Entre araras e alambique premiado, sítio no DF presencia ataques inéditos de onças
Entre araras e alambique premiado, sítio no DF presencia ataques inéditos de onças
O ataque a cinco animais em dois sítios na Serra da Catingueira mobiliza fiscais do Ibama e policiais militares do Batalhão Ambiental. A suspeita é de que dois felinos, um adulto e um filhote, estão rondando a região
Propriedade rural na Fercal que sofreu ataque de onça aos animais. Vaca e bezerro recém nascido morreram. - (crédito: Fotos: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Grande,
bonito e cheio de vida, um sítio equivalente a 46 campos de futebol, na Serra
da Catingueira, na Fercal, trocou a tranquilidade da paisagem, o voo das araras e a calmaria
do pasto pela preocupação com a visita inesperada e
nunca antes registrada na região, de duas onças-pintadas. Em seis dias, cinco
animais — quatro bezerros e uma vaca adulta — teriam sido atacados pelos
felinos, uma onça preta adulta e uma pintada jovem, segundo uma testemunha.
A
propriedade Alambique Remedin existe há 13 anos e é cercada por uma extensa
área verde, com grotas e montanhas. Junto à criação e cuidado de bezerros,
vacas, galinhas e araras — graças a uma parceria com o Centro de Triagem de
Animais Silvestres do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Cetas/Ibama) —, um dos celeiros abriga o alambique de onde
sai a cachaça Remedin, considerada a melhor cachaça branca do país pela
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Os oito
trabalhadores encarregados pela produção da bebida mantêm os olhos e ouvidos
atentos para além da máquina de engenho de cana. Qualquer barulho na mata
pode ser sinal da presença das predadoras. A primeira aparição foi na
madrugada de quarta-feira passada. Às 4h, o caseiro acordou com o mugir dos
bezerros, correu ao curral e encontrou dois deles e uma vaca mortos.
Acionados,
os fiscais do Ibama orientaram os donos a deixarem as carcaças no mesmo lugar e
instalaram câmeras de monitoramento em pontos estratégicos para tentar flagrar
novas aparições dos felinos. João Chaves, 24 anos, produtor de cachaça e um dos
proprietários, explica que nunca houve situação semelhante na região, tampouco
relatos de vizinhos.
Retorno
Ontem, às
6h, o caseiro ouviu, novamente, mugidos. Dessa vez, correu ao curral e, em
tempo, avistou duas onças, uma adulta e outra menor, que
sumiram rapidamente em meio às grotas. Próximo ao curral, mais um bezerro
morto. Na sexta-feira, outro bezerro foi localizado sem vida, mas em uma
propriedade vizinha. João ressalta, com base nas informações repassadas pelo
Ibama, que o horário de aparição seria no fim da madrugada e começo da manhã.
"Por causa do calor, elas se escondem."
O produtor
explica a presença dos felinos. "As onças se estabilizaram aqui,
possivelmente, porque seria o local de passagem delas." A forma como os
bezerros e a vaca foram mortos reforça a suspeita de dois animais. Um dos
bezerros, recém-nascido, foi completamente devorado, enquanto os outros
apresentavam apenas mordidas em pontos específicos. Os ataques mais
superficiais seriam obra da onça mais jovem, ainda em aprendizado de caça. Já o
felino adulto revelaria a estratégia típica de abate.
Ontem,
fiscais do Ibama retornaram ao sítio. Eles remanejaram as sete câmeras em
áreas-chave e flagraram, na terra, uma suposta pegada da onça. Os agentes
retornarão à propriedade hoje, com representantes do Instituto Brasília
Ambiental (Ibram) e do Batalhão de Polícia Militar Ambiental do (BPMA/DF).
Juntas, as equipes montarão uma força-tarefa.
Em nota
enviada ao Correio, o Ibama esclareceu que os órgãos se dedicarão ao
rastreamento dos animais. Serão avaliadas as pegadas encontradas até o momento
e instaladas mais câmeras, acionadas por sensores de movimento, em uma área
maior, a fim de identificar quais animais andam na região. "Além disso,
serão repassadas orientações aos residentes locais a respeito do manejo dos
animais que se encontram nas propriedades rurais, com o intuito de evitar que
outros possam se tornar presas desses predadores. A ideia é que, sem presas à
disposição, esses animais deixem a região naturalmente", informou o
órgão.
João Chaves
afirma estar apreensivo. "É uma angústia . Na noite dos ataques, eu estava
aqui e ouvi também."
Alerta
Em caso de
avistamento de grandes felinos, o Ibama orienta alguns cuidados à população e
recomenda que as autoridades ambientais sejam comunicadas imediatamente.
Visualização
à distância/sem risco imediato
»Mantenha
distância (mínimo de 100 m, se possível). Não corra;
»Não se
aproxime (em hipótese alguma) para fotografar ou filmar;
»Estimule
outras pessoas a se afastarem calmamente;
»Não fique
de costas para o animal e tente fazer bastante barulho;
»Comunique
imediatamente as autoridades, indicando local, horário, se possível GPS e
comportamento do animal.
Encontro
próximo (menos de 30 metros)
»Mantenha-se
calmo e não corra;
»Fique em
pé, mostre-se grande e faça barulhos firmes (falar alto, bater palma);
»Recolha
crianças pequenas ao colo e agrupe pessoas;
»Afaste-se
lentamente, sempre de frente para a onça, sem fazer movimentos bruscos.
Encontro
próximo com indicação de ataque (animal abaixado, com patas flexionadas, olhar
fixo na pessoa e ponta de rabo batendo com constância)
»Não vire
as costas e não corra;
»Busque abrigo
em local protegido imediatamente (dentro da casa, veículo, comércio);
»Continue
fazendo barulho intenso se não conseguir abrigo imediato;
»Jamais
tente enfrentar ou cercar o animal.
Em todos os
casos, comunique imediatamente as autoridades, indicando local, horário,
se possível GPS e comportamento do animal.
Telefones:
»Polícia
Militar Ambiental (190)
»Batalhão
Ambiental (3190-5190)
»Linha
Verde do Ibama (0800-618080)
Fonte: Darcianne Diogo / Correio Braziliense – Fotos: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF
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