Moradores do Assentamento Contagem, na Fercal, receberam o título de domínio definitivo sobre a terra em que residem e produzem itens agrícolas
Famílias do Assentamento Contagem conquistam regularização de terra
Dezenove
chácaras receberam o título de domínio definitivo por meio de iniciativa do
Incra, em parceria com o GDF; produtores ocupam espaço há 28 anos
A titulação permite benefícios como a ampliação do acesso a linhas de crédito e a inserção nas cadeias produtivas ligadas à agricultura familiar. Apenas neste ano, mais de mil chácaras receberam o documento no DF e Entorno
Moradores do Assentamento Contagem, na Fercal, receberam o título de domínio definitivo sobre a terra em que residem e produzem itens agrícolas. Ao todo, 19 parcelas foram regularizadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), responsável pelo DF e Entorno, em parceria com a Secretaria de Agricultura (Seagri) e a Emater. Agora os chacareiros são oficialmente donos do espaço em que firmaram as próprias raízes.
“Os moradores sabem da importância de ter um título. Ajuda com a sucessão familiar, garantindo que de fato o terreno ficará para os herdeiros, e com a concessão de créditos. Nenhum banco empresta dinheiro sem segurança. A entrega inicial é um incentivo para que o restante resolva o que falta e busque a regularização”, explica o secretário-executivo de Agricultura, Luciano Mendes da Silva. Os títulos foram entregues na última sexta-feira (27/5).
Um
sonho realizado para moradores do Assentamento Contagem, como os agricultores
Lucia Maria e Francisco Rodrigues | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília
Criado há 28 anos, o Assentamento Contagem é dividido em 49 parcelas, nas quais moram de uma a quatro famílias. Do total, 30 parcelas ficaram fora da entrega inicial de títulos definitivos devido a problemas com documentação e pendências no cadastro. Mas todas devem estar regulamentadas até o final de 2022.
“Os
moradores sabem da importância de ter um título. Ajuda com a sucessão familiar,
garantindo que de fato o terreno ficará para os herdeiros, e com a concessão de
créditos. A entrega inicial é um incentivo para que o restante resolva o que
falta e busque a regularização”
Luciano
Mendes da Silva, secretário-executivo de Agricultura
O título de
domínio transfere o imóvel rural ao beneficiário da reforma agrária em caráter
definitivo, depois de cumpridas as obrigações indicadas no Contrato de
Concessão de Uso, celebrado entre o Incra e as famílias durante o processo de
instalação nos lotes. A titulação permite benefícios como a ampliação do acesso
a linhas de crédito e a inserção nas cadeias produtivas ligadas à agricultura
familiar. Apenas neste ano, mais de mil chácaras receberam o documento no DF e
no Entorno.
O
administrador da Fercal, Fernando Madeira, lembra que a luta para conseguir as
escrituras não chegará ao fim até que todos tenham o documento em mãos. “Desde
2018 estamos lutando para que isso aconteça. Representamos o governo junto à
comunidade e a comunidade junto ao governo. Participamos de muitas reuniões,
ajudamos diretamente os moradores que estavam com dificuldades para encontrar
os documentos ou para entender a legislação. E vamos continuar”, salienta.
A gerente do
escritório local de Sobradinho da Emater, Clarissa Campos Ferreira, afirma que
o desenvolvimento do assentamento é ampliado quando os moradores têm a situação
esclarecida perante a lei. Ela ressalta o papel dos instrumentos públicos para
o aumento na produção e, consequentemente, de renda.
“A Emater
acompanha o Assentamento Contagem desde o início. Todas as construções tiveram
o apoio e incentivo do órgão. Oferecemos suporte técnico e equipamentos,
criamos associações para facilitar a troca e o diálogo entre os chacareiros,
como a Associação de Produtores de Bananas. Com a regularização, o apoio deve
ser ainda maior e os produtores terão a certeza de que a herança será repassada
aos filhos e netos”, diz a gerente.
Mais
qualidade de vida
Os moradores
do assentamento produzem, principalmente, frutas e hortaliças. O resultado do
plantio é revertido para a subsistência dos produtores e para comercialização
em feiras de Sobradinho e da Asa Norte, bem como para fornecimento ao Programa
de Aquisição de Alimentos do GDF.
A presidente
da Associação de Moradores do Projeto de Assentamento Contagem, Maria das Dores
Moraes, uma das contempladas com a escritura do terreno, relata que a busca do
tão sonhado registro definitivo durou mais de dez anos: “Foram anos de muita
luta. Passamos dias fora pra ver se conseguíamos resolver isso, às vezes não
dava tempo nem de almoçar. É uma vitória muito grande”.
Desde 1999 no assentamento, Maria afirma que as chácaras estão se desenvolvendo cada dia mais devido aos investimentos de verba pública na região. “Cheguei aqui e, misericórdia.. Não tinha transporte, não tinha luz. Hoje, minha qualidade de vida é totalmente diferente. Temos mais conforto, mais acessibilidade”, diz ela, que recebeu, entre outros suportes governamentais, assistência técnica da Emater.
Moradores do
Assentamento Contagem produzem frutas e hortaliças para comercialização em
feiras e também para o próprio consumo
A chácara da
agricultora Lucia Maria Oliveira Rodrigues, 60 anos, também recebeu o título de
domínio definitivo. Na parcela de terreno, com cerca de 20 hectares, ela e o
marido produzem hortaliças variadas, como seis tipos de alface, rabanetes,
quinoa, além de banana e muito mais. A produtora rural nasceu no Maranhão e,
antes de se estabelecer no assentamento com a família, duas décadas atrás,
trabalhava como diarista.
“Quando a
oportunidade surgiu, agarrei. Acho que o ser humano precisa valorizar a terra.
Se faltar gás, tem lenha pra cozinhar. Podemos produzir nossos alimentos e
comer com fartura, diferentemente da cidade, em que tudo tem que comprar”,
comenta Lucia. “Receber o título foi uma das coisas mais esperadas da nossa
vida. Não tenho nem palavras para dizer o quanto foi maravilhoso. Fiquei muito
feliz, a chácara é nossa.”
O marido de
Lucia, o agricultor Francisco Rodrigues, 61, cresceu vendo os familiares
plantando e colhendo, diariamente. Hoje, ele segue o exemplo. “Às cinco horas
da manhã já estou de pé. A gente colhe tudo fresquinho, cuida, embala e vende,
ou então come”, conta. O carro-chefe da produção da família é a mandioca,
comercializada in natura, como massa para bolos e pães, em feiras e no sistema
de entrega por encomenda.
Fonte: Catarina
Loiola, da Agência Brasília, Edição: Débora Cronemberger
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