Sobradinho Feminino vive turbulência entre atletas e gestora
Sobradinho Feminino vive turbulência entre atletas e gestora
Apesar da classificação para a Série A3 do Brasileirão, fora das quatro linhas a situação foi bastante incômoda para as atletas do Sobradinho. Profissionais passaram por momentos turbulentos internamente
A final do Campeonato Candango está chegando, mas situações que
ocorreram durante toda a primeira fase da competição local estão vindo à lume
por agora. Classificado para a Série A3 do
Campeonato Brasileiro Feminino, o Sobradinho, que dentro de campo
demonstrou muita raça, inclusive terminando a fase inicial de forma invicta,
vem sendo alvo de acusações de displicência e situações constrangedoras por
parte da atual gestora.
Nesta temporada, o Sobradinho disputa pela segunda vez consecutiva o
Candangão Feminino. Com diversas contratações de jogadoras conhecidas no
Distrito Federal e promessas da bola, o clube alvinegro tinha a missão de fazer
uma participação melhor do que na temporada passada, quando o esquadrão preto e
branco terminou na última colocação acumulando sete derrotas e um saldo de -56
gols.
A equipe começou o ano liderada por Shara Figueredo, que anteriormente
comandava as Leoas da Serra, mas ela logo caiu antes mesmo da principal
competição do ano começar. Em 2022, Shara foi convidada por Túlio Lustosa para
tocar o projeto do Sobradinho Feminino, já que era conhecida pelo projeto do
Fúrias, time de futebol feminino amador da cidade de Sobradinho
e região. Porém, em 2023, as coisas mudaram.
Shara Figueredo e Tiago Santana, treinador da equipe, montaram o elenco
para a disputa do Candangão Feminino. A dupla foi atrás de atletas com mais
renome, mesclando com jovens jogadoras. Andrea Pontes chegou no clube como uma
patrocinadora da equipe. No entanto, foi tomando conta do espaço e ganhando
confiança do atual presidente do Sobradinho. Depois de um tempo, foi nomeada
para ser a gestora do projeto do futebol feminino.
A saída de Shara Figueredo abalou o elenco e diversas atletas
sinalizaram o intento de deixar as Leoas da Serra, segundo apuração da
reportagem com atletas do plantel. Porém, Shara e Tiago Santana, que permaneceu
à frente da equipe, conseguiram convencer as jogadoras a permanecerem e
cumprirem o contrato com o clube, pois o Campeonato Candango Feminino estava
muito próximo e o primeiro desafio, diante do Legião, estava chegando.
Na primeira rodada, o Sobradinho desbancou o Legião, por 2 a 0. No jogo
seguinte um empate em 1 a 1 com o favorito Minas Brasília, no Estádio
Chapadinha, resultado que deixou o elenco muito mais forte internamente na
briga pela classificação à Série A3.
União abalada
As Leoas da Serra chegaram à 6ª rodada do Candangão Feminino na quinta
colocação, com uma vitória e quatro empates. A última rodada da primeira fase
do certame foi diante do Ceilândia, em uma espécie de final antecipada, pois os
dois esquadrões brigavam pela vaga no Brasileirão. Porém, antes do grande jogo
decisivo, a união do elenco foi abalada após controversa decisão tomada pela
atual gestora, Andrea Pontes.
Segundo fontes de dentro do clube, a nova comandante do projeto do futebol
feminino alvinegro quis quebrar um combinado das atletas com o treinador Tiago
Santana, descontando dinheiro do grupo por causa dos treinamentos. Para
entender melhor: algumas profissionais treinavam duas vezes por semana,
enquanto outras em três oportunidades. Com isso, sem um prévio aviso, a atual
gestora descontou dinheiro de uma jogadora, causando incômodo nas atletas.
Como anteriormente o acordo era com o treinador Tiago e a ex-gestora
Shara Figueredo, Tiago Santana foi conversar com Andrea para falar sobre o
desconto indevido de uma das jogadoras. Porém, a atual gestora começou a
discutir com o treinador da equipe. Segundo pessoas presentes na confusão,
Andrea Pontes disparou xingamentos ao técnico. Tudo aconteceu durante um
treinamento antes do jogo contra o Ceilândia. Depois disso, Tiago foi desligado
da equipe.
À época, Tiago Santana não quis dar detalhes sobre sua saída do clube.
Porém, informou que a nova administradora do Sobradinho resolveu tirá-lo do
comando da equipe após situações que desagradaram o comandante. Segundo o
ex-treinador, foi o melhor que poderia ter acontecido naquele momento. Com o
desligamento, novamente o grupo teve que se unir e ignorar os conflitos perto
de uma decisão.
Depois da saída de Tiago, Andrea foi atrás de outros técnicos, mas quem
acabou assumindo o alvinegro foi Pedro Henrique, preparador físico do clube.
