Direitos LGBT+: quando os preconceitos se encontram
Direitos LGBT+: quando os preconceitos se encontram
Ao
PodEnvelhecer, Marcos Tavares Venisson, fundador e presidente da Casa Rosa fala
sobre as dificuldades enfrentadas por quem chega aos 60 com uma história de
vida já cheia de limitações
A
instituição funciona em Sobradinho e oferece suportes diversos a esse público
mais vulnerável - (crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)
O
envelhecimento tende a ser ainda mais desafiador para a comunidade LGBTQIAPN+.
Serviços de saúde limitados, abandono da família e mercado de trabalho restrito
estão entre as dificuldades enfrentadas por quem chega aos 60 com uma história
de vida já cheia de limitações, segundo Marcos Tavares Venisson, fundador e
presidente da Casa Rosa.
A
instituição funciona em Sobradinho e oferece suportes diversos a esse público
mais vulnerável. Prestes a completar 60 anos, Marcos compartilha com os
assistidos os desafios do envelhecimento e os relata no novo episódio do
PodEnvelhecer. Confira trechos da entrevista concedida às jornalistas Carmen
Souza e Sibele Negromonte.
Resistência
O
envelhecimento é um desafio ainda maior para a população LGBT. Por isso,
imagino que foi o tema da tradicional parada gay em São Paulo deste ano. Nosso
maior desafio é o preconceito. Isso não tem idade, mas, no envelhecimento, se
torna um desafio maior. Uma geração nova pode estar ativamente levantando o
movimento. E o idoso? Quem vai fazer por ele? Enfrentamos dois preconceitos: de
ser LGBT e de ser uma pessoa idosa.
Solidão
Essa é uma
das maiores dificuldades: envelhecer sozinho. Muitos já são separados dos seus
afetos familiares antes mesmo do envelhecimento, vêm buscando, resistindo,
tentando manter a qualidade de vida e, quando chega o momento de envelhecer,
cadê a família, cadê os amigos? Porque a gente enfrenta esse preconceito dentro
da própria comunidade LGBT. Depois de uma certa idade, você já começa a ser
olhado de forma diferente, ganha apelidos, porque o mundo LGBT segue um padrão:
você é maravilhoso enquanto não começam a surgir suas rugas.
Mercado
de trabalho
Profissionalmente,
já é difícil um idoso conseguir e manter seu trabalho. Um idoso LGBT tem que se
mostrar mais ativo ainda, porque tem um olhar discriminatório. Eu, por exemplo,
sou um artista que trabalha na arte do transformismo desde adolescente. Hoje,
percebo que já não cabe mais usar determinada altura de salto. O corpo
envelhece e, artisticamente, também perde-se um pouco essa questão do trabalho.
Corpo
padrão
A gente
percebe que os números de show diminuem, as casas de show querem contratar
pessoas que sejam mais jovens, porque, infelizmente, ainda existe isso de
corpos padrões, que se enquadram dentro do que a sociedade quer. E o que o meio
LGBT quer? Pessoas com corpos bonitos e que tenham um bom movimento, porque o
trabalho do artista é movimento no palco. E aí chegamos a uma determinada
idade, a partir dos 50 anos, 55, 60, e começamos a modificar o nicho do show,
já não faz aquela performance toda com o corpo, faz trabalhos com voz, piadas e
vai para o lado do humor.
Casa Rosa
A Casa Rosa
é um espaço criado para dar uma atenção à população LGBT adulta. Nós tivemos
uma demanda de pessoas adultas, entre 20 e 30 anos, lá no começo, mas, depois,
vimos surgir pessoas de 40, 50 e 60 anos. Estamos pensando em abrir mais para
esse campo, porque temos percebido essa grande dificuldade, que só comecei a
perceber quando também envelheci. Estamos pensando em ter um espaço de
acolhimento de pessoas idosas.
Políticas
públicas
Nós não
queremos tratamento diferente, mas que existam políticas públicas que acolham,
abracem essa população que vem envelhecendo. A gente vê um descaso grande da
sociedade, do Estado. Quando envelhecemos, parece que perdemos ainda mais nosso
valor, nossa existência. A criação de asilos é um caminho, a criação de outros
espaços que acolham, que cuidem, que tragam qualidade de vida, voltados para a
população LGBT, também.
Saúde
Na Casa
Rosa, há uma grande demanda por saúde mental. Nós não temos recursos humanos
para atender com qualidade essas pessoas. Às vezes, nos falta um psicólogo, um
pedagogo, um psiquiatra. Pensando na questão do LGBT idoso, temos justamente
que montar uma equipe multidisciplinar para poder atender essa demanda, porque
o envelhecimento fala sobre tudo: sobre a questão alimentar, emocional, mental,
física. Nós temos que preparar um espaço adequado, com acessibilidade, que
garanta ao idoso essa segurança. Queremos projetar isso com o máximo de
urgência até 2026.
Fonte: Por
Carmen Souza e Sibele Negromonte/Correio Braziliense - (crédito da foto: Paulo
Pinto/Agência Brasil)
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