caso que não
pode parar, por exemplo, o SOS Criança. São programas que precisam de
atendimento constante.
Pelo
seu estilo de tomar decisões rápidas, imaginamos que, em 1º de janeiro, o
senhor já vai querer fazer alguma coisa. Como será?
A ideia é entrar com medidas
emergenciais, principalmente, na área de saúde, que é muito carente. Tem muita
gente mal nos hospitais. Tenho recebido relatos horríveis: de corredores,
emergência. Então, estou com vários decretos sendo elaborados para que possamos
publicá-los já no dia 1º e colocar a reestruturação em prática.
E
nas outras áreas?
Também pretendemos fazer uma
reestruturação muito forte na área de segurança. O DF, há muito tempo, vive um
problema de segurança muito grande. Temos duas corporações que não se entendem
de forma alguma. Temos um secretário de Segurança que não tem poderes. Hoje, o
diretor da Polícia Civil e o Comandante da Polícia Militar chegam diretamente
no governador. Isso não vai acontecer mais. Eles terão de passar pela
Secretaria de Segurança. Vou empoderar meu secretário de Segurança. Vai ter de
ser feita segurança pública de uma forma bastante organizada, com hierarquia e
disciplina. Então, virão decretos na área da segurança para que possamos
organizá-la. Esse modelo que está aí desde o governo Arruda não funcionou, está
claro. Então, não será o nosso. Eu nem sequer vou atender Diretor da Polícia
Civil ou Comandante da Polícia Militar sem a presença do secretário de
Segurança.
Essas
corporações são muito fortes. O senhor tem ideia da pressão que vai sentir,como
ameaças de greve?
Não tenho medo de pressão. Não tenho
medo de greve. Tenho a população ao meu lado. Quem quiser trabalhar em
parceria… Vou respeitar todas as corporações, fazer com que elas possam crescer
e melhorar. Mas meu principal objetivo é entregar serviço para sociedade. É
para isso que fui eleito. Se eles quiserem impedir, vão encontrar alguém muito
duro, e vou colocar a população contra eles também. Então, acho que a hora é de
tentar harmonizar.
E os
compromissos que o senhor fez, vai manter?
Vou arcar com todos eles. Vou chamar
todas as corporações para conversar. Já estou trabalhando nesse sentido. Para
se ter ideia, o pessoal da Polícia Militar estava prestes a perder o
auxílio-moradia, que foi dado por decreto na época do Agnelo. Fui ao Tribunal
de Contas pedir para que os conselheiros não julgassem até que eu organize a
situação. Já estou trabalhando nesse sentido. Vou fazer o comparativo para
saber qual o reajuste de cada uma das forças. Então, vou sentar com eles e ver
qual a forma de pagar, e a partir de qual data.
No
final dessa conta, eles terão o mesmo salário?
A ideia é que seja pelo menos
aproximado. As estruturas são diferentes, então, fica muito difícil tratar
dessa maneira. Mas quero todos eles bem remunerados, trabalhando satisfeitos. E
temos muitos outros problemas de segurança. Digo isso de forma bem clara. Por
exemplo, o Fundo Constitucional, que era uma solução para o Distrito Federal há
anos, hoje está com um grande problema. Porque está se tornando um Fundo
Previdenciário: paga todos os aposentados da saúde, da educação e da segurança.
Esse é o motivo de termos, hoje, quase metade da corporação de policiais civis
e militares. Isso tem de ser resolvido. O Tribunal de Contas está lá para dizer
que não pode ser pago aposentado com o dinheiro do fundo. Você tem de dizer
para onde os inativos vão. Eles não podem continuar dentro do fundo.
Como
resolver essa questão?
O Tribunal de Contas vai dizer como
deve ser feito. A previsão, nesse ano, é de aposentadoria de quase 2 mil
policiais militares. Como contratar novos se você não tem a fonte de recursos?
Isso é um problema que precisa ser enfrentado. E, se as corporações continuarem
dessa maneira, acabarão. O fundo é finito.
Pretende
pagar a paridade da Polícia Civil com a Federal de uma vez ou vai dividir?