Tiago Santana treinando o Sobradinho. Foto:
Reprodução/Sobradinho
Ânimos acirrados
Depois desses acontecimentos, a gestora marcou um churrasco na tentativa
de reunir o elenco. No entanto, nenhuma jogadora compareceu. A comemoração da
classificação para a fase final do Candangão Feminino e a vaga na Série A3 do
Campeonato Brasileiro foi realizada em uma distribuidora de bebidas, com várias
atletas, Pedro Henrique (técnico interino) e Tiago Santana, responsável por
montar o elenco juntamente com Shara Figueredo.
Depois da comemoração separada, Andrea se afastou definitivamente das jogadoras, não mais respondendo suas mensagens. Segundo fontes, a gestora faltou a diversos treinamentos da equipe após a classificação à terceira divisão do Campeonato Brasileiro. A relação entre Andrea Pontes e o elenco das Leoas da Serra azedou de vez.
Atletas em jogo por Ceilândia x Sobradinho, jogo que garantiu vaga à Série A3 para as Leoas da Serra. Foto: Mateus Dutra/Distrito do Esporte
Caso Eliude
No jogo de ida da semifinal da competição local contra o Minas Brasília,
no Estádio Chapadinha, o Sobradinho
foi derrotado por 4 a 2. Nesta partida, um episódio ficou marcado.
Segundo fontes, Eliude Dias, capitã do Sobradinho, foi tirada no meio
do jogo pela atual gestora. A atleta titular foi sacada aos 15 minutos
do primeiro tempo, depois do gol do Minas Brasília, e saiu de campo chorando.
Eliude saiu por pressão de Andrea, segundo o que a jogadora disse à
reportagem. A atual gestora pressionou o treinador durante a partida. A gestora
tinha uma lista paralela de 11 atletas que entendiam serem as titulares, lista
em desacordo com o planejamento do treinador. A mandatária tinha outra
escalação em mãos, sem a camisa número oito entre as titulares. Depois da saída
da atleta, várias jogadoras sentiram o baque e ficaram incomodadas com a
situação. Inclusive, diversas profissionais choraram durante o jogo.
Depois da partida, Eliude postou um desabafo nas redes sociais. Muito
abalada, a atleta está desacreditada e quer se manter longe dos gramados. Após
a interferência de Andrea no seu trabalho,Pedro Henrique deixou o clube. Em
contato com o comandante, o ex-técnico interino relatou que não gostaria de ter
saído desta forma e entende a importância do futebol para as meninas. “O que
aconteceu sábado foi a gota d’água para mim. A não inscrição da minha titular
abalou muito o time antes do jogo contra o Minas, o futebol era para ser
divertido e isso não estava acontecendo na equipe”, relatou.
Eliude Dias, jogadora do Sobradinho, saindo de
campo chorando no jogo contra o Minas Brasília – Foto: Reprodução/FFDF TV
Contusão sem apoio
No jogo de estreia no Campeonato Candango Feminino entre Legião e
Sobradinho, uma atleta do Sobradinho saiu machucada. A jogadora sofreu uma
lesão e ficou longe dos gramados durante toda a competição local. Segundo
fontes de dentro do clube, desde que ela compareceu na consulta, o médico
constatou a necessidade de cirurgia. Os envolvidos reclamam uma omissão de
Andrea Pontes na situação. A gestora nunca chegou na atleta e falou que estava
resolvendo a situação.
Segundo fontes, Andrea Pontes não responde as mensagens no WhatsApp.
Também foi informado ao Distrito do Esporte que a profissional
não teve nenhum tratamento adequado após a lesão. A jogadora era tratada na
beira de campo, sem acesso à clínica. A atleta sente dores até hoje, não
conseguindo ficar em pé, causando mais problemas em outros locais, como costas
e no outro joelho.
Mais confusão
Em acusações
realizadas pela gestora do Sobradinho no último sábado (30/9) e relatadas em
reportagem do Distrito do Esporte, onde atletas ficaram
sem água e Andrea Pontes alegou que a causa delas terem saído do estádio muito
antes foram tentativas de agressão e ameaças no jogo contra o Minas Brasília,
vídeos feitos pelas atletas mostram uma outra versão dos fatos. A jogadora Eliude,
que foi acusada de tentar agredir um membro da comissão técnica, enviou para
o Distrito do Esporte vídeo de outro ângulo da cena.
Testemunhas que estavam na arquibancadas endossam a versão da atleta. Veja o vídeo abaixo.
A jogadora relatou ter sido perseguida horas antes da semifinal em um
jogo que ela realizava pelo Centro Esportivo Social Educando Atleta (Cesea),
até que testemunhas gravaram Bruno de Sousa, membro da comissão técnica do
Sobradinho, chegando do ginásio e, quando percebeu que estava sendo gravado,
foi embora. Antes do jogo entre Minas Brasília e Sobradinho, Eliude foi avisada
por outras pessoas que a sua presença lá no estádio não era bem-vinda, mas
resolveu ficar e só desceu da arquibancada porquê foi chamada por jornalistas
para dar entrevistas e se encontrou com Leila e Bruno novamente.
