A inauguração é um marco para a cultura da capital e um esforço para preservar a tradição maranhense na cidade, aonde o mestre Teodoro Freire chegou, em 1961, junto com a esposa Maria Sena
Museu do Bumba meu boi de Seu Teodoro foi inaugurado em Sobradinho
A inauguração é um marco para a cultura da capital
e um esforço para preservar a tradição maranhense na cidade, aonde o mestre
Teodoro Freire chegou, em 1961, junto com a esposa Maria Sena
Imigrantes de todo país não ergueram
apenas as estruturas de concreto armado dos imponentes monumentos de
Brasília. A cultura de cada um dos lugares de origem dessas
pessoas também foi, e ainda é, a matéria-prima para a construção da jovem
capital do Brasil. Mestre Teodoro Freire chegou aqui no
primeiro aniversário da cidade, em 1961, junto a esposa Maria Sena. Na bagagem,
o maranhense e a piauiense trouxeram o Bumba meu boi de Zabumba. O Centro de
Tradições Populares de Sobradinho foi fundado pelo casal dois anos depois e é
mantido vivo desde então por toda a família.
Como forma de eternizar a história do
Boi no DF, foi inaugurado o Museu do Boi de Seu Teodoro, no
Centro de Tradições Populares, que vai contar ao público a trajetória da
tradição desde a sua chegada ao DF. Gilvan do Vale, que é o diretor no futuro
espaço cultural, conta que a iniciativa é uma forma de resgatar a história e
mostrar como se deu a transição de sotaques, termo que pode ser entendido como
"ritmos". O instituto cultural Rosa dos Ventos ajudou a materializar
o sonho de criação do museu.
Para quem não entende de Bumba meu boi,
existem diversas variações de ritmos dentro do gênero. Quando Teodoro e Maria
Sena chegaram do Rio de Janeiro, lugar onde passaram antes de virem morar no DF
e tocaram boi pela primeira vez, a brincadeira era feita com o sotaque de
zabumba. Com o tempo, o sotaque foi mudando para o da baixada maranhense, uma
outra variação, originária daquela região no estado onde nasceu seu Teodoro.
"No museu, vamos encontrar as figuras do boi nos dois estilos, bem como as
indumentárias usadas ainda no Rio e os elementos usados mais recentemente pela
tradição no DF", detalha o diretor.
Ao mesmo tempo assustador e encantador,
o Cazumbá é outra figura que vai estar exposta no Museu de Seu Teodoro. O
personagem é típico do Boi da Baixada. Mãe Catirina e Pai Francisco,
personagens centrais da lenda que deu origem ao Bumba meu boi, estarão expostos
aos visitantes. "O público também terá acesso à parte sagrada da cultura,
com altar e imagens de São Sebastião, São João e São Pedro, os santos
envolvidos na tradição do Bumba meu boi", antecipa Gilvan. Os
instrumentos são outra atração à parte da tradição maranhense que o brasiliense
também vai poder conhecer, como os tambores, cuja afinação é feita no fogo e
usado também no tambor de crioula, e a matraca.
Seu Teodoro tinha o costume de convidar
conterrâneos para vir morar em Brasília e ajudar a compor a brincadeira do boi
na capital. Em um desses chamamentos, veio Gilvan do Vale, em 1991, que se
estabeleceu aqui desde então. "A grande importância do museu, além de
resgatar a memória do boi, é também fazer com que as pessoas vejam como o nosso
trabalho é feito com amor. Fazer cultura não é fácil e essa é oportunidade para
que valorizem essa tradição", comemora o maranhense.
Legado
Seu Teodoro morreu aos 91 anos, em
2012. Ao longo da vida, encarregou-se de passar para os 10 filhos o amor que
tinha pela cultura que trouxe do berço, da baixada maranhense. Um deles é a
historiadora cultural Tamá Freire, 58, que vem desempenhando o papel de
preservação da memória do Centro de Tradições Populares de Sobradinho há
décadas. "Meu pai, se vivo, estaria muito feliz com a inauguração do
museu. Era o sonho dele", pontua. "O Museu do Boi de Seu Teodoro é
muito importante, porque muitos sequer conhecem o trabalho que fazemos no
centro".
Tamá lembra que o pai dizia que
Brasília sempre recebeu muito bem a cultura do boi, mas ela tem algumas
ressalvas em relação a essa receptividade. "A cidade ainda deve uma
atenção maior para o boi. Nós ainda nem temos a escritura definitiva do espaço
do qual temos o direito de uso. Sem a documentação, a captação de recursos fica
mais difícil," desabafa.
O bumba meu boi é uma brincadeira que
demanda muitos recursos, tanto na confecção das indumentárias e do próprio boi,
quanto na manutenção dos espaços onde as apresentações ocorrem, mas Tamá não
desanima com as dificuldades. "A comunidade do boi, formada pelos
maranhenses que meu pai trouxe para cá e seus descendentes, são a nossa força
para se manter em pé e seguir em frente."
Dona Maria Sena está com 90 anos e não
esconde a felicidade de ver a inauguração do museu em homenagem ao trabalho que
ela e o marido construíram juntos. "É uma maneira de recordar o que já
passou e homenagear seu Teodoro. Para construir esse patrimônio, foi preciso um
pouquinho de sacrifício e hoje temos esse espaço para contemplar a cultura
popular", diz a matriarca.
Festa
A inauguração do Museu do Boi de Seu
Teodoro aconteceu no último dia das festividades de São Sebastião, que começaram em 10
de janeiro. E ontem, sexta-feira, a festa começou às 16h, com o lançamento do novo
espaço cultural. Mas a festa seguiu até meia noite, com procissão, derrubamento
do mastro de São Sebastião e apresentações do Bumba Maria meu Boi, Tambor de
Crioula de Seu Teodoro, Larissa Umaytá, Boi de Seu Teodoro e Bola Preta de
Sobradinho.

Centro de Tradições Populares de Sobradinho — fica na Quadra 15, Área Especial N° 02.
Fonte: Naum Jiló/CB , Fotos: Webert da Cruz
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