Não temos condições de pagar de uma
vez. Quero dividir. Acho que é uma maneira de dar o escalonamento e, conforme a
economia vá melhorando, teremos uma arrecadação melhor de tributos e podemos
até antecipar essas parcelas. Mas precisamos pensar dentro do nosso orçamento e
hoje. E, dentro do orçamento de hoje, dá para pagar uma parcela da paridade e
deixar as demais para os anos seguintes.
O
governador Rodrigo Rollemberg disse que deixará R$ 600 milhões nos cofres e que
isso facilitaria sua chegada. O senhor acredita nesses números?
Grande parte dos R$ 600 milhões vem
do meu esforço de ir atrás de recursos que estão sendo colocados dentro dos
cofres do DF. Essa questão que ele está colocando, eu não conheço. Mas números
não mentem. Então, dia 2 ou 3, terei todos os números do DF em mãos. Se os R$
600 milhões estiverem livres e, não comprometidos com contas a pagar, vocês
tomarão conhecimento. Prefiro não questionar. Se for verdade, vou receber e
agradecer. Agora, se forem R$ 600 milhões com R$ 1 bi em dívidas…
Desde
o fim do segundo turno, o senhor e Rollemberg têm mantido uma relação de
respeito, sem os embates da campanha. Acredita que vai continuar dessa forma?
Não tenho nenhuma vontade de acirrar.
Palanque é palanque. Desceu do palanque, somos amigos. Espero poder conversar,
contar com a experiência dele. Cada um tem seu estilo de governar. O dele, pelo
jeito, não deu certo, porque a população o rejeitou tremendamente. Espero que o
meu dê certo. Não quero sair do governo tão rejeitado. Minha ideia é continuar
convivendo com ele, como o fizemos no passado. Nada de muito amistoso. Nunca
fui na casa dele e ele nunca foi na minha. Mas, sempre que nos encontramos, nos
cumprimentamos de forma bastante respeitosa. A partir do dia primeiro, ele é um
ex-governador do DF que vai ser muito bem tratado por mim e espero que por toda
a população do DF.
O
senhor montou uma equipe muito ligada ao governo Temer. Por que foi feita essa
escolha?
Fui atrás de pessoas com experiência.
Por exemplo, a nomeação que fiz para a Terracap. Notei que a Terracap é um
verdadeiro banco imobiliário e tem condições, por meio dos fundos mobiliários,
de criar grande desenvolvimento para o DF. Então, busquei uma pessoa de
mercado. O ministro Occhi foi presidente da Caixa, estava no Ministério da Saúde
e é um camarada que tem respeito no mercado. Então, por meio disso, juntamente
ao BRB, podemos fazer muita coisa.
Há
uma reação do setor produtivo em relação ao nome do ex-ministro. Isso o
preocupa?
Ele vai saber se colocar junto ao
setor produtivo. É um camarada que tem uma visão de futuro muito grande. Mas
temos também que ter uma visão de que as empresas do DF passam por um problema
muito sério: foram tomadas de contas pelos seus funcionários. Eles só fazem
aquilo que interessa a eles; não estão mais preocupados com a cidade. Eu não
vou enfrentar esse tipo de situação. Não tenho nada contra os salários das
empresas, mas são coisas absurdas. Tudo que a Terracap produz, hoje, ela
consome internamente. Se você pegar o balanço da Terracap nesse ano, é isso que
está acontecendo. Uma empresa desse tipo não serve para mim. Uma empresa tem de
servir a cidade e, não a seus funcionários. Essa visão tem de mudar. Assim como
terá de mudar a visão de todas as empresas: Caesb, Metrô, Ceb. Vi, esses dias,
que houve autorização para que sejam vendidos R$ 675 milhões de ações da Ceb.
Esse dinheiro vai servir para quê? Para pagar contas daquilo que eles
consumiram. E a população está sofrendo. Vi o relatório da Ceb junto à Aneel. A
Ceb teve uma melhoria nas suas contas somente através do aumento de tarifas.
