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Chupa-cabra


*Joel Pires

Há coisas que nos pegam de surpresa em nosso dia a dia e que, não fosse o registro de tais fatos, ninguém acreditaria. Ontem lia o jornal, pela manhã, quando o alto-falante anunciou: “não percam hoje o ex-presidiário, ex-macumbeiro, ex-bruxo, feiticeiro, comedor de cachorro – o locutor esqueceu-se de botar e ex – e o rol de atributos era desfiado exaustivamente. O carro profético não se contentava em passar só uma vez não! Insistia na apresentação da besta que se convertera.

O almoço se aproximava quando o arauto da conversão de belzebu disparou mais uma façanha do tinhoso: “O herege bebia sangue de menstruação, ele e sua mulher”, não se contentando o anunciante. Fiquei pensando nos predicados do referido pastor e em sua história de vida... que trajetória linda! Nesse momento, já não tinha mais fome. A imagem daquele ser aqui em nossa cidade – pacata, diante de tamanha aberração! – me deixou impressionado. Confesso que rezei o Pai Nosso! Tamanha foi a perturbação. Pensei nos cachorros, na mulher... Ah, ia me esquecendo, ainda dizia-se devorador de bode e de galinha, mas até aí tudo bem!

Sei que o relato é de fazer inveja a qualquer Chupa-cabra. Trancado em casa, de vigília, estremeci quando a voz das trevas voltou ao entardecer. Dizia que a referida criatura já estava em solo brasiliense. Maldito solo, pensei! Vai chover fogo e enxofre. Não saio de casa hoje nem morto! Já pedi a pizza. Valha-me Deus! Comedor de cabeça de galinha viva, chupador de sangue uterino... Se uma figura dessas entrar no céu, eu já tô salvo!

Por Joel Pires - Psicopedagogo, professor e colaborador o Jornal de Sobradinho

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