EDUCAÇÃO: ESCOLA PARTICULAR EM SOBRADINHO DESENVOLVE PARCERIA COM ALUNOS PARA DESCONECTAR O CELULAR EM SALAS DE AULA. É O "BE OFF " DENTRO DO IESE.- INSTITUTO EDUCACIONAL SANTO ELIAS
*Emicles Nogueira Nobre Junior
Poderíamos
começar esse texto fazendo uma brincadeira com a analogia traduzida do inglês
BE OFF; está fora, está desligado. Bom, acho que tem um pouco haver até pelo
simples fato de que essa é uma iniciativa sem imposição da linha de comando da
escola em desconectar o celular em sala de aula. Be Off brotou dos ávidos alunos do 3º ano do colégio IESE que encamparam junto com os professores
e a direção esse novo desafio.
Hoje em dia,
ter um celular não é apenas um privilégio de adultos. Crianças e adolescentes
já carregam seus celulares para cima e para baixo e são um público exigente.
Querem equipamentos modernos e acessórios diversificados.
No IESE,
mais de 90% dos estudantes do Ensino Fundamental e Ensino Médio possuem
aparelhos de celular. Um dos grandes problemas desses aparelhos nas mãos das
crianças e jovens é a distração em sala de aula. O acesso fácil à internet e a
jogos é uma tentação para os estudantes e um desafio para os professores.
Para
orientar os alunos sobre a importância de deixar o celular desligado e dentro
da mochila durante as aulas, o Grupo BE OFF representado por colegas que são
também alunos do 3º ano tem realizado durante todo o mês de agosto, uma
campanha de conscientização em toda a escola com apresentações, folders,
bótons, adesivos e materiais informativos que fazem parte dessa campanha.
Durante uma
apresentação ocorrida nas dependências da escola, jovens alunos de várias
séries encenaram uma daquelas “aulas”, onde o celular dispara um alerta sonoro
muito conhecido entre os jovens. Chegou mensagem de texto. O professor olha
aborrecido para o dono do aparelho e pede que ele o desligue imediatamente. O
estudante ainda tenta ler as letras que aparecem na pequena tela, mas é
novamente censurado pelo professor: não há nada que incomode mais o mestre do
que celular em sala de aula.
Essa pode
ser uma cena muito comum na maior parte das escolas brasileiras, onde o uso do
aparelho celular é “proibido durante as aulas”. Mas a imagem parece que vai
mudar. Os alunos do IESE querem assumir de vez o compromisso em manter seus
telefones desligados e participarem mais das aulas e nos intervalos de momentos
interativos. Segundo eles mesmos, acreditam que hoje existe um distanciamento
pessoal em função das facilidades virtuais encontradas. Falta mais olho no olho, conversa e outras
atividades. É importante que o caderno e a caneta não possa ceder lugar a um
ambiente virtual totalmente conectado a um dispositivo móvel que os alunos tem
em mãos. A mudança na mentalidade dos alunos do IESE é certa; o prazo, já está
em vigor independentemente de leis aprovadas para coibir o uso do celular em
sala de aula.
(*) LEI QUE
PROÍBE USO DO CELULAR NA SALA DE AULA
Lei Nº
4.131/2008, do Distrito Federal.
A Câmara
Legislativa do Distrito Federal aprovou, em maio de 2008, uma lei que proíbe
alunos de usar celulares e aparelhos eletrônicos como MP3 players e videogames
em escolas públicas e privadas da Educação Básica. Está liberada a utilização
nos intervalos e horários de recreio, fora da sala de aula, cabendo ao
professor encaminhar à direção o aluno que descumprir a regra. O projeto de lei
que originou a norma diz que o uso do telefone pode desviar a atenção dos
alunos, possibilitar fraudes durante as avaliações e provocar conflitos entre
professores e alunos e alunos entre si, influenciando o rendimento escolar. Se
por um lado, a tecnologia serve de apoio às ações educacionais, por outro o seu
uso exacerbado se torna um empecilho. Há diferenças entre a discussão das
formas e dos modos de fazer uso de tecnologias em espaços coletivos e sua
exclusão. A escola tem o dever de humanizar e educar cidadãos, posicionando-se
por vezes no fio da navalha entre exercer a autoridade e ser autoritária. Não é
imprescindível criar uma lei para disciplinar o uso desses aparelhos nas
escolas, pois as determinações sobre essa questão podem constar do regimento
interno e do projeto político-pedagógico.
