Adasa compartilha experiências exitosas no 2º ciclo de reuniões das Câmaras Técnicas da ABAR
Adasa compartilha experiências exitosas no 2º ciclo de reuniões das Câmaras Técnicas da ABAR
Nesta
segunda-feira (23/06), teve início, em Fortaleza, o 2º ciclo de reuniões das
Câmaras Técnicas da Associação Brasileira de Agências de Regulação (ABAR), que
reunirá, ao longo da semana, representantes de agências reguladoras de todo o
país para debater temas estratégicos para a regulação dos setores de
saneamento, recursos hídricos, energia, transporte, entre outros.
Sediado
pela Agência Reguladora do Estado do Ceará (ARCE) e pela Agência de Regulação,
Fiscalização e Controle dos Serviços Públicos de Saneamento Ambiental de
Fortaleza (ACFOR), o encontro acontece em formato híbrido — presencial e online
—, ampliando as possibilidades de participação e troca de experiências entre os
profissionais da regulação brasileira.
Na
cerimônia de abertura, o presidente da ABAR e diretor da Agência Reguladora de
Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Vinícius
Benevides, destacou a importância do fortalecimento da regulação em um cenário
de desafios crescentes. “Estamos vivendo um momento muito difícil. O Brasil
precisa entender que agência reguladora é órgão de Estado. Sem autonomia, sem
recursos e sem pessoal, não há como garantir segurança jurídica nem atrair
investimentos. A regulação é pilar fundamental para o desenvolvimento
nacional”, declarou.
Benevides
também alertou para os riscos de enfraquecimento das agências, especialmente
federais, frisando que as 72 agências associadas à ABAR regulam 50% da economia
do país. “Isso não é pouca coisa. Precisamos que nossas instituições sejam
tratadas com o devido respeito e estabilidade institucional”, ressaltou.
Em seguida,
a Câmara Técnica de Saneamento e Recursos Hídricos (CTSAN) abriu a programação,
reunindo debates importantes sobre resíduos sólidos, drenagem, regulação de
soluções alternativas e os desafios da universalização do saneamento no Brasil.
Desta vez,
o painel de resíduos trouxe reflexões sobre a logística reversa e seus impactos
no sistema de coleta seletiva. Na ocasião, o diretor do Departamento de
Resíduos do Ministério do Meio Ambiente, Eduardo Dias Santos, destacou os
enormes desafios e oportunidades do setor. “Hoje, metade dos lixões no Brasil
está concentrada em municípios com menos de 50 mil habitantes. Isso revela que
precisamos de políticas específicas para esses pequenos municípios. A logística
reversa é essencial não só para a sustentabilidade ambiental, mas também para
destravar oportunidades econômicas e de saúde pública”, relatou.
Segundo
ele, se o Brasil aproveitasse todo o potencial dos materiais recicláveis hoje
enterrados em aterros, poderiam ser gerados até R$38 bilhões por ano, recurso
suficiente para encerrar todos os lixões do país em apenas um ano. “É um número
teórico, mas que mostra claramente o tamanho do desperdício que estamos
enfrentando”, completou.
Na sequência, a superintendente de Resíduos Sólidos da Adasa, Élen Dânia Santos, apresentou dados inéditos sobre o comportamento da população do DF em relação à coleta seletiva. Segundo ela, o sucesso da política de resíduos não depende apenas de tecnologia ou estrutura, mas da compreensão de como as pessoas tomam decisões no seu cotidiano.
“Regulação
é, essencialmente, sobre mudança de comportamento. Se não entendermos os
fatores que influenciam as escolhas das pessoas — como contexto, influência
social e limitações cognitivas —, não teremos êxito. A nossa pesquisa mostrou
que quase metade do que chega às unidades de triagem no DF é rejeito, o que
reflete a dificuldade da população em segregar corretamente seus resíduos”,
explicou.
Élen
ressaltou ainda que campanhas tradicionais, como o uso de panfletos, têm
eficácia muito baixa. “O que a pesquisa mostra é que as redes sociais e os
meios digitais são hoje os canais mais eficazes para engajamento. Além disso,
percebemos que a influência da família tem um papel muito maior do que a mídia
na formação de hábitos sustentáveis”, sublinhou.
Após o
coffee break, coube ao superintendente de Recursos Hídricos da Adasa, Gustavo
Carneiro, iniciar o debate sobre a necessidade de fortalecer a integração entre
a política de recursos hídricos e a drenagem urbana.
Para ele, a
drenagem urbana foi tratada como tema secundário ao longo da história do
saneamento, mas reforça que essa realidade precisa mudar. “Se você não tem uma
coleta de resíduos adequada, isso vai para os cursos d'água. Se os cursos
d'água estão poluídos e assoreados, isso compromete a qualidade da captação de
água e toda a cadeia do saneamento”, afirmou.
