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LAR SÃO JOSÉ: Idosos deverão ser transferidos de abrigo por irregularidades



Eneida Queiroz, 77 anos: "Aqui nos tratam bem. Não existe razão para fechar (o lar)"

*Ariadne Sakkis

Abrigo não pode receber idosos até que se adapte às exigências sanitárias A administração do local garante que está promovendo melhorias, que são acompanhadas pelo Ministério Público

O abrigo Lar São José, em Sobradinho, pode ter que transferir os 50 idosos que vivem na instituição, caso não se adapte às exigências da Vigilância Sanitária. No dia 3 último, o órgão constatou irregularidades no funcionamento do lar. A principal delas era a ausência de cuidadores. Até que a situação seja resolvida, a entidade, conveniada da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do DF (Sedest), não pode receber mais nenhum idoso.

A administradora do lar, Ivone Menezes, afirma que a interdição foi uma surpresa e que o São José cumpre com as normas. “Temos cuidadores suficientes. O que houve foi uma insatisfação dos servidores com a mudança na escala”, justifica. Antigamente, os funcionários tinham uma escala de 12 X 36 horas de descanso, mas a carga horária foi reduzida para que trabalhassem todos os dias. Segundo Ivone Menezes, a instituição contratou mais seis profissionais e agora dispõe de 12 cuidadores. Um médico voluntário visita o local semanalmente para examinar e prescrever medicamentos.

Problemas com a lavanderia foram observados pela Vigilância Sanitária. “No momento da inspeção, não souberam ligar a máquina. Nunca houve problemas com a calandra (equipamento que submete as roupas a intenso calor para completar o processo de desinfecção). Ficamos desolados com essa decisão de interditar porque fazemos um trabalho muito sério aqui”, lamenta Ivone Menezes.

Maria das Mercês, 88 anos, mora há 26 no Lar São José. Para ela, é preciso “consertar o que está torto” no abrigo, mas ela não concorda com o fechamento do lugar. “Não acho nada engraçado quererem fechar (o lar). Esse é o melhor abrigo que conheço.” A freira Eneida Queiroz, 77 anos, concorda. “Aqui nos tratam bem. Poderia ter ido morar com meu irmão, mas optei por ficar aqui. Não existe razão para fechar”, diz.

Medidas emergenciais
Segundo Tânia Heli, coordenadora do Programa de Vigilância Sanitária para Atenção ao Idoso, o Lar São José tem tomado as medidas emergenciais para sanar a crise, mas está sendo monitorado de perto. Somente novas inspeções poderão determinar a suspensão do auto de interdição. “Precisamos, antes de qualquer coisa, pensar que os idosos precisam de cuidados básicos. Muitos são completamente dependentes dos cuidadores para alimentação e higiene. Felizmente, estamos sabendo que a instituição está tomando as providências”, comentou.

A 2ª Promotoria de Defesa do Direito da Pessoa Idosa e com Deficiência (Prodide) acompanha a situação e já requereu a relação dos idosos que estão no local. Se preciso for, o Ministério Público do DF e Territórios coordenará a transferência dos moradores para suas famílias ou outros abrigos. A titular da promotoria, Sandra Julião, adianta, porém, que não há vagas na rede pública. “A assistência social do DF está deixando muito a desejar porque não há investimento. Existe uma falta de vontade política. O valor que se paga para um adolescente infrator é infinitamente superior ao que se paga ao idoso dependente. O próprio governo não tem nenhum abrigo próprio. Só assiste por meio de convênios. Apesar disso, era uma situação gravíssima antes do Estatuto do Idoso”, afirma.

O Lar São José recebe menos de R$ 7 por dia para cada idoso, resultando numa receita mensal de cerca de R$ 10 mil. Tanto o MP quanto a Vigilância Sanitária alegam que a instituição é alvo de reclamações e infrações recorrentes, algumas de anos, portanto esperam que o abrigo realize melhorias tanto estruturais quanto de gestão.

Por Ariadne Sakkis/correio braziliense

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