ENTREVISTANDO
ORGANIZADORES E A DIREÇÃO:
JS - Como
surgiu a ideia?
Prof.ª Suzanna
/ Literatura e Redação e umas das idealizadoras do projeto – O Be Off surgiu
basicamente em conselho de classe, é aquele momento em que reunimos pra ver as
notas e todos começaram a reclamar sobre o uso excessivo do celular em sala de
aula, daí um dos nossos professores, o Luciano - professor de geografia, tinha
que fazer uma campanha educativa ou proibir, só que não estava resolvendo,
pensamos a partir daí em alternativas e propomos pros meninos uma campanha
educativa relativa ao uso do celular. Quando eu entrei em sala de aula e
comecei a falar com os meninos sobre isso, eles gostaram da ideia. A gente
primeiro quis mostrar pra eles como estão totalmente dependentes do celular,
então a gente realizou várias representações, eu os imitei em sala, uma coisa
meio teatral, “olha como vocês estão no intervalo: aí eu os imitava, senti que
eles ficaram constrangidos de verem como realmente eles estão viciados em
celular”, eles se empolgaram com o projeto e delegamos responsabilidades a eles
de levar o projeto ao terceiro ano do ensino médio, pois são os que mais usam
os celulares em sala de aula. Então eles
abraçaram a causa, criaram o nome, logotipo e o slogan e abraçaram mesmo essa
causa, e é por isso que eu tenho a esperança que pode dar certo.
JS- Como
está a dispersão em conselho de classe?
Prof.ª Suzanna:
Em conselho de classe viram a necessidade de fazer algo, pois as notas estavam
caindo, os meninos dispersos em sala, você chama a atenção deles várias vezes e
eles retomam o celular em sala, mesmo a gente chamando a atenção, já está num
nível de esquizofrenia “guarda o celular, não estou mexendo no celular não
professora”.
JS- Mas nada
era proibitivo?
Prof.ª Suzanna:
Nada proibitivo, por exemplo: desde o dia da primeira apresentação do projeto BE
OFF a gente pediu pra que ninguém viesse com celular, pois era uma manhã off,
mas se alguém viesse com celular tinha alguns espiões no meio deles tirando
fotos das pessoas com celular que deveriam ser publicadas na nossa página das
redes sociais e ficamos felizes em não ter esse tipo de foto publicada. Criamos uma página no facebook, a gente não
quer que eles parem de usar a internet e as redes sociais, a gente só quer que
eles usem no momento certo, então o nome da nossa página é “IESE conectados com
moderação” eles vão estar conectados não vamos negar à tecnologia a
modernidade, mas vamos usar pro bem, então é uma página na internet e um pedido
pra que eles fiquem off em sala de aula.
JS - E os
alunos do 3º ano, o que acham da iniciativa BE OFF?
Alunos - Nós
achamos a iniciativa válida, vai render bons frutos, primeiramente porque está
partindo de nós juntamente com a professora, não é nada imposto, “muitos jovens
hoje em dia tem em mente que se é impositivo não vou fazer parte, eu quero ser
diferente, eu quero ir contra aquilo que estão querendo me obrigar a fazer”
esse é um projeto que a gente fala e temos consciência do que está acontecendo
dentro da sala de aula; sabemos que existem alguns colegas que estão mexendo
nos celulares às vezes por falta de autocontrole” agora não, a gente tendo esse
incentivo da escola, e um colega incentivando e orientado o outro o rendimento
nos conteúdo e notas finais serão diferentes.
JS- E quando
o pai quiser monitorar vocês, pra saber se estão em salas de aula, como que
vocês vão lidar com isso?
Alunos - A
direção tem um projeto de conversar com os pais pra ter essa conscientização,
porque os pais já disponibilizam do número do telefone da escola e do número de
alguns dos funcionários, se quiserem falar com a gente e o assunto for urgente,
fala com os funcionários ou liga para escola.
A gente pensou nessa parte dos pais serem conscientes, pois tem muitos
colegas que falam que é o pai que está ligando, daí o professor vai falar o
que? Que não pode atender? Uns usam essa desculpa pra mexerem também em
outras coisas como redes sociais, a partir da conscientização dos pais com o
aluno do IESE será uma verdadeira troca; um ajuda o outro e a união faz a
força.
