REGIÃO NORTE DO DF / LAGO-OESTE / SOBRADINHO - Cafeicultoras se unem para fortalecer cadeia produtiva do grão no Distrito Federal
Cafeicultoras se unem para fortalecer cadeia produtiva do grão no Distrito Federal
Com apoio
técnico do GDF, associação reúne produtores rurais de todo o Centro-Oeste e tem
apenas mulheres nos cargos de liderança
Seja para iniciar o dia com o pé direito, seja para acompanhar um lanche da tarde, o café está presente na mesa de milhares de brasileiros diariamente. No Distrito Federal, o grão é desenvolvido por mais de 100 agricultores especializados em uma área de aproximadamente 400 hectares. Com o objetivo de expandir o alcance do produto local e, assim, conquistar o mercado nacional e internacional, foi criada a primeira organização brasiliense de produtores do ramo – a Associação de Empreendedores de Café do Lago Oeste (Elo Rural).
Produtores de café do DF contam com assistência da Emater, do
plantio à colheita
Fundada em janeiro deste ano, a associação já conta com 26 membros e recebe acompanhamento técnico do Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater), que oferece apoio integral aos agricultores do plantio à colheita. Todos os cargos de liderança da associação são ocupados por mulheres, e há associados de todo o Centro-Oeste.
Produção
local
“O pequeno produtor só cresce quando está junto. Queremos colocar o
Distrito Federal no mapa mundial de cafés especiais.”
Lívia Tèobalddo, presidente da Associação Elo Rural
“O pequeno
produtor só cresce quando está junto”, ressalta a presidente da Elo Rural, a
cafeicultora Lívia Tèobalddo. “Não temos como galgar mercado se não for por
meio da união. Nós nascemos de um atrevimento. Duas pequenas produtoras
começaram um grupo de WhatsApp para reunir outros produtores e distribuir
melhor o conhecimento sobre a cadeia produtiva de café. Um foi chamando o outro
até que apareceram mais produtores e especialistas no ramo, surgindo a
necessidade de institucionalizar esse movimento. Queremos colocar o Distrito
Federal no mapa mundial de cafés especiais.”
No final de
junho, houve uma reunião entre a Elo Rural e a Emater sobre medidas e projetos
para expansão do ramo cafeicultor. As produtoras apresentaram amostras dos
cafés produzidos por associados, promoveram rodadas de degustação e entregaram
um documento com demandas do setor à diretoria da empresa pública.
Incentivo
Na lista há
a criação de um programa de incentivo à produção de café, o restabelecimento do
programa Brasília Qualidade no Campo, a promoção de cursos de capacitação para
produtores e colaboradores, apoio com crédito rural e mais. Os cafés
desenvolvidos pela associação estão expostos para venda na Florada Café, na 216
Norte.
“A qualidade do café local se deve à aplicação de pesquisas e
tecnologias na produção, como estudo do solo e do clima, seleção de variedades
produzidas e seleção de grãos, que garantem, também, uma produção rentável”
Bruno Caetano, técnico da Emater
Lívia entrou
para o ramo cafeicultor em 2023, quando o pai precisou se afastar da gestão da
chácara da família por problemas de saúde. “Eu não tinha experiência nenhuma,
era da área jurídica, mas assumi o desafio e, pesquisando, percebi que o melhor
seria o plantio agroflorestal” , lembra. “Descobri a Rota da Fruticultura e
escolhi começar com o açaí. Depois, pensei em plantar o café entre as fileiras
e iniciei o preparo da terra”. O plantio do grão deve começar em dezembro, com
4 mil mudas dos tipos arara e catuaí-amarelo. O açaí já foi plantado e, assim
como o café, deve ser colhido daqui a três anos.
O café
plantado no DF é o arábica, que possui menos cafeína e, segundo apreciadores, é
mais doce do que outros tipos. “Esse tipo de café tem um gosto mais suave e se
desenvolve muito bem em altitudes elevadas, acima de 800 metros, que é o caso
de praticamente todo o DF”, explica, explica o técnico da Emater Bruno Caetano.
