Avanço de chikungunya no DF preocupa especialistas e autoridades de saúde
Avanço de chikungunya no DF preocupa especialistas e autoridades de saúde
Apesar da queda de casos no DF
em 2024, os altos números em GO e no MT indicam risco de aumento na capital.
Especialistas dão dicas de como identificar a doença e tratá-la. Saúde informa
que está adotando medidas para lidar com o possível cenário
O sorotipo 3 voltou a circular e
preocupa as autoridades - (crédito: Divulgação/CDC)
O avanço da
chikungunya em estados próximos ao Distrito Federal acende um alerta para
autoridades de saúde e especialistas. O DF registrou queda no número de
casos prováveis em 2024 em comparação
a 2023, mas os números expressivos de Goiás e do Mato Grosso indicam um risco
de crescimento de ocorrências na capital nos próximos meses.
Dados do
Ministério da Saúde mostram que Goiás teve um salto alarmante no número de
casos prováveis, passando de 2.750, em 2023, para 10.945, em 2024. No Mato
Grosso, o aumento foi ainda maior no mesmo período: de 349 para 22.131
registros. Apesar da redução de casos prováveis no DF — de 827 em 2023 para 469
no ano passado, segundo a Secretaria de Saúde (SES-DF) —, a intensa circulação
de pessoas entre esses estados e o DF torna o risco de aumento da transmissão
na capital uma preocupação real.
Segundo o
sanitarista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brant, a
expansão da chikungunya ocorre porque a população ainda não desenvolveu
imunidade contra o vírus, tornando todos suscetíveis à infecção. Além disso, o
mesmo mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, é um dos disseminadores
da doença. "Ela encontrou um terreno fértil para se espalhar, assim como a
dengue, e sua área de ocorrência vem se ampliando ao longo do tempo. O DF está
no centro de ocorrência do país, então é bem provável que soframos
consequências disso", destacou.
Além da
preocupação com a disseminação da doença, Brant também chama a atenção aos
impactos na rede de saúde. De acordo com ele, cerca de 30% dos pacientes podem
desenvolver sequelas que duram seis meses ou mais, afetando a qualidade de vida
e sobrecarregando a rede de atendimentos. "Não basta apenas atender aos
casos agudos, precisamos de estrutura capaz de lidar com os crônicos, como
fisioterapia, reumatologia e até mesmo suporte psicológico", enfatizou.
Ele propõe a criação de planos específicos, distintos dos planos gerais
voltados a arboviroses, a fim de assegurar um atendimento eficaz e evitar
sobrecarga no sistema de saúde.
Para ele, é
essencial educar a população sobre as diferenças entre as doenças. "Os
sintomas são parecidos, mas a chikungunya tem características próprias.
Precisamos conscientizar a população, porque o cenário na Região Centro-Oeste
não é favorável", alerta.
Flor Fernandes, de Sobradinho, teve chikungunya e diz que foi horrível, principalmente a dor e os tremores(foto: Carlos Silva/CB/D.A.Press)
Dor e sofrimento
Flor
Fernandes, 45, moradora de Sobradinho, enfrentou a chikungunya e se lembra bem
dos sintomas intensos. "Senti muita dor e febre. Também suava muito. Foi
horrível", relatou. Ela disse que os piores sintoma foram a dor articular
intensa e os tremores pelo corpo. "Doíam demais todas as minhas
juntas", contou.
Sobre o
aumento de episódios em outros estados, Flor vê uma conexão direta com a
situação no DF. "Muitas pessoas circulam, e elas (as doenças) pegam
carona", comentou. Recentemente, ela esteve em Goiás e ficou preocupada
com o cenário. "Muito triste. Em Formosa (GO), por exemplo, há muita gente
se queixando de dengue e infecções semelhantes", disse.
Sintomas e tratamento
O
infectologista César Omar Carranza Tamayo, professor de medicina na
Universidade Católica de Brasília, destaca a febre alta (acima de 38,5°C),
acompanhada por dores articulares intensas, como sinais característicos da
infecção pelo vírus da chikungunya. As manifestações costumam surgir entre três
e sete dias após a picada do mosquito infectado e podem incluir também manchas
vermelhas na pele, dores musculares, dor de cabeça e fadiga.
O
tratamento é sintomático, focado no alívio das dores e no controle da febre.
Tamayo explica que o uso de analgésicos, repouso e hidratação são fundamentais
à recuperação. No entanto, nos casos crônicos, pode ser necessário um
acompanhamento prolongado. "É fundamental procurar atendimento médico
quando os sintomas persistem, quando há sinais de desidratação ou quando surgem
complicações como confusão mental, convulsões, perda de consciência ou
dificuldades respiratórias", alertou.
A prevenção
envolve o combate ao mosquito transmissor e a adoção de medidas individuais a
fim de reduzir o risco de infecção. O infectologista recomenda o uso de
repelentes, roupas de manga longa e telas de proteção em janelas e
portas como estratégias importantes.
Saúde
Em nota, a
SES-DF informou que diversas ações de combate ao vetor da doença são
realizadas, incluindo visitas domiciliares para eliminação de criadouros, uso
de inseticidas e larvicidas, além de estruturas, como as Estações
Disseminadoras de Larvicida e a Borrifação Residual Intradomiciliar.
"Essas estratégias estão alinhadas às orientações da Organização Mundial
da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS) e seguem metodologias específicas
em cada fase do combate."
A
secretaria conta com 858 Agentes de Vigilância Ambiental (Avas), que realizam
diariamente cerca de 5 mil visitas domiciliares em todas as regiões do DF.
"Somente no ano passado, mais de 2 milhões de residências foram
vistoriadas, reforçando o compromisso da Secretaria de Saúde com a redução dos
casos de dengue no DF."
Em caso de
suspeita de dengue ou chikungunya, a recomendação é procurar imediatamente uma
Unidade Básica de Saúde (UBS). "A principal porta de entrada da rede
pública em assistência aos pacientes acometidos por arboviroses é a UBS,
podendo acolher e tratar os casos leves e moderados, fazendo a indicação às
Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais para pacientes com sintomas
de agravamento."
Fonte: Carlos
Silva/Correio Braziliense
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