MICHAEL: O craque de Sobradinho que se tornou Mestre
MICHAEL: O craque de Sobradinho que se tornou Mestre
Sobradinho, a cerca de 20km do centro de Brasília, a mais serrana das cidades-satélites do Distrito Federal, está localizada às margens da estrada rumo ao Nordeste do país.
Com intenso
comércio, ali respira-se o ar da altitude, também graças aos morros e farta
vegetação que circundam a região. A cidade surgiu a partir da desapropriação de
terras nas fazendas Paranoazinho e Sobradinho e foi se formando com boa
participação de cariocas, principalmente bombeiros e policiais militares, que
vinham para a nova capital. E, claro, o futebol logo se integrou à nova
comunidade e dali surgiram talentos que, agora, contam suas histórias.
Com 80 mil habitantes, em Sobradinho mora um
desportista “legitimo filho da terra”, Michael José Bastos (foto), hoje com 58
anos, um dos pioneiros do bom futebol daquelas bandas da Capital federal.
Cidade
de desportistas
Em termos
esportivos, a cidade ganhou destaque nacional em 1995, quando Carmem de
Oliveira, que ali mora até hoje, consagrou-se como a primeira brasileira a
vencer a tradicional corrida de São Silvestre, a mais antiga prova de rua do
país, que no ano que vem completará o seu centenário.
Um ano antes, Carmem já havia se destacado nas provas de rua ao se tornar a primeira corredora sul-americana a concluir uma maratona em menos de 2h30min: ela fez 2h27min na tradicional Maratona de Boston (EUA).
Carmem, ex-atleta de Sobradinho
De
juvenil a profissional
Corridas à
parte, vamos para o campo de jogo, onde o personagem da vez é Michael,
sobradinhense que foi peladeiro como todo garoto da época, em campos de terra
batida ou de barro, nas temporadas chuvosas do Centro-Oeste brasileiro.
Hoje, aos
58 anos ele lembra a sua evolução no futebol e se orgulha de fazer parte da
história esportiva da cidade como jogador, inicialmente e, agora, como
vice-presidente do clube onde se formou aleta, o Sobradinho Esporte Clube.
“Tenho orgulho de fazer parte da geração de
desportistas da cidade. Tenho orgulho de ser de Sobradinho”
Entendimento
O
Sobradinho surgiu em 1975, resultado de um entendimento de dois personagens de
atividades extremas: Tuchiello, empresário que era dono do Internacional, time
formador, e o Imperial, então dirigido por Anibal, que era gari nas ruas da
cidade.
O futebol,
todos sabem, é capaz dessas proezas, e foi assim que a dupla se acertou e
juntou a garotada para formar o Sobradinho Esporte Clube, o “Leão da Serra”,
que tem o estádio Jornalista Augustinho Lima, em cuja pista que circunda o
campo de futebol são realizadas atividades de atletismo.
Além disso,
o Sobradinho surgiu usando, também, a estrutura de outro clube formador da
época, o Campineira, que já havia se tornado bicampeão brasileiro da “Taça
Arizona”, correspondente ao campeonato brasileiro de futebol amador.
O
início
“Comecei no futebol ainda garoto e em 1977, me sagrei bicampeão no campeonato de Escolinhas, quando eu tinha 11 anos, jogando pelo Internacional”, conta Michael.
Michael ergue a taça de seu
primeiro título. Orgulho da mamãe Eni
Com 15
anos, Michael já estava na base do Sobradinho, como meia direita. Um ano
depois, ganhou o Campeonato Juvenil de Brasília.
O tempo
passou e, em termos profissionais, os principais títulos que ele conquistou
foram os de 1985 e 1986, quando o Sobradinho se sagrou bicampeão brasiliense.
Titular, Michael marcou o gol do título na segunda conquista, 1×0 sobre o
Taguatinga.
Um
bom time
Daqueles
tempos, Michael tem boas lembranças do colega de time, Toni, excelente
finalizador e artilheiro. Foi vendido ao Botafogo do Rio de Janeiro e de lá
para o Valência, da Espanha.
“Nosso time era muito bom. O goleiro era o Bocaiuva, que veio do Cruzeiro, de Minas Gerais; o Artur e o Jamil eram do Vila Nova, de Goiás, Chiquinho, Rildo, Toinzé… Os demais eram da base. Enfim, era um bom time, dirigido pelo técnico José Antônio.
