Dengue: ressurgimento do sorotipo 3 pode agravar surtos da doença no país
Dengue: ressurgimento do sorotipo 3 pode agravar surtos da doença no país
Alerta é de pesquisadores da Faculdade de Medicina
de São José do Rio Preto (Famerp) em artigo publicado no Journal of Clinical
Virology
O sorotipo 3 (DENV-3) da dengue não tem incidência
relevante no Brasil desde 2008, por isso o ressurgimento desse tipo da doença
pode agravar surtos da doença no Brasil. É o que alerta pesquisadores da
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) em artigo publicado no
Journal of Clinical Virology. O agravamento pode ocorrer devido à população não
estar imunizada contra essa linhagem e, ainda, os sorotipos 1 e 2 (DENV-1 e
DENV-2) seguem em circulação.
O professor da Famerp e um dos autores do estudo,
Maurício Lacerda Nogueira, disse à Agência Fapesp que em meados de 2024 os
casos de DENV-3 começaram a subir e que hoje é o principal agente detectado no
município de São José do Rio Preto.
“A última epidemia significativa de DENV-3 no
Brasil e, mais especificamente, em São José do Rio Preto, ocorreu há mais de 15
anos [em 2007]. Já os sorotipos DENV-1 e DENV-2 continuam circulando
continuamente pelo país. Se o sorotipo 3 se estabelecer novamente e prevalecer
esse quadro [de cocirculação de variantes], isso pode levar a formas severas de
uma epidemia de dengue. É exatamente essa situação que estamos vivendo neste
momento em São José do Rio Preto”, afirmou
O professor Nogueira elucidou que uma epidemia pode
acontecer quando surge um sorotipo diferente, já que ocorre o escape da
imunidade anterior das pessoas.
“Estamos estudando dengue no Brasil desde 2010 e o
padrão epidemiológico é semelhante ao que aconteceu com o SARS-CoV-2 durante a
pandemia de COVID-19. Quando aparece um sorotipo diferente ocorre o escape da
imunidade pregressa da população e acontece uma epidemia logo em seguida.
Estamos vendo isso agora com a DENV-3”, disse Nogueira.
Os pesquisadores vêm realizando nos últimos 20 anos
a vigilância genômica e epidemiológica de dengue e outras arboviroses em São
José do Rio Preto, por meio de um projeto apoiado pela Fapesp. O professor
Nogueira aponta que o tempo quente e úmido na cidade propicia a proliferação do
mosquito e, ainda, um local relevante para monitoramento.
“A temperatura média anual em São José do Rio Preto
é de pouco mais de 25 graus e chove aproximadamente 2 mil milímetros por ano.
Essa combinação de tempo quente e úmido cria condições ideais para a formação
de reservatórios de mosquitos transmissores de arbovírus e um local propício
para o monitoramento genômico e epidemiológico de arboviroses, como a dengue. E
como trabalhamos aqui há muito tempo, conseguimos fazer inferências
epidemiológicas melhores”, explicou Lacerda.
Sorotipo 3 da dengue
A dengue possui 4 sorotipos diferentes e a infecção por um sorotipo gera
imunidade somente à variante, mas não impede uma nova infecção por um sorotipo
diferente.
O infectologista coordenador do Serviço de Controle
de Infecção Hospitalar do Hospital Anchieta, Henrique Lacerda, afirma que a
diferença entre todos esses sorotipos basicamente é genética. Ou seja, todos os
tipos causam os mesmos tipos de sintomas, mas o diferencial é que o DENV-3 tem
maior potencial para causar surtos, além de estar relacionado aos casos mais
graves da doença.
O especialista Henrique Lacerda ressaltou que
a circulação do DENV-3 no país é preocupante, tendo em vista que as pessoas não
têm imunidade contra essa linhagem,
“Consequentemente, as pessoas que já tiveram alguma
dengue por um outro sorotipo, um ou dois, por exemplo, podem evoluir para
formas mais graves por causa da resposta imunológica mais forte, mais
exacerbada e isso pode levar a um aumento do número de casos e acabar
sobrecarregando o serviço de saúde, com mais internações, pacientes mais graves
e até óbito”, mencionou o infectologista.
Sinais de alerta que a população deve ficar atenta:
·
Dor abdominal;
·
vômitos que não cessam;
·
tontura;
·
sangramentos;
·
confusão mental.
Caso apresente esses sintomas, o paciente deve
procurar atendimento médico para ser orientado e receber o tratamento correto.
Ministério da Saúde
No último dia 22, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, realizou uma
reunião com representantes de conselhos, da sociedade civil, sindicatos,
federações e outras instituições para discutir ações estratégicas e
monitoramento do cenário epidemiológico da dengue em todo o país.
A reunião foi realizada na sede do Centro de
Operações de Emergência (COE) para Dengue e outras Arboviroses, em Brasília. A
ministra manifestou sua preocupação de o COE estar próximo às prefeituras. Além
disso, destacou que os agentes ali reunidos deveriam compartilhar o que foi
debatido com vistas a combater desinformações sobre a doença. E que o
enfrentamento à dengue deve ser feito de forma conjunta pelos gestores,
sociedade e pelos líderes do governo.
“Cada um de nós precisa ser um comunicador daquilo
que nós discutimos e chegarmos à conclusão nessas reuniões aqui do Centro de
Operações. Isso porque há muita desinformação e muitos mitos sobre a dengue”,
afirmou a ministra.
Os riscos e a vigilância sobre o sorotipo 3 da
dengue também foram focos na reunião, tendo em vista o potencial dessa linhagem
causar formas graves da doença. Os participantes reforçaram que, com a
circulação dos quatro sorotipos no país, é importante intensificar as medidas
de prevenção, especialmente no controle ao mosquito transmissor com algumas
ações, como:
·
Eliminar focos de água parada;
·
Utilizar repelentes;
·
Instalar telas de proteção em janelas e portas.
Nísia Trindade também anunciou a integração entre
os Ministérios da Saúde e da Educação nas ações de controle das arboviroses,
por meio do Programa Saúde na Escola. “Queremos ter a escola como espaço livre
de dengue e conscientização”, ressaltou em entrevista a jornalistas no final do
evento.
Fonte: Brasil 61 - com informações da Agência Fapesp - Foto: jcomp/Freepik
Nenhum comentário
Postar um comentário