VIOLÊNCIA CONTRA MULHER - Homem que espancou mulher trans é condenado a seis meses em regime aberto
Homem que espancou mulher trans é condenado a seis meses em regime aberto
Juliana
Paula, de 36, foi espancada até quase morrer, em Sobradinho, em janeiro de
2022. "Ela sobreviveu por um milagre", relata amiga que acompanhou o
caso
Juliana
Paula, de 36 anos, é surda e muda
O Tribunal
do Júri de Sobradinho condenou o segurança Geovane Oliveira da Silva por lesão
corporal contra Juliana Paula, uma mulher trans surda e muda de 36 anos, em
janeiro de 2022. Na decisão, tomada no último dia (16/4), os jurados
rejeitaram a acusação por tentativa de homicídio, e o homem foi condenado a
seis meses e cinco dias em regime aberto. Juliana foi espancada gravemente e
teve o rosto desfigurado pelo autor, que só parou as agressões e fugiu do local
após ser flagrado por moradores da região.
“Ele
esfregou o rosto dela no chão”, relataram pessoas próximas à vítima que
preferiram não se identificar na época. Segundo Paula Benett, ativista trans de
Direitos Humanos, o Ministério Público, que representa os interesses da vítima,
buscava uma condenação por tentativa de homicídio, diante da gravidade das
agressões sofridas por Juliana. No entanto, de acordo com a ata do julgamento,
a qual à reportagem teve acesso, o júri optou por considerar o caso como lesão
corporal, não reconhecendo a tentativa de homicídio.
Na época do
crime, o acusado chegou a procurar uma delegacia dois dias após o ocorrido para
confessar as agressões e alegou que teria sido vítima de furto, e por isso,
espancou Juliana até quase a morte. O homem não foi preso na época do crime
devido a confissão “tardia”. A versão do acusado em relação ao furto não foi
confirmada no julgamento.
“A gente
esperava que realmente fosse tentativa de homicídio e era o que o Ministério
Público queria. Contudo, o julgamento foi apenas por lesão corporal, mesmo o
Ministério Público tendo mostrado dados e provas, não foi essa a decisão. Esse
foi um crime que comoveu o Brasil devido a gravidade, eu não sei como ela está
viva, levou vários chutes na cabeça, ficou muito machucada e não tinha como se
defender. Além dela ser uma mulher trans, que tem um corpo mais fraco, ela tem
deficiência auditiva e não aprendeu libras, e isso aumenta a vulnerabilidade”,
relata Paula.
O caso, que
mobilizou a comunidade de Sobradinho e repercutiu em todo o país, chegou a uma
conclusão que gerou controvérsia e indignação entre ativistas de direitos
humanos. “Toda comunidade de direitos humanos anseia por justiça, claro, com
todo respeito à magistratura, mas esse é um resultado injusto porque ela
literalmente está viva por um milagre e a gente questiona isso. O que que
realmente é uma tentativa de homicídio se uma pessoa caída no chão leva um
chute de um homem forte como esse homem na cabeça? Isso não é uma tentativa de
homicídio?”, questiona Benett, que relatou ainda que só houve intervenção por
conta de um morador que escutou o barulho dos chutes.
“Se não
fosse o morador que viu, ele não pararia, ele fugiu do local. É como se a
defesa dissesse que ele parou de bater nela por livre e espontânea vontade, mas
não foi isso que aconteceu. Então por isso deveria caracterizar como tentativa
de homicídio e não apenas uma lesão corporal simples”, pontua a ativista.
A defesa de
Geovane alegou no julgamento que houve "a desistência voluntária do
acusado em prosseguir na conduta homicida".
Os jurados
entenderam que Geovane agrediu a vítima, mas não reconheceram a tentativa de
homicídio, desclassificando, assim, a conduta criminal.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Geovane Oliveira da Silva. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
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Fonte: Correio
Braziliense / Foto: Reprodução/Instagram
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