Régis, Toni e Michael,
no Sobradinho E.C.
Na carreira
profissional, Michael chegou a atuar pelo Taubaté, do interior de São Paulo.
“Campeonato pesado, difícil, muitas viagens”, lembra ele. Outros craques também
saíram, como o Filó e Babinha, que foi para o Atlético MG; e Régis, para o
Fluminense. “Sempre tivemos jogadores bons, talentos vindos da base”, revela
Michael.
Dificuldades
Michael
lembra, também, das dificuldades. Por exemplo: quando o time sagrou-se
bicampeão brasiliense, o uniforme usado era único. No jogo decisivo de 1982,
contra o Taguatinga, por exemplo, precisaram fazer remendos no uniforme, pois o
material já estava bem desgastado de tanto usar e lavar. Tempos difíceis!
“Mas a gente jogava por amor à cidade. Eu
gosto demais de lá, gosto pra caramba de Sobradinho”
O time bicampeão brasiliense: da
esquerda para a direita: Em pé: Bocaiuva, Chiquinho, Filó, Toinzé, Claudinho,
Rildo e Zé Geraldo. Agachados: Regis, Michael, Toni Wellington e Jamil
O
legado
O que ficou
daqueles tempos valoriza a história do clube. O Sobradinho, por exemplo, foi o
único time de Brasília que passou de fase na competição que hoje corresponde à
Copa do Brasil. Na campanha, empatou duas vezes com Atlético MG (1×1 e 0x0);
também empatou com o São Paulo (1×1) e com o Corinthians (0x0), em jogos que
eram realizados no antigo estádio Mané Garrincha. Mas, foi eliminado pelo
Internacional, de Porto Alegre, que venceu por 1×0, aqui, e 3×1, no Sul.
Estudante
e gestor
Michael
estudou no Centro Educacional nº 4. E hoje, aos 58 anos, ele está de volta à
mesma escola onde se apresenta como professor de Geografia, disciplina que
escolheu para fazer a sua formação superior.
Mais:
Michael é, também, o vice-presidente do clube em que se projetou para o
futebol, depois de ter ocupado a presidência no início dos anos 2000. O atual
presidente é Gildo Viana e o presidente de Honra é Ricardo Vale. Augusto César,
ex-jogador do Corinthians é o técnico.
“Subir o time, atualmente disputando a segunda
divisão, para a elite do futebol candango é a meta da atual diretoria”
Fora da
gestão do clube, Michael ainda joga o seu futebol no bem cuidado campo do Minas
Brasília Tênis Clube, tradicional agremiação de Brasília, assim como no
Cataventos, de Sobradinho.
Mensagem
aos jovens
Michael
conheceu os dois extremos da realidade da juventude em Sobradinho que, em
resumo, era a mesma em toda Brasília. Na adolescência, jogou bola, foi
peladeiro e passou pelas categorias de base até se formar profissional. “Hoje,
ao contrário, falta a base”, quando havia fartura, antes.
A questão
educacional-social também é outra. “Sou professor de uma geração que, na
maioria dos estudantes, há internet à disposição. Dei aula na periferia de
Sobradinho e lá o tablet não chega a todos os estudantes”, diz ele.
Há mais
diferenças. “Na minha época a diversão era o futebol e só! Nem videogame se
tinha! Hoje, a diversão com eletrônicos predomina, o que afasta a convivência
social.
“A nova geração conversa mais com o
computador”!
A constituição da família também está mudando,
ele comentou. Temos crianças com três pais e irmãos que, em muitos casos, ele
nem conhece… É uma outra sociedade, bem diferente das famílias
tradicionais em que fomos criados.
“Em Sobradinho II o poder aquisitivo é baixo e
lá a realidade é outra, principalmente no crescimento da criança e na
adolescência. E aí que entra o esporte, o futebol em especial, como ferramenta
de lazer, de integração social”…, ensina o agora “Mestre” Michael.
Os
títulos de Michael
1982 – Campeão juvenil pelo sobradinho
1985/86 – bicampeão profissional, pelo sobradinho
1988 – Campeão pelo Tiradentes, o único título
do clube
1990 – Campeão pelo Gama
2005 – Treinador do Sobradinho, quando encerrou
a carreira
profissional.
Fonte: Hélio Tremendani e José Cruz/memoriadaculturaesportebsb.com.br
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