Fala aê, mestre: Desafio à implementação da Telemedicina na Atenção Primária à Saúde no SUS do DF
Fala aê, mestre: Desafio à implementação da Telemedicina na Atenção Primária à Saúde no SUS do DF
Durante a pandemia da covid-19, os atendimentos médicos mediados por
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) se apresentaram como uma
resposta imediata às necessidades e demandas da saúde, fato que colaborou para
a aceleração da regulamentação da telemedicina no Brasil. Naquele contexto, a
implementação das teleconsultas na Atenção Primária à Saúde (APS) do Sistema
Único de Saúde (SUS) do Distrito Federal (DF) se mostrou ser uma ferramenta
possível. No entanto, ao analisar a implementação da teleconsulta na APS na
Região de Saúde Norte do DF, que compreende as regiões administrativas de
Planaltina, Arapoanga, Sobradinho I e II e Fercal, durante o período de março
de 2020 a dezembro de 2022, a pesquisadora Atena Oliveira, mestre em Políticas
Públicas em Saúde pela Escola de Governo Fiocruz-Brasília, observou alguns
desafios, os quais foram abordados no estudo Desafio à implementação da
teleconsulta médica na Atenção Primária à Saúde no SUS do DF. O trabalho
resultou da experiência da autora com a prática de telemedicina em uma Unidade
Básica de Saúde (UBS) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
(SES-DF), na região de Sobradinho II, após ser considerada como elegível para
teletrabalho em caráter excepcional ainda no primeiro ano da pandemia de
covid-19, em 2020. Na série de divulgação científica “Fala aê, mestre”, a
pesquisadora fala um pouco mais sobre a sua análise.
Quais foram os principais desafios observados para
a implantação da teleconsulta médica na Atenção Primária à Saúde (APS) da
Região Norte de Saúde no SUS no Distrito Federal?
Atena Oliveira: A
partir da pesquisa realizada, o que se observa é que não houve uma implantação
oficial ordenada. Houve ações individuais buscando viabilizar essa forma de
acesso, sem que isso fosse sistematizado em uma ação ou programa próprio da
gestão.
A pesquisa aponta também algumas carências tanto de instalações físicas
quanto de recursos técnicos, como a falta de um contato telefônico próprio para
a teleconsulta; inexistência de uma plataforma para prescrição digital, gerando
demandas presenciais; além de pacientes não elegíveis para a prática. Diante
disso, quais são as soluções possíveis para a implantação da teleconsulta na
APS?
Atena Oliveira: A
implantação da telemedicina na APS é possível, uma vez que já temos
regulamentação e sistemas capazes de suportá-la. Para que sua implantação de
fato ocorra de forma institucional, é necessário haver treinamento dos
profissionais, assim como orientações quanto à operacionalização – por exemplo,
como deverá ser organizada a agenda de quem está realizando teleatendimento,
uma vez que, se por um lado, amplia-se o acesso, por outro, pode haver uma
diminuição de disponibilidade de quem está em atendimento presencial.
Acredita que a parceria público-privada, como ocorreu entre a Secretaria de
Saúde do Distrito Federal por meio do Proadi-SUS-Albert Einstein, seria a
solução para a teleconsulta na APS no DF?
Atena Oliveira: Não
acredito que seja a melhor solução, apesar de ser uma alternativa possível.
Quando houve a parceria por meio do Proadi-SUS-Albert Einstein [Programa de
Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde], inicialmente
houve acesso a uma plataforma de registro e prescrição – algo que não estava
facilmente disponível à época. Entretanto, no instante em que a parceria foi
encerrada, o acesso foi interrompido abruptamente, exigindo improviso e
interferindo na continuidade do cuidado.
No seu estudo, há o apontamento de que a teleconsulta também modificou a
atuação profissional. Quais foram as principais mudanças observadas e quais são
os principais desafios a serem superados?
Atena Oliveira: Um
dos desafios da teleconsulta, dentro de um serviço de Atenção Primária à Saúde
do SUS, é que se torna mais uma fonte de demandas. Os profissionais já são
demandados a partir de múltiplas direções, sobretudo em unidade grandes, com
várias equipes de Saúde da Família, em que há necessidade de uma equipe dar
cobertura quando há falta de profissionais em outra. Então há a pressão de
porta das demandas espontâneas, dos atendimentos eletivos agendados, há a
demanda gerada por outros profissionais da unidade, em um contexto de
interconsulta, entre outras. O atendimento mediado por TIC [Tecnologias da
Informação e da Comunicação], ao mesmo tempo que amplia o acesso, se não feito
de forma organizada e previsível, pode resultar em uma assistência ainda mais
precária.
O estudo cita a possibilidade de considerar a ampliação de experiências já
em curso no Sistema Único de Saúde. Quais experiências são essas?
Atena Oliveira: As experiências observadas no estudo foram pontuais, sobretudo no contexto de isolamento durante a pandemia, mas ricas no sentido de apresentar, por exemplo, formas de organização de agenda ou critérios de elegibilidade para a teleconsulta.
(*)Atena Oliveira Zatarin é autora da dissertação
“Desafio à implementação da Teleconsulta Médica na Atenção Primária à Saúde no
Sistema Único de Saúde do Distrito Federal”, defendida em 12 de novembro de
2024, no Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Escola de
Governo Fiocruz-Brasília, sob orientação de José Francisco Nogueira
Paranaguá de Santana.
Fonte: www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br,
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