JS- O que
vocês querem fazer além do projeto BE OFF de dar um tempo com os celulares em
salas de aula, algum programa diferenciado para interagir com os colegas? Alguma
brincadeira ou algum projeto de reuniões extraclasses?
Alunos - Sim
a partir de hoje na hora do intervalo até o meio vão ter várias atividades; a
gente vai brincar com as crianças, aquelas brincadeiras de pequeno, jogar
ping-pong, jogar bola na quadra, pular corda, reuniões sadias, por exemplo:
bateu o horário ao invés de ir mexer no celular, vamos marcar de nos
encontrarmos, se vê mais, enfim, encontrar e se reunir e reaproximar as
pessoas, pois o celular é uma barreira, uma pessoa vê você com o celular na mão
vai se aproximar mais não vai poder conversar com você, então é isso, queremos
aproximar as relações, conversar, brincar e interagir.
JS- Qual o nome de vocês e o que gostariam de dizer sobre o BE OFF?
Alunos:
Luiz, Diego, Flávio e Igor – gostaríamos também de falar que foi uma iniciativa
muito boa da professora Suzana, pois a gente tem a consciência de que os alunos
estão usando muito celular em sala de aula, só que ela expôs pra gente através
de sua encenação teatral o quão ridículo é essa situação e a tamanha falta de
respeito com o professor e com os colegas também, e achamos que foi isso fez
com que ela ganhasse nosso apoio nessa campanha, é realmente uma situação
ridícula, achamos que agente não precisa suprir a falta de celular mais voltar
à normalidade porque não é normal cada um sair para o intervalo e se isolar,
isolar no meio de todo mundo só que sem trocar nenhum tipo de conversa
pessoalmente, agente tem que voltar para a normalidade.
“Eu também
gostaria de dividir com outras escolas que é possível desde que parta deles,
porque a imposição nunca resolveu nada, eu mesmo no início do conselho de
classe disse: vamos colocar detectores de metal nas portas, vamos perseguir e
fazer caça as bruxas e alguns professores concordaram comigo mais graças a Deus
houve luz aonde um professor falou, não é assim, é campanha educativa que vai
resolver e eu concordo com o que os alunos disseram; A gente não teria o apoio
deles se fosse algo forçado. Eles pagaram pelas nossas camisetas, eles estão
acreditando na causa, eles trabalharam duros, então, quando agente envolve toda
a comunidade escolar e quando os professores acreditam em uma causa o projeto
só pode dar certo!” - Declara professora Suzana / Literatura e redação IESE.
DEPOIMENTO
Uma só manhã
pode ser o resultado de trabalho dedicado e bem-intencionado, e esse foi o
panorama do movimento que nós, alunos do terceiro ano do Santo Elias,
desenvolvemos com boa vontade e sorrisos esporádicos.
A campanha
intitulada “Be Off” consiste em despertar a consciência de alunos sobre uso de
aparelhos eletrônicos em sala de aula; mas, além disso, avalia sobre o “vício”,
principalmente em celulares, que é muito comum dentro da sociedade
contemporânea, com força maior entre jovens estudantes.
Algumas
horas ensolaradas e com ânimos impulsionados de uma sexta-feira foram tomadas
de energia contagiante e arrebatadora, projetada em apresentações teatrais,
musicais, e todas as outras coisas que uma manhã festiva pode encaixar em seu
espaço. Tudo isso trabalhado e metalizado por nós e pela professora Suzanna, idealizadora
do projeto.
Foi uma
imensa satisfação trabalhar junto com ela e ter o apoio da instituição, uma vez
que é de interesse coletivo e traz boa recordação aos que seguirão esse fim de
ensino médio.
(*) Matheus
Maciel Silva do 3º ano - IESE
JS - E o que
a direção acha desse projeto? Pretende dar sequência?
“Nossa, eu
acho que é uma sementinha que o terceiro ano deixa na escola e que vai
frutificar”. Tenho certeza que toda a escola olha nesse momento para o terceiro
ano, todo mundo quer ser daquele jeito ali, então, eu penso que com uma ideia
dessas e uma iniciativa de conscientização iremos mobilizar toda escola e os
meninos vão continuar aqui sempre como aqueles mentores dessa ideia
interessante. Sim pretendemos dar sequência...
Por Emicles Nogueira Nobre Júnior/ JS e Fotos: Adriana Lima/JS
Um comentário
a ver*
Bom texto!
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