Em sua
exposição, Gustavo apresentou um modelo pioneiro de outorga para lançamento de
águas pluviais, além de manuais e instrumentos que estimulam soluções baseadas
na natureza, como jardins de chuva, trincheiras de infiltração e reservatórios
de qualidade. Ele também destacou o avanço na implementação de sistemas de
recarga artificial de aquíferos como medida compensatória para reduzir os
impactos da impermeabilização urbana. “Tudo isso faz parte de um ciclo
integrado que busca não só controlar inundações, mas também garantir a
qualidade da água e a segurança hídrica”, acrescentou.
De acordo com o superintendente de Drenagem Urbana da Adasa, Hudson Rocha, a drenagem urbana passou a ser reconhecida como pilar essencial da infraestrutura das cidades, especialmente após a publicação da Norma de Referência nº 12/2025 da ANA. “Essa norma chega para transformar a gestão da drenagem no Brasil. Ela traz o conceito de abandonar as infraestruturas puramente cinzas, priorizando soluções baseadas na natureza, como jardins de chuva, telhados verdes e pavimentos permeáveis”, explicou.
Apesar
disso, Hudson também destacou que o modelo do DF se antecipou à norma da ANA ao
firmar um contrato de concessão para drenagem urbana em 2023, definindo
claramente os papéis dos diferentes atores — como a Novacap, responsável pela
operação dos sistemas, a Adasa, na regulação, e a CAESB, no controle das
interfaces com os sistemas de esgoto. “Nosso grande desafio hoje é integrar os
planos diretores de drenagem, saneamento, uso do solo e ordenamento
territorial. Fazer regulação isolada não funciona. Precisamos que todos esses
instrumentos conversem entre si”, afirmou. Ele destacou ainda os desafios
recorrentes, como alagamentos, descarte inadequado de resíduos e a necessidade
urgente de modernizar as infraestruturas existentes. “Estamos caminhando, mas é
um serviço que historicamente ficou para trás e agora precisa avançar com
força, na mesma velocidade dos demais componentes do saneamento básico”,
arrematou.
Por fim, o
moderador da mesa, Gustavo Frayha, diretor da Agência Reguladora de
Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), elogiou as iniciativas
da Adasa e reiterou a necessidade de infraestruturas mais eficientes. “Se o
próprio Distrito Federal, que é uma área planejada, já enfrenta desafios
enormes, imagine o restante do país. É um esforço gigantesco, que exige uma
regulação estruturada, forte, coerente, mas que também precisa contar com o
apoio essencial dos governos federal, estaduais e, principalmente, municipais —
que são os titulares do serviço, salvo no caso do DF”, concluiu.
Além dos
painéis sobre resíduos sólidos e drenagem urbana, o dia também foi marcado por
discussões sobre os desafios econômicos que afetam diretamente a
sustentabilidade do setor, como os impactos da reforma tributária e da Lei
14.898/2024 sobre a estrutura tarifária.
Diante
desse cenário, o superintendente de Estudos Econômicos e Fiscalização
Financeira da Adasa, Cássio Cossenzo, foi o responsável por conduzir o painel
que tratou da reforma tributária e das notas fiscais de água e esgoto.
Durante a
apresentação, Cossenzo alertou para os múltiplos fatores que podem pressionar a
estrutura tarifária do setor de saneamento. “Estamos em 2025 e o nosso marco
legal fala em universalizar até 2033; dependendo da quantidade de investimentos
a serem realizados, é possível que haja um impacto tarifário”, afirmou. Ele
destacou ainda que soluções alternativas mal regulamentadas, podem transferir
obrigações ao prestador e gerar impactos indiretos nas tarifas dos demais
usuários.
O
superintendente também abordou uma mudança prática e iminente decorrente da
reforma tributária: a substituição das faturas por notas fiscais de água e
esgoto a partir de 2026. “Agora não teremos mais fatura de água e esgoto,
teremos nota fiscal de água e esgoto, e todos os prestadores deverão se
ajustar. Isso até janeiro do ano que vem”, explicou.
Ele
reforçou a importância de que os reguladores acompanhem as discussões técnicas
conduzidas pelo Encontro Nacional de Coordenadores e Administradores
Tributários Estaduais (ENCAT) e compartilhem as orientações com os prestadores,
de modo a garantir o alinhamento com as novas exigências fiscais.
As
atividades seguem até sexta-feira, reunindo também as Câmaras Técnicas de
Energia, Transporte, Mobilidade Urbana, Gás Canalizado, Comunicação,
Ouvidorias, Mediação e Arbitragem, além de encontros temáticos que tratam dos
desafios transversais da regulação no país.
Fonte: Ascom Adasa ( texto e fotos)
Nenhum comentário
Postar um comentário