Nada por meio do aumento de eficiência. São coisas desse tipo que encontrei
durante a transição que não quero que permaneçam.
O
senhor pretende manter a venda de ações da CEB?
Se for vender R$ 675 milhões em ações
para pagar o rombo daquilo que a CEB não produz, não concordo. Esse dinheiro
tem de vir para investimento dentro da empresa, para que ela se valorize cada
vez mais. Essa é a mudança de pensamento que tem de existir. Porque o modelo
anterior não serviu. Temos uma ineficiência muito grande em relação à CEB, um
nível muito grande de reclamação e uma das tarifas de energia mais altas do
país. De que adianta ter uma empresa igual ao metrô, que está encastelado,
dando prejuízo para o governo do DF e para a população, por exemplo?
O
senhor pensa em fazer uma concessão do metrô, certo?
Não será feita a concessão apenas se
não aparecerem empresas interessadas. Vamos fazer o chamamento já nos primeiros
dias de janeiro. O metrô dá R$ 300 milhões de deficit todos os anos e não
atende a população. Porque, se fosse para pagar R$ 300 milhões, mas funcionasse
bem, acho até que valeria a pena, porque algumas coisas realmente são
deficitárias. Mas ele tem de dar um retorno. E qual o retorno que o metrô dá
para a sociedade? Vamos expandir o metrô, melhorar o atendimento, diminuir o
deficit e dar segurança para os servidores. Dou um exemplo: a grande maioria
dos metrôs funcionam sem bilheteiros. No DF, eles ganham quase R$ 8 mil.
O
que vai mudar na sua gestão?
Precisamos de um choque de gestão. E
esse choque de gestão vem de pessoas com experiência. Quando você traz um
ministro dos Transportes para assumir a Secretaria no DF, muda tudo. É uma
pessoa de altíssima experiência, foi superintendente do DNIT, conhece todos os
projetos. Uma pessoa dessa tem de estar no governo, independentemente do
partido ao qual é filiada.
Os
políticos não foram ouvidos?
Recebi muita reclamação dos
políticos, porque montei um secretariado sem ouvi-los. Em pouquíssimos casos,
houve indicação política. Nos casos em que isso aconteceu, foram indicações
pessoais minhas. É o caso do Wellington [Luiz], uma pessoa que me trouxe
bastante afeição pela serenidade e firmeza. Raimundo Ribeiro é outro exemplo:
um advogado que conheço há muitos anos, que sei do caráter.
Mas, durante a campanha, o senhor
havia garantido que não nomearia pessoas investigadas por corrupção. Bispo
Renato Andrade é réu por corrupção passiva e vai comandar a articulação entre o
governo e a Câmara Legislativa. Wellington Luiz é réu por peculato em um caso
de desvio de verba de emendas.
No caso do Bispo Renato, a articulação
com a Câmara não será um cargo de secretariado, mas uma assessoria parlamentar.
E não conheço o processo do Wellington — na certidão que me trouxeram dele, não
há nada que pese.
Qual
resposta o senhor deu para os políticos que reclamaram?
Disse que o governo que estamos
montando é um governo que beneficiaria todos eles. Se o governo der certo,
todos que nos apoiaram vão sair melhor ao final. Essa política do cargo fez com
que Agnelo não fosse para o segundo turno; fez com que Rollemberg chegasse ao
segundo turno com a eleição perdida. O que funciona é um governo eficiente.
Esse
discurso vai colar com os políticos?
Nós todos que fomos eleitos neste
pleito somos fruto da necessidade de uma política diferente. Tanto os deputados
federais e senadores, quanto os distritais, têm uma consciência política
diferente. Na Câmara Legislativa, por exemplo, há 18 deputados da minha base,
que integram 16 partidos. Se eu fosse atender, teria que entregar uma
secretaria para cada deputado. Que governo seria esse? É um jeito de fazer
política que assumi, e isso não tem me trazido problemas. Por exemplo, a
eleição da Mesa Diretora da Câmara Legislativa, pela primeira vez da história
do DF, foi decidida com duas semanas de antecedência. Isso é prova de que essa
é a política que deve ser feita. E eu não dei um cargo para ninguém.