“Também prefere temperaturas mais amenas, em que consegue ter uma maturação
melhor e de mais qualidade”.
Os cuidados
com o grão implementados desde a nutrição do solo ao armazenamento dos produtos
resultam em cafés especiais com maior valor agregado, ensina Bruno: “A
qualidade do café local se deve à aplicação de pesquisas e tecnologias na
produção, como estudo do solo e do clima, seleção de variedades produzidas e
seleção de grãos, que garantem, também, uma produção rentável, se aplicados
corretamente”.
Ainda
segundo o técnico, a Emater oferece desde orientações individuais, com técnicas
sobre adubação e irrigação, palestras e imersões e a emissão do Certificado de
Agricultor Familiar (CAF). “Também levamos os produtores mais novos para
conhecerem o trabalho dos mais antigos daqui do Lago Oeste para que pudessem
ver quais são os desafios e as dificuldades do plantio e da mão de obra, além
das vantagens do café”, relata.
Qualidade
e sabor diferenciados
Alguns dos
cafés desenvolvidos por associados foram analisados por K.J. Yeung, avaliador
sensorial de café reconhecido internacionalmente. As pontuações recebidas foram
de 82 a 86,6, em uma escala padronizada de 1 a 100. A vice-presidente da Elo
Rural, Flávia Penido, obteve a pontuação mais alta.
Maria José Rodrigues Ferreira começou a plantar café há dez anos:
“Para mim, era a extensão do meu jardim; agora é minha lavoura”
A relação de
Flávia com o cultivo de café – o catuaí-vermelho – começou em 2022, quando ela
assumiu o manejo das plantações de uma chácara adquirida pela irmã no Lago
Oeste. A propriedade conta com meio hectare de agrofloresta, composta por
cafeeiros, abacateiros e amoreiras, entre outras plantas.
“É minha
primeira experiência com o manejo do café”, conta. “Estou aqui desde 2022 e em
janeiro de 2023 fiquei desempregada, me dando a possibilidade de entrar de
cabeça na produção.” Na mesma época, ela passou a ser atendida pela Emater.
Além do grão
torrado e moído, a vice-presidente da Elo Rural comercializa a casca do café,
que é desidratada com mucilagem e polpa após o grão ser retirado. “Nós
utilizávamos a casca como adubo, até que, no ano passado, descobri a
possibilidade do chá”, afirma. “A casca tem menos cafeína do que o café, mas
tem propriedades medicinais que ajudam na redução de diabetes, colesterol e
alguns tipos de câncer, além de ser boa para a pele”, conta ela, que participa
de uma pesquisa junto à Universidade de Brasília sobre subprodutos do café.
Já a
diretora financeira da Elo Rural, a produtora rural Maria José Rodrigues
Ferreira, decidiu plantar café há cerca de uma década. Atualmente, ela cultiva
o arábica do tipo catuaí-vermelho. “Meu marido é mineiro, e eu brincava dizendo
que nós tínhamos que ter café plantado por causa disso”, lembra . “Um dia,
passei em um lugar e comprei dois pés de café. Plantei e cuidei como se fossem
meus filhos. Eles cresceram bem, produziram muitos grãos. Então, decidi plantar
mais e mais, até que comecei a comercializar também. Hoje tenho 1.500 pés”.
Maria José
afirma que a união dos produtores e a criação da Elo Rural mudaram a forma de
lidar com o cultivo do grão. “Para mim, era a extensão do meu jardim; agora é
minha lavoura”, resume. “Vejo que pode me render muitas coisas, e estou
estudando para entender cada vez mais desse mundo”. Os grãos são
comercializados na própria chácara, no Lago Oeste, por cerca de R$ 100 o quilo.
Fonte: Catarina Loiola, da Agência Brasília, Edição: Chico Neto, Fotos: Tony Oliveira/Agência Brasília
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