Ao DDE, a atleta explicou. “Eu a interroguei tranquilamente
na entrada do campo e perguntei o porque ela queria nos proibir de entrar no
Defêlê. Ela me respondeu ‘você disse que não viria para o jogo’, e eu respondi
‘eu falei que não viria para o jogo, mas o que tem a ver você tentar me proibir
entrar no Defêlê?'”, disse à reportagem. Foi quando a diretoria do Minas
Brasília ficou sabendo e disseram que Eliude entraria, sim, no estádio.
Segundo a atleta, Leila deixou a mesma falando sozinha. Em seguida, a
jogadora seguiu para tirar foto juntamente com as meninas que estavam com os
cartazes pedindo respeito, que, segundo Eliude, é o que eles (Andrea Pontes e
Leila Arnold) não tiveram com elas. “Todas as jogadoras estavam acabadas
emocionalmente e psicologicamente por tudo que elas fizeram”, relatou a atleta.
Andrea Pontes se posiciona quanto a saída do treinador interino
Ao Distrito do Esporte, a gestora do Sobradinho emitiu uma
nota na qual relata quando Pedro Henrique assumiu interinamente o cargo na
equipe e também sobre a saída do profissional. Confira na íntegra.
“O Sr. Pedro Henrique assumiu o cargo de treinador do time na partida
contra o Ceilândia, pedindo um voto de confiança no trabalho dele. Mas,
infelizmente, pela falta de experiência e cobranças frentes a seus erros, ele
acabou deixando o cargo.
Foram muitos os erros, afora os frequentes atrasos em que sempre pedia
para fisioterapeuta cobri-lo passando exercícios de mobilidade para as
jogadoras enquanto ele chegava.
Dos piores erros, eu destaco o dia em que ele errou as substituições no
jogo Sobradinho x Ceilândia. Todos do banco perceberam quando ele chamou a
jogadora Lanny para entrar em campo e o arbitro negou porque ele já havia
parado o jogo três vezes para substituições e não pareceu ou não sabia dessa
regra básica do futebol. Todos no banco ficaram sem entender.
Outro erro grosseiro foi quando Pedro Henrique esqueceu de enviar a
lista das atletas escaladas para subir para o sistema de gestão web, no
primeiro jogo entre Sobradinho e Minas. Ele preocupou-se tão somente em enviar
a lista das atletas para mídia e não repassou para a comissão.
Na oportunidade, o time do Sobradinho estava sem acesso ao sistema de
gestão web e precisaríamos subir as atletas ao sistema de forma manual e com
antecedência, mas pela falta do envio da lista pelo treinador em tempo hábil,
isso gerou uma grande confusão no time, pois nem a comissão e nem as atletas
sabiam quem eram as titulares, quem eram as reservas e quais atletas estariam
escritas para aquele jogo. Lembrando que colocar atleta no jogo que não esteja
inscrita gera automaticamente a perda do jogo.
Por fim, outro erro ocorrido entre Sobradinho e Minas foi o fato do
Pedro Henrique ter entrado em campo com 12 jogadoras. Eu nunca tinha visto um
treinador fazer isso. Fui obrigada a correr até a beira do campo e tentar
intervir antes que isso pudesse gerar vários prejuízos ao clube. Sobre o fato
dele alegar que nunca recebeu qualquer valor a título de pagamento pelo serviço
prestado, é mentira. Inclusive, segue comprovante de transferência no importe
de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais).
Nos ficamos de conversar para acertar o valor do ciclo de preparação
física. Mas, para falar a verdade, nunca paramos para acertar e fazer o
contrato correto entre ele e a empresa. Em um primeiro momento, os treinos
seriam dentro do clube da OAB. Então, utilizaríamos a academia dele todos os
dias, mas acabou que, como não treinamos diariamente lá, acabamos usando o o
espaço apenas esporadicamente. Ademais, sobre o trabalho dele, ele começou como
preparador, ficou por 15 dias como treinador e, depois, pediu para ser
desligado. Ainda sobre o pagamento dele, havíamos feito um acordo de acertar valores
quando entrasse um patrocínio prometido. Acredito que pelo rumo que a coisa
tomou, infelizmente, esse litígio será resolvido judicialmente. Mas ele dizer
que nunca recebeu nenhum valor é mentira!
Sobre sua consideração com as atletas, isso é questionável. Se tivesse
tanta consideração por elas, não havia enviado mensagem à Leila, nossa
coordenadora, se negando a entregar as bolas para jogo contra o Minas, e
mandando as atletas aquecerem, em um jogo de extrema importância como esse,
correndo ao redor de cones e sem bola. Isso é atitude de um profissional? Isso
prejudicou para caramba a logística do time que teve que sair por ai pedindo
bolas emprestadas”.
Fonte: Lucas
Espíndola, Luis Moreira e Vitoria Carvalho/Distrito do Esporte - Fotos: Júlio
César Silva
Nenhum comentário
Postar um comentário