O
senhor tem planos mesmo de disputar a Presidência?
Tenho planos para fazer um bom
governo. Sempre trabalho com aquilo que está em minhas mãos. Acho que vocês já
ouviram falar da história da cesta de ovos. Tenho uma cesta de ovos no meu
escritório por conta da história de uma moça. Ela ganhou uma galinha e foi
juntando os ovos para vender na feira. Na semana seguinte, achava que ia ter
duas galinhas, venderia mais e tal, mas, no meio do caminho, ela sonhou tanto,
que a cesta de ovos caiu e quebrou. Ela ficou sem nada. Trabalho minha vida
toda assim. Agora, eu sou o governador eleito. Terça-feira, serei o governador
empossado. Vou fazer um mandato muito bom, acompanhar o cenário nacional… Acho
que, na política nacional, há muita coisa para acontecer. Vou me dedicar à
população do DF e tentar resolver os problemas dessa cidade. Se isso me der uma
projeção nacional, tenho 47 anos de idade e posso fazer o que quiser da minha
vida. Já mostrei isso. Saí de 0,7% e cheguei a 70%. Então, disposição, força de
vontade e determinação não me faltam. Se eu cuidar bem do que tenho agora, lá
na frente escolho o que vou querer ser.
Qual
será seu estilo de governo? Algo do tipo prefeitão, como Roriz, que ia às ruas,
com o governo itinerante, atuando nas administrações, ou será mais reservado?
Eu sou mais de delegar e cobrar
resultados. Sempre falei isso. Por exemplo, quando indiquei o Rafael Parente
para a Educação, o fiz pelo currículo. Não o conhecia, mas fui atrás de
informações sobre a personalidade dele. Conheço alguns parentes, porque, por
incrível que pareça, a família dele também é do Piauí. Então, ele foi indicado
por suas qualidades técnicas e detém toda a minha confiança para mudar a
educação do Distrito Federal. Vou apostar no projeto. Então, não preciso estar
dentro da diretoria dele ou da Secretaria para saber se está dando certo ou
não. Agora, se um dia o índice relacionado à área cair, vou ter de chamá-lo
para resolver. Se não resolver, vou trocar. A questão de estar nas ruas com as
pessoas, eu gosto. Faz parte da minha vida. Mas não quero interferir nas
secretarias e nas administrações. Quem trabalha comigo sabe que sou rigoroso e
não adulo. Eu não tenho paciência com quem chega com problemas para mim e não
sabe a solução.
E a
questão ideológica do Rafael Parente?
Existe, hoje, uma guerra dentro da
educação sobre as questões ideológicas que vêm dessa luta de partidos nos últimos
anos. Acho que essa questão tem de ser pacificada. Enquanto houver essa briga
ideológica, você nunca vai conseguir resolver o problema da educação, que é o
principal. Hoje, temos um nível educacional muito baixo em quase todo o país;
uma formação profissional de péssima qualidade, tanto é que você não consegue
profissionais. Isso vem exatamente dessa guerra ideológica, que foi o
empoderamento, de forma equivocada, das ideologias dentro das escolas. Tenho um
meio-termo para isso. Vou começar a criar, no DF, algo que tem dado muito certo
em Goiás: escolas militares. Quero abrir várias unidades deste tipo e fazer um
comparativo. Em Goiás, por exemplo, as escolas militares têm dado um banho nas
outras. Aqui, é muito restrito. Há apenas duas. Quero ver escolas militares
funcionando no Gama, Ceilândia, porque, nesse caso, terei um comparativo por
região.
Acha
que o presidente Bolsonaro pode ajudar?
Acredito que sim. Tenho muita
esperança no presidente Bolsonaro. Ao contrário de muitos outros políticos,
acho que ele vem com vontade de realizar. Todo mundo vai errar, não tenho
dúvida. Eu também vou errar. Mas ele está com muita vontade de fazer, e detém a
esperança do povo brasileiro.
Qual
será o futuro do Mané Garrincha?
