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Fiscais apertam o cerco contra o comércio de cigarros eletrônicos
No DF, o monitoramento de possíveis pontos de venda é feito diariamente por 100 fiscais da Diretoria de Vigilância Sanitária com apoio das forças policiais, por meio de denúncias
Especialista
alerta que cigarros eletrônicos e narguilés têm um índice de nicotina bem
superior a dos cigarros tradicionais
Embora proibida desde 2009, pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvia), a venda de cigarros
eletrônicos vem ocorrendo livremente no país. Pelo menos 33 empresas têm prazo
de 48 horas, tão logo sejam notificadas, para suspender a comercialização do
produto, também conhecido como vape, em todo o território nacional. Agora, a
afronta à determinação da agência implicará multa diária de R$ 5 mil, segundo
portaria editada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, na última
quinta-feira.
A decisão impõe uma ação mais
ostensiva aos órgãos de fiscalização do Distrito Federal, estados e municípios.
Na capital federal, o monitoramento é de responsabilidade da Diretoria de
Vigilância Sanitária (Divisa), que conta com 100 fiscais e apoio de policiais
para checar as denúncias recebidas. A Divisa, por meio de nota, informou que
"no momento, também estão ocorrendo ações de fiscalização de
estabelecimentos noturnos, ou com grande fluxo nos fins de semana, tais como bares,
tabacarias e em porta de festas e afins", informa.
Alto consumo
O Distrito Federal é a unidade da
Federação com maior consumo de cigarros eletrônicos no país, com prevalência de
30,8%, seguido pelo Paraná (27,6%) e Mato Grosso do Sul (25,2%), segundo estudo
de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, com base em dados da
Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
A decisão repercutiu não só entre
órgãos fiscalizadores, mas no meio de pessoas que fazem uso do cigarro
eletrônico. O estudante de direito Luiz Fernando Rezende, 20 anos, fuma cigarro
eletrônico desde 2020 e não vê sentido na proibição da comercialização a do
produto, uma vez que nada impede a venda de cigarros e de bebidas alcoólicas.
"No Brasil, temos a indústria tabagista e a indústria das bebidas alcoólicas
operando em larga escala", comenta.
Os que não fazem uso frequente também
criticam a decisão. Para a estudante de farmácia Jéssica Fernandes, o certo
seria a regularização, com base nos possíveis malefícios do vape à saúde.
"Acho que as pessoas deveriam ter o direito de utilizar. Mas deve ter mais
regulamentação, porque, por mais que o cigarro comum seja prejudicial, o
eletrônico tem uma carga de nicotina muito maior", avalia a estudante que
usou vape no último semestre de 2022, mas parou devido a problemas de saúde.
Além do vaping
Outra discussão reacesa foi a do uso
de narguiles — cachimbo de água de origem oriental —, utilizado para o fumo de
tabaco. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de
2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50,6% dos
jovens entre 13 e 17 anos tinham feito uso do item.
O estudante de direito João Marco, 22
anos, morador do Cruzeiro, relata os efeitos negativos do uso do narguilé, a
que foi exposto precocemente. "Comprei um narguilé chinês aos 12 anos, na
Feira dos Importados. Mesmo sendo proibido para menores, o vendedor não pediu
identidade. Era tudo de péssima qualidade, carvão, tabaco e os itens
componentes", relata.
Marco reduziu o fumo do narguilé e
afirma que o uso demasiado pode provocar danos à saúde. "Além da
dependência, pode causar perda de fôlego e de resistência física, tontura,
perda de apetite, impotência sexua, e deixa a pessoa vulnerável para o efeito
de outras drogas pelo acúmulo de toxinas no corpo", afirma.
Especialista em diversas áreas de
saúde alertam sobre o uso continuado do cigarro eletrônico, que causa sérios
danos ao organismo. "No caso específico do cigarro eletrônico, surge uma
nova doença que recebeu o nome de Lesão Pulmonar Induzida pelo Cigarro
Eletrônico (Evali), sigla em inglês para designar doença respiratória oriunda
do consumo desse produto", explica o médico Ricardo Luiz de Melo Martins,
pneumologista no Hospital Universitário de Brasília (HUB) e professor da
Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB). A Evali provoca tosse,
falta de ar ou dificuldades para respirar e dor torácica. No Brasil, até 2020,
foram confirmados sete casos da doença.
O médico também adverte que, ao
contrário de diminuir a dependência para os que desejam parar de fumar, o uso
de cigarros eletrônicos aumenta a dependência, sendo de difícil tratamento.
"O cigarro eletrônico e o narguilé são estratégias introduzidas pela
indústria do cigarro para dar nova roupagem ao consumo do produto. Todos
extremamente danosos à saúde. A dependência de nicotina é uma das mais difíceis
de se tratar. Uma vez dependente, o paciente deve ser conduzido para uma
modalidade de tratamento que envolve uso de técnicas psicoterápicas associado a
adesivo de nicotina ou medicamentos que diminuam a dependência desta
droga", concluiu.
*Fonte: Carlos
Silva/CB, Luciana Duarte/CB - Estagiários sob a supervisão de Rosane Garcia/CB-
Foto: Reprodução
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