A Terracap está refazendo a
concessão, atendendo a observações do Tribunal de Contas do DF. Mas a ideia é
seguir adiante com a PPP. É um projeto muito interessante, que traz vida para a
cidade. Aliado com o projeto do autódromo, cujo edital foi publicado, acredito
que a gente vá conseguir remodelar o centro da cidade. Além do que, vamos
acabar com uma despesa muito grande do DF e mudar um pouco a visão desse
passado que foi tão ruim: um estádio construído com uma capacidade acima da
necessária, com grandes indicativos de corrupção. Temos que mudar essa visão da
cidade, para tirar esse estigma de que a coisa ficou errada. Quando tivermos
isso funcionando, trazendo benefícios, turismo e desenvolvimento para a
sociedade, vamos virar a página de uma vez.
Passamos quatro anos com Rollemberg
dizendo que não havia dinheiro. Hoje, olhando a máquina, o senhor acha que
faltaram recursos ou ousadia?
Acho que faltou ousadia. Não gosto de
criticar. Foi o modelo que ele adotou. Existem duas maneiras de governar: com o
que você tem e com o que você pode ter. A ciência do governante é criar
fórmulas para conseguir dinheiro. Dentro da lei, há possibilidades: PPP, PMI e
outras. Na minha visão, o bom gestor é criativo.
Qual
é o maior desafio seu neste primeiro momento?
É a saúde. Os relatos que tenho
recebido são de pessoas que estão dentro dos hospitais sofrendo muito.
Precisamos acabar, senão, pelo menos diminuir esse sofrimento. Terei três meses
para colocar as licitações para a cidade voltar a funcionar. A cidade precisa
voltar a crescer, e eu tenho encontrado muita alegria no olhar dos empresários,
talvez por causa do ambiente nacional, mas também daqui. Muita gente dizendo
que vai voltar a investir no Distrito Federal. Precisamos voltar a empregar as
pessoas. Brasília vive um grande problema de desemprego. Isso tem gerado muitos
outros problemas, na parte de segurança. Então, nossa prioridade é saúde em
primeiro lugar, além de segurança e educação, que vêm num passo importante nos
três primeiros meses, com reestruturação.
Como
vai ser sua rotina de trabalho?
Acordo cedo, às vezes às 4h da manhã,
já estou no escritório. Quero voltar à academia, pedalar e, aí, trabalhar até a
hora que der certo.
Na
área do funcionalismo, a licença- prêmio só é paga no DF e no Acre. O senhor
tem pretensão de extingui-la?
A licença-prêmio é devida. O problema
está na concessão. O certo é que se conceda a licença no período de trabalho.
Aí não fica dívida nenhuma com o gestor. No serviço federal, também há licença
capacitação. Mas lá as licenças são cumpridas.
Os
reajustes das 32 categorias também serão diluídos?
Essa também é uma preocupação minha.
O valor para pagamento deles, o governador (Rollemberg) já colocou no
orçamento, para pagar a partir de abril. O que me preocupa é o passivo que
ficou ao longo desses anos. O que eu soube é que já está em torno de R$ 4
bilhões. Uma coisa é ir para precatório. As ações estão ganhas. O Supremo está
dando decisões nessas ações monocraticamente. Então, os processos estão
descendo, estão transitando em julgado, serão executados e a remuneração das
dívidas judiciais. Falo disso com propriedade, porque conheço, são mais altas
do que as de banco. Tem todo um cálculo que eleva muito essa dívida. Os
governantes preferem colocar em precatório e ir empurrando. Vou organizar e ver
na área financeira se existe uma possibilidade de acordo, via Tribunal de
Justiça. Temos que reduzir essa fórmula tradicional que causa mais prejuízo aos
cofres públicos.
Já
resolveu o que fazer com o Instituto Hospital de Base?
A manutenção dele está definida. Mas
o modelo vai mudar quase integralmente. Tem muitos processos de gestão
avançados, inclusive programas de cadastramento de pessoal, de atendidos, que
podem ser ampliados para várias unidades do DF. Mas o principal, o modelo de
contratação e de compras, tem que mudar. Há muitos questionamentos em relação
aos valores, à forma de contratação de pessoal, salários que são pagos, aquilo
que nós dissemos durante a campanha, que era uma ilha de excelência dentro de
um mar de problemas é exatamente isso. Na maneira como criaram, não tem como
atingir a base. Não quero uma ilha de excelência. Quero uma saúde de
excelência. Enquanto o pronto-socorro está sofrendo, dentro do instituto, está
tudo bem.
A
residência oficial será mantida para o fórum de governadores?
Não só para isso. Para reuniões de
secretarias, para eventos com servidores, cursos de qualificação, encontros de
secretários. Quero transformar aquilo em um centro para todo o governo.
Para
vários governadores eleitos, o grande desafio é o ajuste fiscal. O senhor
também pensa assim?
Quando falo de choque de gestão, falo
de choque de eficiência. Tem que começar a trabalhar com um ponto: o servidor
público parece que esqueceu que serve ao público. Ele serve a ele próprio. Isso
tem que mudar. Quando eu falo em choque de gestão, falo mais nas entregas
públicas. Temos que ensinar o servidor a fazer entregas e, para isso, ele
precisa ter prazer em trabalhar. São duas coisas que estão dissociadas: prazer
em trabalhar e entrega pública e, no meio disso, está a boa remuneração que
todo mundo quer ter. Vou fazer como o pai faz com o filho, entrega com uma mão
e cobra com a outra. De acordo com a política que ele estiver realizando, ele
vai ser mais ou menos valorizado.
O
destino do Centrad está definido?
As negociações estão muito avançadas.
A partir da avaliação que o próprio governo Rollemberg fez, mais a avaliação da
Caixa e uma pré-avaliação da Polícia Federal, soubemos que dá em torno de R$
540 milhões, a obra. Aplicamos, então, o índice do Tribunal de Contas da União
(TCU). Chegamos, então, ao valor de R$ 890 milhões. Vamos comprar o prédio.
Eles fizeram uma condição especial. Falamos em juros de 6,25% ao ano, 24 anos
para pagar e 24 meses de carência. Não tenho relacionamento nenhum com as empresas,
que responderão pelos seus problemas junto à Caixa. Tudo isso será submetido ao
Ministério Público e aos demais órgãos de controle. Sabe o que importa mais em
tudo isso? Não é só o Centrad. Você tem a esperança de metade da população do
DF, que está entre Samambaia, Taguatinga e Ceilândia. Eles dependem daquilo ali
para o desenvolvimento. Segundo lugar: o maior agente financiador de obras
públicas deste país é a Caixa Econômica, seja na área de infraestrutura, seja
saneamento básico, seja moradia. Só o fato de eu ter sentado à mesa para
negociar fez com que eles liberassem 12,4 mil moradias. O maior projeto de
moradias deste país vai ser aqui. Eles estavam com tudo embarreirado, mas
assinaram o contrato com a JC Gontijo para fazer o Itapoã Parque. Eles ainda
estão lá com R$ 320 milhões para fazer o túnel de Taguatinga.
E o
GSI? Sai ou não?
Estou encontrando muitos problemas de
natureza legislativa. A legislação que rege a questão é toda federal. Então, o
presidente da República precisaria mandar um projeto de lei para o Congresso.
Não é falta de vontade. Tenho muita, inclusive. O GSI funciona bem nos locais
onde existe. Há equilíbrio entre as forças militares e civis. Isso é muito
importante, porque, aqui no DF, existe o conflito entre as corporações. É uma
forma de integração. Talvez, encontre algum problema para implementar o GSI,
porque o novo presidente tem origem militar, mas tudo isso está sendo estudado.
No primeiro momento, terei de conviver com a Casa Militar.
(*) Por Ana Dubeux , Ana Maria
Campos e Ana Viriato/ Correio
Braziliense
Saiba
mais. Acesse:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2018/12/30/interna_cidadesdf,727915/precisamos-de-um-choque-de-gestao-diz-ibaneis-em-entrevista.shtml
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